Concelho de Vila do Bispo. Percursos pelo seu património

Artur Jorge Vieira de Jesus

 Ricardo Miguel Simão Soares

Introdução

Desde a aurora da Humanidade que a região de Vila do Bispo foi escolhida como base de implantação de remotas comunidades que nestas extremas paisagens decidiram fixar-se, legando-nos, à guarda do tempo, numerosos e diversificados vestígios, verdadeiras provas materiais e definidos rastos culturais da sua longínqua presença.

Não será exagero afirmar que este território se revela como um genuíno “Museu vivo de História Natural e Humana”, com uma riqueza de apontamentos produzidos e perfeitamente arrumados pela Natureza e pelo Homem, numa arquitectura paisagística de referência: raros recortes geológicos da própria História da Terra, paleontológicos trilhos de dinossauros, copiosos e significativos vestígios arqueológicos de todas as épocas, desde o Paleolítico até à Idade Moderna, e históricos baluartes que perduram hoje como monumentais memórias de aventuras de Descobertas além-mar. No conjunto, um extraordinário legado do tempo, que importa preservar, valorizar e partilhar.

Um espaço com História

A relação entre Vila do Bispo e a História é um traço essencial do seu carácter, que deixou marcas um pouco por todo o seu território. Antigos povos e os seus vestígios, personalidades ilustres, ruínas, templos religiosos, vestígios do mundo agrário e da faina pesqueira.

O seu povoamento remonta aos tempos pré-históricos, onde as comunidades que aqui habitaram, deixaram vestígios no litoral oeste (os concheiros), bem como os conhecidos menires.

Para os Romanos (e outros povos oriundos do Mediterrâneo), tratou-se de um ponto de referência geográfico, de um espaço sagrado, de toda uma área ligada à exploração dos recursos do mar, nalguns pontos da costa.

Muçulmanos e comunidades cristãs partilharam experiências espirituais neste território…aqui ficava a mítica Igreja do Corvo e aqui foi sepultado o mártir Vicente, Santo que se tornou numa referência em toda esta área.

A conquista cristã (1249), com D. Afonso III e os cavaleiros de Santiago integraram o Algarve nos domínios do Reino Português e, também, obviamente, as terras do Barlavento. Depois, da parte da Coroa, o povoamento e o aproveitamento das terras terão sido importantes prioridades. Assim, não é de estranhar que, nos Séculos XIII e XIV (nos reinados de D. Dinis, D. Afonso IV e D. Fernando, o Formoso), a documentação régia mencionasse já a existência de localidades como Budens, Raposeira e Figueira (ainda hoje existentes, sendo duas delas sede das respectivas freguesias).

Toda a dinâmica que referimos, foi acentuada, nesses tempos e, posteriormente, com a construção de estruturas religiosas, e de vigilância e defesa costeira (igrejas, ermidas, atalaias e fortificações). Nessa dinâmica não podemos esquecer, também, as acções, na primeira pessoa, de homens poderosos, como o Infante D. Henrique, que, entre outras realizações criou um novo local onde congregou pessoas de origens diversas, a partir do momento em que recebeu da Coroa a zona do Cabo de São Vicente e todo o território em seu redor, no espaço de uma légua, a 27 de Outubro de 1443. Sagres foi, sem dúvida, uma das obras que, a par com o movimento impulsionador das navegações protagonizadas pelos Portugueses, durante grande parte do Século XV, nos foi legada por este importante Príncipe da Dinastia de Avis, inaugurada por seu pai, o Rei D. João I.

O território ganhou, então, três grandes valências (políticas, sociais e económicas): a estratégica, a agrícola e a piscatória. Foram estes, sem dúvida, os três grandes eixos sobre os quais os seus habitantes, homens da Igreja e das Armas gravitaram durante séculos…até que se impôs a actividade turística.1

1662: o nascimento de um Concelho

Nos inícios do Séc. XVI a área correspondente ao Cabo de São Vicente pertencia a um Bispo de Silves, D. Fernando Coutinho. Aí manteve uma residência e uma tapada de caça. Durante uma visita do Rei D. Manuel I a esta zona do Algarve, o Prelado colocou à disposição do Soberano as suas terras. Como forma de agradecimento, D. Manuel fez doação da aldeia de Santa Maria do Cabo (cujas origens remontam, provavelmente, à medievalidade) a D. Fernando Coutinho, a título pessoal. A partir desse momento, esta antiga aldeia passou a ser conhecida pela designação de Aldeia do Bispo.

D. Fernando Coutinho, apesar do seu elevado estatuto na hierarquia da Igreja, teve um envolvimento amoroso, do qual nasceu uma filha, D. Isabel da Silva, para quem adquiriu algumas propriedades e que foi a sua descendente, depois de falecer em 1538, na localidade de Ferragudo.

Depois do movimento da Restauração da Independência Portuguesa, liderado pelo Duque de Bragança, a 1 de Dezembro de 1640, um dos seus apoiantes, o 2.º Conde de São Lourenço, Martim Afonso de Melo, pediu ao Rei D. Afonso VI, corria o ano de 1662, que lhe fosse concedida, tendo em consideração os seus feitos militares e cargos de governação exercidos, a Aldeia do Bispo. Importa referir que Martim Afonso de Melo era senhor de Sagres e casado com D. Madalena da Silva, descendente do Bispo Coutinho.

Após um processo que envolveu uma disputa legal com o Concelho de Lagos (a cuja jurisdição pertencia a localidade), o Monarca foi sensível ao pedido do fidalgo e concedeu-lhe a localidade, com a condição de que aquele a elevasse a Vila, com jurisdição própria. Assim nasceu, por alvará régio de 26 de Agosto de 1662, o Concelho de Vila do Bispo. Contudo, a localidade deixou de ser um domínio senhorial dez anos depois, devido a abusos por parte do fidalgo, passando para a posse da Coroa.

O Concelho de Vila do Bispo veio a ser, séculos mais tarde, durante a 2.ª metade do Séc. XIX, extinto nos reinados de D. Pedro V e de D. Carlos I (durante curtos períodos de tempo), por razões que se prenderam com reformas administrativas e pareceres de comissões governamentais. Saliente-se que, neste processo, em 1861, a freguesia da Bordeira deixou de pertencer a Vila do Bispo (a que pertencia) e foi integrada, definitivamente, no Concelho de Aljezur.2

1Brochura temática “À Descoberta da História – Projeto O Centro das Descobertas”, conceção de Samuel Nunes Design, texto de Artur de Jesus, edição do Município de Vila do Bispo.

 

2Idem.

A Freguesia de Barão de São Miguel

Barão de São Miguel é a única freguesia interior do Município de Vila do Bispo, mas nem por isso a de menor interesse. Se o seu nome tem algo de enigmático, a localidade existe, pelo menos, desde o Século XVI3. Na verdade, a presença humana nesta área administrativa encontra-se documentada, do ponto de vista arqueológico, desde o Neolítico, com diversas manifestações de ocupação, enquadráveis em todas as épocas subsequentes.

Apesar de um passado aparentemente singelo, que nem mesmo alguns dos momentos mais importantes na vida portuguesa a deixaram à margem. Por exemplo, em pleno período da Guerra Civil (1832-34), por aqui passou o célebre guerrilheiro algarvio, partidário do Rei D. Miguel, José Joaquim Sousa Reis, mais conhecido por Remexido, como nos recorda a memória local.

Assente num suave declive e envolvida numa típica paisagem rural (onde outrora se produziu bom trigo, legumes, figos e esparto4) cortada por uma ribeira, as suas ruas escondem curiosas surpresas em termos do seu trajecto, da arquitectura de algumas casas e de alguns pátios e becos que dela fazem parte e que merecem uma demorada visita (Figs. 1-3).

Fig. 1 - Barão de São Miguel, pormenor. Foto Artur de Jesus.

Fig. 2 - Barão de São Miguel, Beco do Alecrim. Foto Artur de Jesus.

 

Fig. 3 - Barão de São Miguel, vista da Ribeira dos Salões, ponte e casario. Foto Artur de Jesus.

O edifício mais notável é a sua Igreja Matriz, consagrada a São Miguel, Arcanjo, que se impõe no centro da localidade, pela sua situação, pela brancura e pela singeleza da sua fachada, cercada por um pequeno adro e rematada, a sul, por uma torre sineira, a que se pode subir pelo exterior. Foi construída, provavelmente, no Século XVI5, mas apresenta importantes valorizações de arte barroca, que lhederam um aspecto de maior imponência à sua simplicidade. Destacam-se, assim, o belo retábulo de talha setecentista, onde flores, folhas de videira e colunas torcidas convivem com dois pequenos anjos, emoldurando o elemento central do Altar-Mor: a imagem do Padroeiro, São Miguel, com as suas vestes marciais e a sua típica Balança – instrumento de avaliação comportamental das Almas, na doutrina cristã/católica (Fig. 4).

Fig. 4 - Igreja Matriz de Barão de São Miguel, pormenor da Torre Sineira. Foto Artur de Jesus.

Na paisagem desta freguesia é, ainda, possível observar alguns Fornos de Cal (muito perto do troço da Estrada Nacional 125), que serviram, em tempos idos, a Cidade de Lagos. No entanto, importa referir que os habitantes desta antiga cidade barlaventina também receberam destas terras muita lenha e carvão6.

Antes de seguirmos viagem, recomendamos:

  • Visita à igreja matriz;

  • Passeio pelas ruas, travessas, becos e pátios de Barão de São Miguel;

  • Visita ao Cemitério (próximo da localidade, na estrada que segue para a EN 125) – com interessantes elementos arquitectónicos e a sepultura/memorial do militar Joaquim António Conceição Silva, falecido em Angola, em 1966.

3Duas Descrições do Algarve do Século XVI”. In Cadernos da Revista de História Económica e Social – 3, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1983, p. 147.

 

4LOPES, João Baptista da Silva (1988) - Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, Vol. I da edição fac-similada editada pela Algarve em Foco – Editora, Faro, p. 224.

 

5GOMES, Mário Varela & TAVARES DA SILVA, Carlos (1987) - Levantamento Arqueológico do Algarve – Concelho de Vila do Bispo, Faro: Delegação Regional do Sul/Secretaria de Estado da Cultura, p. 36.

 

6João Baptista da Silva Lopes, op. cit., p. 224.

Freguesia de Budens

Budens é uma das maiores freguesias do Concelho, abrangendo as localidades de Burgau, Salema (destinos turísticos muito procurados), Vale de Boi, Budens e Figueira.

Burgau apresenta-se como uma localidade cujas referências históricas recuam até ao Século XVI7, mas que, efectivamente, desde a Antiguidade se encontra voltada para o Mar. A pesca e a produção de sal foram indirectamente documentadas pela observação arqueológica, designadamente junto à Praia do Burgau, em tanques de salga de peixe de Época Romana (as “cetárias”). Hoje, junto à sua acolhedora praia, ainda é possível deparamo-nos com algumas embarcações tradicionais, um cabrestante (instrumento que puxava as embarcações para terra) e alguns experientes homens do mar, remendando as suas redes (Fig. 5).

Fig. 5 - Burgau – perspetiva da costa. Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

No topo da arriba, a nascente da praia (no cimo da “Rua da Fortaleza” e junto a uma moderna unidade hoteleira) podemos observar as ruínas do velho Forte, construído a partir de 1640 e que, após o Terramoto de 1755, deu lugar a uma Bateria, artilhada, para defesa da localidade e da sua enseada8. Este ponto, apesar de arruinado, proporciona uma vista extraordinária sobre um dos mais belos trechos da costa do Barlavento algarvio (Fig. 6).

Fig. 6 - Entre Burgau e a Boca do Rio. Foto Artur de Jesus.

Neste importante ponto turístico de Vila do Bispo, ainda subsistem alguns aspectos tradicionais, como: interessantes habitações e toda uma série de pequenas Ruas e curiosos Becos, espalhados pela encosta onde está implantada a localidade, alguns dos quais proporcionam uma excelente panorâmica sobre o mar e as falésias circundantes, como o Cerro da Canela e a Ponta de Almádena (a oeste).

Vale de Boi é uma aldeia implantada num fundo de vale, encaixada entre duas expressivas bancadas rochosas, bem visíveis à passagem na Estrada Nacional 125. Envolta num certo mistério, sabemos apenas que, na visita que efectuou ao Alentejo e Algarve, no longínquo ano de 1573, o Rei D. Sebastião por aqui passou9, sendo saudado pela população local, e que, durante o Século XVII, aqui foi erguida a Ermida de São Lourenço10 – templo pequeno mas interessante, voltado a ocidente e que apresenta uma curiosa pia lavrada em pedra e um notável painel de azulejos, onde está representada uma grelha, instrumento em que foi torturado e martirizado o seu padroeiro, perseguido pelas autoridades do antigo Império Romano.

A actual singeleza física de Vale de Boi não corresponde à efectiva imensidão da sua longevidade histórica. Na verdade, a mais remota e uma das mais significativas jazidas paleolíticas do sul de Portugal situa-se precisamente no nosso concelho, em Vale de Boi. Identificado em 1998, o abrigo de Vale de Boi foi desde então objecto de regulares campanhas arqueológicas, realizadas por equipas de arqueologia da Universidade do Algarve, coordenadas pelo Professor Nuno Bicho e contando com diversos patrocínios à investigação, nomeadamente do Instituto Português de Arqueologia, da Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Archaeological Institute of America e da National Geographic Society; e com variados estudos pluridisciplinares, envolvendo investigadores nacionais e estrangeiros, que têm vindo a partilhar os resultados dos seus trabalhos na forma de artigos, teses académicas e comunicações.

A investigação da jazida de Vale de Boi foi assim desvendando uma importantíssima sequência estratigráfica, com registos que remetem para uma praticamente contínua presença humana, entre o Paleolítico Superior e o Neolítico Antigo, mais precisamente, entre os 27.720 e os 6.000 anos antes do presente11, um período no qual se marca a mais antiga datação radiocarbónica sobre vestígios humanos do sul peninsular e onde se distingue os traços culturais das comunidades que nestas paragens protagonizaram a transição do Paleolítico para o Neolítico, ou seja, o Período Mesolítico. Tendo em conta que a estratigrafia arqueológica ainda não foi integralmente escavada, até à sua base geológica, a probabilidade de se vir a obter datações ainda mais antigas para este sítio torna-se bastante elevada (Figs. 7 e 8).

Fig. 7 - Abrigo de Vale de Boi. Foto Ricardo Soares.

Fig. 8 - Capela de São Lourenço. Foto Artur de Jesus.

Seguindo pela EN 125, chegamos, por fim, à sede da freguesia, a aldeia de Budens. Suavemente disposta numa encosta à sombra dos ventos de norte, o seu potencial histórico-arqueológico encontra-se reconhecido desde os finais do século XIX, particularmente pelo exemplar pioneiro da arqueologia algarvia, Sebastião Philippes Martins Estacio da Veiga: “A privilegiada situação d’esse actualmente pequeno povoado, foi reconhecida e aproveitada desde tempos prehistoricos e d’ahi em diante continuou sempre a ser logar de habitação”12.

Sabemos que o Rei D. Dinis autorizou João Cordeiro, um morador de Lagos, a colocar ameias numa Torre que o mesmo aqui tinha edificado, para proteger a povoação (1323)13. É apontada, também, por alguns cronistas, a possibilidade da localidade ter sido fortificada durante o período islâmico14. O que sabemos, contudo, é que na época dos Descobrimentos marítimos, empreendidos pelos Portugueses, no Século XV, alguns moradores e naturais de Budens fizeram parte das tripulações dos navios da expansão: foram os casos de Martim Lourenço, João Esteves e Vicente Esteves15.

Nesta aldeia tipicamente rural, o edifício mais notável é a sua Igreja Matriz, consagrada a São Sebastião e que terá sido construída durante o Século XVI16, mas que sofreu uma importante reconstrução, no reinado de D. José I, em 1762. Na fachada, destacam-se os instrumentos de martírio do padroeiro (as setas), bem como um belíssimo portal setecentista que merece uma atenta observação, tal como a sua interessante torre sineira. O interior é mais singelo. Destacam-se 2 curiosas pias manuelinas (Século XVI) e algumas imagens religiosas dos Séculos XVII, XVIII e XIX17 (Fig. 9).

Fig. 9 - Igreja Matriz de Budens – fachada. Foto Artur de Jesus.

Antes de deixarmos a localidade não deixemos de reparar nos interessantes elementos de arte funerária de fins do Século XIX e inícios do XX, existentes à entrada do Cemitério, nos jazigos ali existentes (de que destacamos o de António Viegas, com data de 1895), bem como nos memoriais de Henrique de Freitas (no ossário), Luís Viegas e Inácio de Jesus, militares falecidos nas campanhas ultramarinas da África Portuguesa (na década de 60).

Ao sair de Budens no sentido sul, cruzando a EN 125, abre-se um vale sulcado pela Ribeira de Budens. Serpenteando ao longo deste bucólico vale, torna-se inevitável reparar nas terras ainda agricultadas, nas suas resistentes arquitecturas rurais e engenhos agrícolas, sobretudo nas ainda numerosas noras, correndo-se mesmo o “risco” de sermos surpreendidos por alguns rebanhos ou manadas de gado caprino e bovino. O referido vale abre-se à vista do mar, num estuário que colecta a Ribeira de Budens, de Vale de Boi e de Vale Barão, desembocando numa pequena praia que dá nome ao lugar – a Boca do Rio (Fig. 10).

Fig. 10 - Entre Budens e a Boca do Rio, - pormenor de uma Nora. Foto Artur de Jesus.

No fértil vale e na acolhedora praia da Boca do Rio, no conjunto um dos mais interessantes locais do Município, e em tempos não muito distantes, trabalhou-se arduamente a terra e com o gado, cultivou-se o arroz, lavou-se a roupa, ia-se a banhos... etc. Na actualidade, além dos banhos e de algum residual pastoreio, restam algumas ruínas dessas memórias, dispersas entre dois imponentes cerros, o biodiversificado sapal/paul e o mar. Junto à pequena praia, “salta à vista” um edifício de apoio à pesca de armação, construído no Século XVIII pela extinta Real Companhia das Pescarias do Algarve, precisamente sob o Balneário de um precedente complexo industrial de Época Romana18.

E por falar em Romanos, volvidos 2000 anos, esta industriosa civilização legou-nos, aqui, importantes vestígios. Referimo-nos às ruínas de uma villa industrial dedicada à produção de produtos piscícolas (salgados e garum19), ainda hoje observáveis no areal, a poente da praia20, ou nos dois morros que balizam a praia e que apresentam, igualmente, vestígios de ocupações arqueológicas: a poente, o Morro dos Medos ou Lomba das Pias, onde aparentemente se situa a necrópole romana associada à villa piscícola; e a nascente, o Cerro de Almádena, onde se pode observar as ruínas do forte seiscentista de São Luís de Almádena, segundo a tradição histórica, edificado sobre um templo romano dedicado a Neptuno.

Há muito conhecido, este sítio foi objecto de uma primeira campanha arqueológica de escavação, ainda nos finais do Século XIX, mais precisamente em 1878, quando o nosso ilustre pioneiro Estacio da Veiga, com o artístico apoio de sua esposa, descreve as estruturas arqueológicas que observou21. Desde então, muitas campanhas se seguiram, concorrendo para o incremento do conhecimento deste importante sítio arqueológico.

Confiado pela Universidade do Algarve, o Centro de Interpretação de Vila do Bispo tem à sua guarda e em exposição um interessante conjunto de artefactos exumados nas escavações promovidas pelo departamento de arqueologia desta instituição de ensino nas ruínas Lusitano-Romanas da Boca do Rio. O visitante poderá assim, por via artefactual, vislumbrar e melhor compreender as actividades e a vida quotidiana destes nossos ilustres antepassados.

Relativamente ao património edificado, de referir, também, um conjunto de ruínas situadas sobre a margem esquerda da ribeira, na sua foz, junto à praia, que, segundo a tradição local, correspondem a um edifício religioso de Época Medieval, outrora dedicado a Santa Elisabete22.

Por fim, já nos limites orientais do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, e do ponto de vista natural e da biodiversidade, à várzea da Boca do Rio (mais correctamente, “o Paul da Lontreira”) ainda preserva um rico mas delicado ecossistema de zona húmida algarvia, genericamente equiparável à Ria Formosa e à Ria de Alvor, no qual se torna possível observar interessantes espécies de aves e de mamíferos, designadamente a lontra, que aqui e muito excepcionalmente se dedica a uma pesca combinada entre o sapal e o mar (Figs. 11 e 12).

Fig. 11 - Boca do Rio, vista geral. Foto Artur de Jesus.

 

Fig. 12 - Boca do Rio, Foz da Ribeira de Vale Barão. Foto Artur de Jesus.

Como já referido, no alto da arriba, a nascente do acolhedor areal, encontra-se edificada, desde 1632, uma das mais importantes fortificações desta costa: o Forte de São Luís de Almádena, que, no Século XVIII, chegou a estar artilhado com 3 canhões e guarnecido por 4 ou 6 soldados. Foi abandonado, militarmente, em 186123 (Fig. 13).

Fig. 13 - Zona costeira da Boca do Rio e Cabanas Velhas. Foto Artur de Jesus.

Salema é a localidade que se segue, a poente. Não conhecemos exactamente quando surgiu, mas sabemos, pela tradição local, que foram as gentes do mar, do Concelho e de fora, que a construíram, procurando lugar para trabalhar nas armações de pesca existentes nas imediações. Mas, se foi vivendo da pesca e da agricultura, em simultâneo, hoje é um ponto turístico por excelência.

Também por aqui os nossos antepassados Romanos se detiveram, reconhecendo nestas paragens um potencial económico e paisagístico, comprovado pelos seus vestígios habitacionais, funerários e industriais, designadamente tanques de salga de peixe (“cetárias”)24 (Fig. 14).

Fig. 14 - Forte de São Luís de Almádena. Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

Ao nível do património urbanístico, recomendamos a subida da Rua dos Pescadores, onde todas as pequenas travessas “desaguam” no mar; no entanto, na sua envolvente, a ruralidade impera, num “cerco” de amendoeiras, de figueiras, de vegetação rasteira e de vestígios de outros tempos, nomeadamente fornos, eiras e outras estruturas agrícolas (Fig. 15).

Fig. 15 - Praia da Salema. Foto Artur de Jesus.

Além do colorido das embarcações típicas e de um curioso ambiente local de pescadores, a Praia da Salema também esconde outras improváveis surpresas: dois importantes trilhos com cerca de 125 milhões de anos, formados por pegadas de dinossauros carnívoros (no caso da laje da Lomba das Pias, a nascente) e de um herbívoro (a poente, numa laje sob a arriba, oportunamente situada junto da Escola Primária da localidade) (Fig. 16).

Fig. 16 - Salema, detalhe dos campos circundantes. Foto Artur de Jesus.

Porém, é nas águas do mar, entre a Salema e a Boca do Rio, que estão mergulhadas memórias de uma das maiores batalhas navais da história, travada entre ingleses e franceses, em Agosto de 1759. Aqui foi afundado o navio-almirante da esquadra francesa, com 80 canhões, o imponente L'Océan25.

Figueira (cuja designação se reportará certamente à grande quantidade de árvores de fruto deste tipo existente na zona) é o nosso próximo ponto de paragem, rumo ao ocidente. Esta localidade, cujas origens históricas remontam à época medieval (uma vez que há referências à sua existência em 137426), apresenta uma paisagem marcadamente rural, cercada por cerros e pontuada por terras cultivadas e vários moinhos de vento (ou vestígios deles).

Do ponto de vista arqueológico, na localidade e imediações da Figueira, foram identificados numerosos, diversificados e significativos vestígios de remotas presenças humanas, desde o Mesolítico até à Época Moderna, destacando-se alguns menires, uma necrópole da Idade do Bronze, outras de Época Romana, “casais agrícolas” romanos e islâmicos, etc.

Hoje, valerá a pena percorrer as ruas da Figueira e observar algum casario típico, passar pela sua antiga Escola e seguir o caminho em direcção à Praia da Figueira, por entre uma paisagem de hortas encaixada num fundo de vale, dominado por bancadas calcárias, aqui e ali abertas por enigmáticas cavidades (Fig. 17).

Fig. 17 - Praia da Salema, aspeto da Laje com Pegadas de Dinossauros da Escola Primária. Foto Artur de Jesus.

Já no areal da praia onde desagua a ribeira que lhe dá nome, no alto da arriba, do lado nascente, sobressaem as ruínas do antigo Forte de Vera Cruz da Figueira, construído durante a época da Restauração (ou seja, depois do ano de 1640). Dispôs de duas baterias (uma alta e uma baixa) para a sua artilharia (4 canhões, em 1765) e, tal como aconteceu com quase todas as fortificações desta costa, foi perdendo valor militar após a Guerra Civil, de 1832-34. Chegou a ter uma guarnição composta por 1 oficial, 2 soldados de Infantaria e 2 de Artilharia (1792)27 (Fig. 18).

Fig. 18 - Figueira – pormenor de uma rua. Foto Artur de Jesus.

Junto à localidade, ocorreu a 4 de Maio de 1670, uma incursão de piratas norte-africanos, que tentaram saquear a localidade, mas que foram detidos no decorrer de um aguerrido combate travado (muito provavelmente) junto à Praia das Furnas, onde se distinguiram alguns locais, liderados pelo Capitão Afonso Telo28.

Nas imediações, existem dois pequenos areais, a Praia Santa (a poente da Salema) e a Foia do Carro (entre as praias da Figueira e das Furnas) onde, também, encontramos lajes que atestam a presença de dinossauros (Fig. 19).

Fig. 19 - Aspeto da costa entre as praias da Salema e das Furnas. Foto Artur de Jesus.

Recomendamos:

  • em BURGAU: descubra as ruas e curiosos becos da localidade, visite a praia (onde ainda laboram pescadores e se podem ver as suas embarcações) e as ruínas do Forte/Bateria;

  • em VALE DE BOI: capela de São Lourenço e a paisagem circundante à aldeia;

  • em BUDENS: Igreja Matriz, Rua da Casa do Povo, Praça da República e Rua das Areias de Cima;

  • BOCA DO RIO: ruínas lusitano-romanas (na praia) e Forte de São Luís de Almádena (topo da arriba, a leste);

  • SALEMA: Pegadas de Dinossauros, Passeio Marítimo (embarcações típicas de arte piscatória local), Rua dos Pescadores, Rua da Alegria (excelente miradouro), Estrada Joaquim Correia Lopes (no seguimento da Rua dos Pescadores) e Bairro da Encosta do Sol (miradouro);

  • FIGUEIRA: passeio pelas zonas da localidade (acima e sob o limite da estrada que a atravessa), visita às Praias da Figueira e Furnas.

7Duas Descrições do Algarve do Século XVI”, p. 147.

8FARRAIA, António Samuel Mirrado & FARRAIA, Maria da Conceição Sousa (1993) - Budens. Concelho de Vila do Bispo. Subsídios para a sua História, Faro: Algarve em Foco Editora, p. 67 e 68.

 

9LOUREIRO, Francisco de Sales (1984) - Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve, Lisboa: Livros Horizonte, p. 104.

 

10António Samuel Mirrado Farraia & Maria da Conceição Sousa Farraia, op.cit., p. 75.

11BICHO, N. (2004) – As comunidades humanas de caçadores-recolectores do Algarve Ocidental: perspectiva ecológica. In A. A. TAVARES; M. J. F. TAVARES & J. L. CARDOSO (eds.), Evolução geohistórica do litoral português e fenómenos correlativos. Geologia, História, Arqueologia e Climatologia, p. 359-396. Lisboa: Universidade Aberta; BICHO, N. F.; STINER, M. C.; LINDLY, J.; FERRING, C. R. &CORREIA, J. (2003) – Preliminary results from the Upper Paleolithic site of Vale Boi, Southwestern Portuga”. Journal of Iberian Archaeology, 5, p. 51-66; CARVALHO, A. F. (2008) – A Neolitização do Portugal Meridional. Os exemplos do Maciço Calcário Estremenho e do Algarve Ocidental. Promontoria Monográfica, 12. Faro: Universidade do Algarve, p. 190-195.

 

12VEIGA, E. da (1891) – Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. IV. Lisboa: Imprensa Nacional, p. 176.

13António e Maria da Conceição Farraia, op.cit., p.18.

14Duas descrições do Algarve do Século XVI”, p. 147.

15LOUREIRO, Rui (1989) - Lagos e os Descobrimentos – até 1460. Lagos: Câmara Municipal de Lagos, p. 108 e 110; António e Maria da Conceição Farraia, op.cit., p. 36.

 

16Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op. cit., p. 43.

17LAMEIRA, Francisco (1994) - Inventário Artístico do Algarve – A Talha e a Imaginária – Concelho de Vila do Bispo, Volume X. Faro: Direção Regional do Algarve da Secretaria de Estado da Cultura, p. 25-37.

18António e Maria da Conceição Farraia, op.cit., p. 31.

19O garum (ou liquamen) consistia num género de condimento (molho, pasta) romano, obtido da salmoura de moluscos e crustáceos marinhos, juntamente com uma selecção vísceras e sangue de peixes, designadamente de atum, cavala, etc. Muito apreciado em todo o Mundo Romano, depois de produzido, era acondicionado em ânforas e difundido por todo o Império.

20Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op. cit., p. 56-58.

21VEIGA, E. da (1887) – Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. II. Lisboa: Imprensa Nacional, p. 212-218; VEIGA, E. da (1910) – Antiguidades monumentaes do Algarve. Capitulo V, Tempos historicos. O Archeologo Português. Lisboa: Imprensa Nacional, 15, p. 209-233.

 

22António e Maria da Conceição Farraia, op. cit., p. 75.

23CALLIXTO, Carlos Pereira (1992) - História das Fortificações Marítimas da Praça de Guerra de Lagos. Lagos: Câmara Municipal de Lagos, p. 24-26.

 

24Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op. cit., p. 56.

25ALVES, Francisco J. S. (1990-1992) - O itinerário arqueológico subaquático do Océan. In O Arqueólogo Português, Volumes 8/10. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, p. 455-467.

 

26JESUS, Artur Vieira de (2005) - Vila do Bispo – uma viagem pela sua História. Vila do Bispo: Câmara Municipal de Vila do Bispo, p. 38 e 39.

27Carlos Pereira Callixto, op.cit., p. 19-21.

28JESUS, Artur Vieira de (2013) - Vila do Bispo – Lugar de Encontros (I). Vila do Bispo: Câmara Municipal de Vila do Bispo, p. 198 e 199.

Freguesia de Vila do Bispo e Raposeira

A Capela de Nossa Senhora de Guadalupe (Monumento Nacional) é um templo situado em parte do velho troço da Estrada Nacional 125 – entre as localidades de Figueira e Raposeira. Trata-se do mais antigo templo religioso existente no Concelho e um dos mais antigos de todo o Algarve (Fig. 20).

Fig. 20 - Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, perspetiva geral. Foto Ricardo Soares.

Construído em período indeterminado do Século XIV (possivelmente, durante o reinado de D. Fernando), e dedicado à Virgem de Guadalupe, foi, provavelmente, um dos locais frequentados pelo Infante D. Henrique e, com certeza, um ponto frequente de romagem por parte de vários navegadores que percorreram estas paragens na época das viagens marítimas dos Portugueses29.

É de particular interesse, não só pela robustez da sua construção, mas por alguns elementos decorativos que apresenta: o pórtico ogival, a rosácea, as curiosas e enigmáticas representações escultóricas dos capitéis e das pedras de remate da abóbada, sobre a Capela-Mor, tal como a localização no terreno do próprio edifício.

Refira-se, a título de curiosidade, que esta construção religiosa foi a única que resistiu, nesta zona, ao avassalador terramoto de 175530 e que constituiu, sempre, um importante local de culto e devoção espiritual para as gentes locais.

A ruralidade persiste enquanto elemento bem presente no ambiente da aldeia da Raposeira, designadamente nas suas ruas, travessas, fontes, poços e moinhos – um interessante conjunto a merecer visitação.

Em termos arquitectónicos, destaca-se a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Encarnação, cujas origens remontam ao Século XVI31, como atestam o magnífico portal principal, um pequeno portal lateral (no antigo cemitério) e o arco da Capela-Mor, de estilo manuelino e onde predominam os elementos vegetalistas e onduladas formas geométricas, bem como os belíssimos retábulos barrocos (Século XVIII), que enriquecem, decorativamente, o interior do templo e onde se destacam as imagens do Senhor Jesus Cristo crucificado e de Nossa Senhora do Rosário (ambas da mesma época dos retábulos)32 (Figs. 21 e 22).

Fig. 21 - Igreja Matriz da Raposeira – pormenor da fachada. Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

Fig. 22 - Igreja Matriz da Raposeira – detalhe do portal manuelino. Foto Artur de Jesus.

Deixando a magnífica igreja para trás, entrando-se na localidade, procuremos a Rua Infante D. Henrique e observemos a casa principal, de 1.º piso, ali existente. Trata-se da, localmente apregoada, Casa do Infante, edifício situado junto a um antigo e interessante Poço. Em relação a este singelo edifício, a tradição local designa-o como local de estância do Infante D. Henrique, conjectura não comprovada nas sondagens arqueológicas recentemente realizadas no local. Se os elementos artísticos no exterior são simples, a memória local da presença do ilustre Infante, essa, é bem maior (Fig. 23).

Fig. 23 - A Casa do Infante na Raposeira. Foto Artur de Jesus.

Na zona sul da povoação, depois de atravessada a estrada, chegamos ao Rossio das Eiras (zona tradicionalmente ocupada por feirantes).

Um pouco mais abaixo situa-se “...hum bom chafariz antigo de pedra, em que vêm correr muita, e excellente agua...”, como bem descreveu o estudioso lacobrigense, João Baptista da Silva Lopes, na sua Corografia, de 184133, testemunhando a utilidade e serventia públicas deste equipamento urbano, que duraram até anos bem recentes.

A caminho da Praia da Ingrina, numa ampla área compreendida entre o Alto de Milrei (vértice geodésico “Milrei”) e o sítio do Padrão, visualmente dominante sobre toda a paisagem circundante, que suavemente se espraia, a sul, no horizonte marinho, encontra-se uma das mais significativas concentrações de monumentos megalíticos existentes no Concelho – os menires34. Em boa verdade, o património megalítico de Vila do Bispo, tanto pela excepcional quantidade dos menires conhecidos, como pela particularidade regional das decorações neles inscritas, como, ainda, pela presumível antiguidade de alguns deles, além de testemunhar um dos mais importantes momentos da história humana neste território, representa, também, o mais identitário e monumental fenómeno arqueológico do Barlavento Algarvio.

O mais ilustre e altivo representante destes monumentos megalíticos, um verdadeiro embaixador da Pré-História de Vila do Bispo, será, sem dúvida, o Menir do Padrão. Situado à beira da estrada Raposeira-Ingrina, do seu lado direito (junto a uma residência particular), é o único monólito da zona que se encontra erguido, em resultado de acção de valorização, consequência das escavações arqueológicas de que foi alvo nos anos 80 do passado século. Estes trabalhos permitiram identificar, na base de implantação do menir e em associação estratigráfica, um povoado do Neolítico Antigo, cuja investigação35 proporcionou a sua datação absoluta, estimando-se uma antiguidade de cerca de 6500 anos (Antes do Presente), ou seja, nos meados do VI milénio a.C., no dealbar do fenómeno Neolítico. Admitindo esta conjuntura, os menires podem justamente ser interpretados como a primeira manifestação do Homem na paisagem, a sua própria personificação cultural num virgem palco natural, o Homem sedentário que se apropria de territórios, transformando-os, cultivando-os, marcando-os com marcos identitários de propriedade cultural – verdadeiras esculturas antropomórficas.

A possibilidade de visitação/fruição organizada deste numeroso conjunto megalítico (Milrei-Padrão) será uma realidade a breve trecho, pois, por iniciativa da autarquia de Vila do Bispo, encontra-se em execução um projecto arqueológico que visa a classificação e a valorização destes monumentos (Figs. 24 e 25).

Fig. 24 - Menir de Milrei. Foto Artur de Jesus.

 

Fig. 25 - Menir do Padrão. Foto Ricardo Soares.

Chegados à Praia da Ingrina (pequena e acolhedora enseada), encontramos velhos armazéns que nos recordam os tempos em que a actividade piscatória era predominante nestas paragens, a par da agricultura. Depois de passarmos o restaurante ali existente, tomamos a 2.ª via à direita (um caminho de terra batida) e, apreciando sempre a interessante paisagem marítima que nos rodeia, chegamos a um notável esporão rochoso: a Ponta da Fisga, onde, depois do ano de 1755, foi implantada uma Bateria, para defesa da zona, artilhada com 2 peças de artilharia e que substituiu o velho Forte de Santo Inácio do Zavial, situado (actualmente) num rochedo ilhado, ao seu lado direito, sendo as suas ruínas perfeitamente visíveis. Esta fortificação foi construída entre 1630 e 1633, pelo Governador do, então, Reino do Algarve, D. Luís de Sousa (o mesmo que mandou edificar o Forte de São Luís de Almádena, reedificar o de Santo António do Beliche, entre outras obras de defesa militar)36 (Figs. 26 e 27).

Fig. 26 - A Bateria do Zavial. Foto Artur de Jesus.

 

Fig. 27 - Vestígios do Forte do Zavial. Foto Artur de Jesus.

Regressando à estrada, chegamos à interessante Praia do Zavial, amplo areal onde desagua uma ribeira e onde subsistem vestígios de actividade agrícola, o qual é limitado, do lado nascente, pelo enorme esporão rochoso conhecido por Ponta da Torre, onde (como a designação indica) existiu noutros tempos uma antiga atalaia para vigilância da costa (Fig. 28).

Fig. 28 - A Praia do Zavial e a Ponta da Torre. Foto Artur de Jesus.

Recomendamos:

  • Capela de Nossa Senhora de Guadalupe;

  • RAPOSEIRA: Igreja Matriz, “Casa do Infante” e Poço próximo; Rossio das Eiras e Fonte próxima;

  • MILREI/PADRÃO: menires;

  • PONTA DA FISGA: ruínas da Bateria e Forte do Zavial.

29IRIA, Alberto (1997) - O Infante D. Henrique no Algarve (estudos inéditos). Lagos: Centro de Estudos Gil Eanes, p. 125-133.

 

30João Baptista da Silva Lopes, op. cit., p. 219.

31Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op. cit., p. 41.

32Francisco Lameira, op.cit., p. 45-51.

33Na p. 218.

34Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op. cit., p. 51-54.

35GOMES, M. V. (1994) – “Menires e cromeleques no complexo cultural megalítico português. Trabalhos recentes e estado da questão”. Seminário O Megalitismo no Centro de Portugal, pp. 317-342. Viseu: Centro de Estudos Pré-Históricos da Beira Alta (Estudos Pré-Históricos, 2); Mário Varela GOMES (1997) – Megalitismo do Barlavento Algarvio. Breve síntese. Setúbal Arqueológica, 11-12, p. 147-190.

36Carlos Pereira Callixto, op.cit., p. 14-18.

Vila do Bispo

Destacando-se na paisagem pelo conjunto do casario, pela torre da sua Igreja Matriz e pela sua implantação numa pronunciada colina (sobranceira à Estrada Nacional 125), surge-nos a sede do Concelho: Vila do Bispo (Fig. 29).

A antiga aldeia medieval de Santa Maria do Cabo terá sido doada pelo Rei D. Manuel I, em inícios do Século XVI, ao Bispo de Silves37, D. Fernando Coutinho (cuja sepultura, em campa rasa, pode ser visitada na Sé daquela cidade algarvia). A partir de então, terá ficado conhecida por Aldeia do Bispo. A localidade acabou por ser elevada a Vila, a 26 de Agosto de 1662, por determinação do Rei D. Afonso VI, passando, a partir daí a designar-se por Vila do Bispo, sede de Concelho, com jurisdição própria38.

Fig. 29 - Vila do Bispo. Foto Ricardo Soares.

A nível patrimonial e artístico (Fig. 30), destaca-se, imediatamente, no meio do casario, a sua imponente Igreja Matriz, consagrada a Nossa Senhora da Conceição. A primeira invocação da igreja foi a de Santa Maria do Cabo, posteriormente, começou a ser designada por “Igreja de Santa Maria de Aldeia do Bispo”, sendo a época da sua construção desconhecida (alguns autores apontam para o Século XV, outros para os finais do XVI). A elevação da localidade a Vila, em 1662, terá certamente contribuído para uma valorização do templo, porém, o que, actualmente, temos o privilégio de apreciar é uma espectacular obra de arte barroca, do 1.º quartel (ou seja, dos primeiros 25 anos) do Século XVIII39.

Fig. 30 - Igreja Matriz de Vila do Bispo. Foto Ricardo Soares.

No exterior, num adro elevado acima do nível do solo (que vai caindo num suave declive), onde se situou o 1.º cemitério local (que incluía o jardim, situado mais abaixo), constituem elementos notáveis: o seu portal setecentista, o óculo (que ilumina o interior), a robusta torre sineira e o seu curioso remate (Fig. 31).

Fig. 31 - Igreja Matriz de Vila do Bispo – imagem da padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Foto Armindo Vicente.

No interior, é extraordinário o contraste entre a pouca iluminação (propensa a um ambiente de espiritualidade individual, conforme à mentalidade da época), a luminosidade da Capela-Mor e o contraste das colorações douradas, da talha, e azuis e brancas, da abundante azulejaria, que forra toda a nave (onde existe um curioso púlpito)40.

Anjos, flores, palmas, cachos de uvas, aves mitológicas, jarras floridas, são vários dos elementos decorativos que povoam, de forma elegante, todo este espaço. Quer a talha dourada, quer a azulejaria (provavelmente de fabrico lisboeta), são do 1.º quartel do Século XVIII. São dignas de uma atenta observação, as Capelas de Nossa Senhora do Carmo (esta do lado esquerdo da Capela-Mor), a Mor (com o seu soberbo retábulo e uma interessante imagem quinhentista de Nossa Senhora da Conceição) e o Altar, onde se encontra a imagem de São José (à direita da Capela-Mor).

Notável é, também, o seu magnífico tecto, de caixotões de madeira (obra, igualmente, setecentista) que nos convida, pelas suas representações pictóricas simbólicas, à reflexão sobre aspectos doutrinais da fé católica e das Sagradas Escrituras41 (Figs. 32 e 33).

Fig. 32 - Igreja Matriz de Vila do Bispo – a esplendorosa talha barroca”, foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo

Fig. 33 - Igreja Matriz de Vila do Bispo – azulejaria (pormenor). Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

Na Capela-Mor, merecem, ainda destaque, 2 quadros quinhentistas, de autor desconhecido, representando São Pedro, São Paulo42 e os seus respectivos martírios. Este espaço, comunica, ainda, com a Sacristia – onde se destaca mobiliário seiscentista e curiosos elementos decorativos – (à direita) e com uma pequena Sala, onde se encontra uma interessante colecção de alfaias litúrgicas, imagens religiosas, paramentos e algumas peças de tipo arqueológico, de várias épocas.

Voltando ao exterior, a Praça da República merece uma visita. Aqui se situa, muito provavelmente, o centro histórico da Vila. Depois, avancemos, um pouco, até à Rua do Outeiro (onde ainda resiste uma pequena casa que sobreviveu ao terramoto de 1755, assente num afloramento de pedra ruiva, típico da zona); pela Rua dos Moinhos (onde pode apreciar alguns desses equipamentos – hoje transformados em residências) e, finalmente, a Rua da Ribeira do Poço, onde, para além de monumentos, um deles evocativo dos Pescadores e Marisqueiros, e o outro, da actividade agrícola, é interessante observar os antigos lavadouros (ainda hoje utilizados) (Fig. 34).

Fig. 34 - Monumento ao Homem do Mar, da autoria de Mário Miranda. Foto Artur de Jesus.

Importa registar que, nos arredores da Vila, na direcção poente, se situa o ponto mais elevado de toda a costa algarvia: a Torre d’Aspa (156 m). Sob o vértice geodésico piramidal que assinala esse ponto, encontrava-se a velha torre de vigilância costeira que lhe deu o nome e cuja data de edificação se desconhece (Fig. 35).

Fig. 35 - Centro de Interpretação de Vila do Bispo. Foto Ricardo Soares.

Junto ao Largo do Município, com os seus edifícios contemporâneos da Câmara Municipal e do Centro Cultural, encontramos a pouca distância, o Jardim da Fonte, onde se destaca, precisamente a curiosa Fonte ali edificada em 1887. Bastante próximo, e depois de um posto de abastecimento de combustíveis, situa-se o antigo Mercado Municipal, também conhecido por “Lota dos Percebes”, onde funciona, actualmente, o Centro de Interpretação de Vila do Bispo, com um conteúdo dedicado à História, à Natureza e ao aproveitamento local dos seus recursos, ao longo das épocas (Fig. 36).

Fig. 36 - Fonte Oitocentista. Foto Artur de Jesus.

Seguimos, depois, pelo antigo troço da Estrada Nacional 268, no sentido de Sagres e acompanhando uma típica paisagem rural. Cerca de 1 km depois, à esquerda do km 29.2, atingimos um viaduto. Passando-se sob o mesmo, chegamos ao parque de merendas que marca o início do Roteiro Megalítico do Monte dos Amantes, onde podemos visitar mais um importante conjunto de monumentos megalíticos, classificados como Imóvel de Interesse Público. Subindo-se o trilho de “pé-posto” que parte do parque, a meia encosta e no topo do pequeno cerro é possível observar dois interessantes menires, que apesar de tombados permitem ainda vislumbrar aspectos decorativos e a magnificiência dos tempos perpassaram. O maior, no topo, apresenta uma faixa vertical em relevo, constituída por 3 elipses. Junto deste monólito, é ainda possível observar os vestígios estruturais de uma sepultura colectiva “neo-calcolítica”, de tipo “cista”, parcialmente escavada e comenterramentos enquadráveis no IV Milénio a.C.43 Alguns metros mais abaixo, na encosta sul do cerro, surge outro interessante monólito, um fragmentário topo de menir que também apresenta decorações gravadas – elipses/linhas ondulantes.

Deste serrinho, desfrute de uma panorâmica paisagem que se estende, a norte, até ao casario de Vila do Bispo, permitindo a directa intervisibilidade com outras áreas envolventes “povoadas” por menires e incluídas no roteiro: o Monte dos Amantes e o Serro do Camacho. Mais longe, a vista também alcança o alto de Milrei e do Padrão, os vizinhos conjuntos megalíticos por nós já visitados (Fig. 37).

Fig. 37 - Um monumento megalítico perto de Vila do Bispo. Foto Ricardo Soares.

Voltando à antiga estrada, tomando a via secundária, à direita, chegamos à alva e isolada Capela de Santo António. Este pequeno templo, situado entre uma interessante paisagem rural, guarda memórias do Infante D. Henrique, homem com uma forte religiosidade e que reabilitou este edifício ao culto religioso e que serviu de ponto de apoio aos peregrinos que demandavam o Cabo de São Vicente, para ali venerarem o santo mártir, que lhe deu o nome44. O edifício sofreu uma importante campanha de reconstrução no ano de 1890, que a deixou com o aspecto simples e alvo, que podemos observar nos nossos dias (Fig. 38).

Fig. 38 - A Capela de Santo António em dia de festa. Foto Ricardo Soares.

Antes de seguirmos a nossa viagem para a localidade que é, sem dúvida, a nacional e internacionalmente, mais conhecida de todo o Concelho – a Vila de Sagres – não podemos deixar Vila do Bispo sem recuarmos, geograficamente, um pouco atrás, tomando o caminho da Raposeira (na direcção de Lagos) e volvermos para sul, pela estrada municipal que nos conduz às belas e tranquilas Praias da Ingrina e do Zavial, mas também a uma singela e interessante aldeia, rodeada de campos agrícolas e de cerros e que, apesar de se encontrar rodeada pela Freguesia da Raposeira, faz parte (curiosamente) da Freguesia de Vila do Bispo. Referimo-nos à povoação de Hortas do Tabual, marcada por uma pacatez rústica, por algumas interessantes casas típicas, pelo perfume do arvoredo espalhado nas suas cercanias, que vale bem a pena experimentar. O edifício mais importante na localidade é a sua pequena Capela, dedicada a Nossa Senhora de Fátima (uma construção contemporânea). Curiosamente, já no longínquo Século XVIII, a aldeia fazia parte da Freguesia de Vila do Bispo45 (Fig. 39).

Fig. 39 - Capela de Nossa Senhora de Fátima – Hortas do Tabual. Foto Artur de Jesus.

Outra pequena localidade, hoje, em grande medida, recuperada pelo turismo, é a aldeia da Pedralva. Para chegarmos a ela, temos de tomar a estrada em direcção a Aljezur e voltar no cruzamento correspondente (á direita). Desconhecemos as suas origens, mas podemos observá-la espalhada por uma pequena colina e envolvida por toda uma interessante e esplêndida paisagem rural (nalguns aspectos, já com características serranas), sendo atravessada por uma ribeira, de extensão considerável. Nos campos, há vestígios de antigas construções agrícolas, enquanto que, no pequeno núcleo habitacional (além das casas recentemente recuperadas) existem, ainda, um antigo fontanário público, algumas casas típicas e uns poucos habitantes locais, que aqui vão resistindo e com quem vale a pena falar da vida de outros tempos, quando a aldeia tinha mais de 100 habitantes, sendo muito frequentada por gentes vindas de outros pontos do Concelho e uma terra afamada pelos seus animados bailes.

Importa, ainda, deixar um interessante apontamento: em 1891, Estacio da Veiga refere, no volume IV das suas Antiguidades Monumentaes do Algarve46, no sítio do Monte da Pedralva (pertencente já à Freguesia de Budens), a fortuita descoberta de três objectos metálicos: «uma fita de ouro grosseiramente batido» e «duas figuras de bronze, de quadrúpedes, um touro, um javali (?) com os caninos inferiores de prata», integrando-os em cronologias da Idade do Bronze. Em 1987, Mário Varela Gomes e Carlos Tavares da Silva, na sequência dos seus trabalhos para o Levantamento Arqueológico do Algarve – Concelho de Vila do Bispo, voltam a referir estes artefactos, precisando o Barranco das Colmeias, na Herdade do Arieiro, como local da sua ocorrência, integrando-os em cronologias da Idade do Ferro – século IV a.C.47. Encontradas por crianças, as duas estatuetas da Pedralva encontram-se actualmente à guarda do Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa (Fig. 40).

Fig. 40 - A paisagem característica da Pedralva. Foto Artur de Jesus.

Mas, Património, não são apenas obras artísticas ou vestígios arqueológicos. Já o cronista Henrique Fernandes Sarrão, em 1600, escrevendo sobre esta zona costeira, elogiava a sua riqueza em “lagostas, lobagantes, centolas, perceves, mixilhões, e...muito pescado”. Por isso, se puder, não deixe a sede do Concelho, sem apreciar, à mesa, um dos mariscos mais afamados e procurados na localidade: os Percebes...um verdadeiro Património Gastronómico destas terras do Cabo (Fig. 41).

Fig. 41 - Percebes: o marisco mais afamado de Vila do Bispo. Foto Ricardo Soares.

Recomendamos:

  • VILA DO BISPO: Igreja Matriz, antigo Mercado Municipal (Centro de Interpretação), passagem pelas Ruas José Cardoso, do Outeiro, dos Moinhos, Capitão Viegas, Ribeira do Poço e Praça de Tanegashima;

  • MONTE DOS AMANTES: menires e necrópole;

  • MONTE DE SANTO ANTÓNIO: Capela;

  • ALDEIAS E PAISAGENS RURAIS: Hortas do Tabual e Pedralva.

37Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op.cit., p. 27. João Baptista da Silva Lopes, op. cit., p. 209.

38Artur Vieira de Jesus, “Vila do Bispo – uma viagem pela sua História”, p. 43-45 e 51-54.

39Ibidem, p. 58.

40Ibidem, p. 59-61.

41Idem, ibidem.

42CORRÊA, Fernando Cecílio Calapez (1994) - A Cidade e o Termo de Lagos no Período dos Reis Filipes. Lagos: Centro de Estudos Gil Eanes, p. 383.

 

43Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op. cit., p. 84.

44Artur Vieira de Jesus, “Vila do Bispo – uma viagem pela sua História”, p. 32 e 33.

45Ibidem, p.63.

46VEIGA, E. da (1891) – Antiguidades Monumentaes do Algarve - Tempos Prehistoricos, vol. IV. Lisboa: Imprensa Nacional, pp. 171-176.

 

47Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op. cit., p. 33.

 

Freguesia de Sagres

Antes de entrarmos na extensa Vila de Sagres, seguindo a Estrada Nacional 268, merece a nossa visita a Praia do Martinhal, não apenas pelo seu interessante enquadramento paisagístico, mas, também, pelo rico património material e imaterial a ela associado. No lado nascente do areal (e tendo por companhia os Ilhéus da Baleeira), e seguindo sempre a linha da arriba, situada um pouco mais acima, vamos encontrar algumas interessantes estruturas da época romana, nomeadamente, câmaras de fornos e paredes aparelhadas. Tratam-se das ruínas do antigo centro oleiro (composto por 8 fornos), onde se fabricaram ânforas de várias tipologias, que circularam pelo Mediterrâneo (segundo investigações recentes) e que é datado do Século IV48 (Fig. 42).

Fig. 42 - Praia do Martinhal (Sagres). Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

Nesta mesma praia, corria o mês de Maio de 1587, Francis Drake, um dos mais destemidos e notáveis aventureiros e militares da corte de Isabel I, de Inglaterra, fez desembarcar 800 homens que tomaram de assalto a Fortaleza de Sagres, após 2 horas de intensos combates. As fortificações adjacentes foram destruídas e sua artilharia foi pilhada e embarcada49 (Fig. 43).

Fig. 43 - Forte de Nossa Senhora da Guia (ou da Baleeira). Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

Mas, regressemos, agora, ao destino final da viagem que propomos.

Poucas pessoas poderão dizer que nunca ouviram falar de Sagres, mais não seja pelos seus imponentes cabos e pontas rochosas, praias escondidas entre dunas ou falésias, ou, ainda, pela associação do nome da localidade às descobertas marítimas, empreendidas pelos Portugueses no Século XV e, mais concretamente, ao homem que foi o seu principal impulsionador...um Príncipe da Casa de Avis, nascido no Porto, em 1394, e que aqui faleceu em 1460...referimo-nos, obviamente, a D. Henrique, conhecido, também, por “Infante de Sagres” (Fig. 44).

Fig. 44 - A Ponta de Sagres e o Cabo de São Vicente. Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

A designação de “Sagres” provém da palavra “Sagrado”, pois, sem dúvida alguma, este foi um importante local de práticas religiosas, com rituais alicerçados já em tempos pré-históricos. Aqui, alguns povos mediterrânicos (como Fenícios, Gregos, Cartagineses e Romanos) veneraram as suas divindades...era aqui que, para alguns deles, os deuses se reuniam, justificando-se, dessa forma, a inexistência de habitantes na zona. Era aqui que o Sol mergulhava, com intensidade, no imenso oceano, fazendo-o fervilhar e encrespar...era aqui que terminava a terra conhecida e se iniciava um território desconhecido e misterioso: o Mar (Fig. 45).

Fig. 45 - A mítica Ponta de Sagres – pormenor. Foto Artur de Jesus.

No entanto, a sacralidade deste espaço não ficou por aqui. Cristãos (Moçárabes) que viveram nesta zona, durante a ocupação muçulmana, aqui ergueram a “Igreja do Corvo”...aí foram depositados, no Século VIII, os restos mortais do santo/mártir Vicente (vitima de cruéis torturas no Século IV), que deu, depois, o nome a uma das mais imponentes pontas rochosas de toda a costa portuguesa e europeia: o Cabo de São Vicente (Fig. 46).

Fig. 46 - Praia do Beliche (Sagres). Foto Artur de Jesus.

Apesar de ter existido nesta área, nos tempos medievais, uma localidade (Terçanabal)50, todo este território foi doado, em 27 de Outubro de 1443, ao Infante, que para si o reclamou: D. Henrique, homem multifacetado, Príncipe ligado à Ordem Militar de Cristo, Duque de Viseu, senhor da Covilhã, homem preocupado com a sua casa senhorial e com o seu engrandecimento, religioso e acérrimo defensor do combate aos Infiéis, usufruiu, também, de rendimentos diversos, como os de algumas pescarias no Algarve. Segundo o próprio, estando preocupado com as necessidades existentes, neste troço da costa, de agasalho material e espiritual para os navegadores que por aqui passavam, sempre condicionados pelo regime de ventos na zona, fundou uma localidade, uma Vila (a “Vila do Infante”) para prestar esses tipos de assistência51. A Vila, que fortificou, situava-se, na atual Ponta de Sagres, local estratégico, por excelência, dominando sobre duas grandes enseadas (Mareta e Beliche).

Já, em pleno Século XVI, a zona de Sagres/Cabo de São Vicente, revelou-se, desde 1573 até 1578, um dos locais de eleição do Desejado Rei D. Sebastião, sendo um dos seus maiores apreciadores, gostando mesmo de ouvir música junto aos rochedos e ao mar52. Foi mais uma personalidade que, após o seu desaparecimento, em batalha, em Alcácer-Quibir (Marrocos, 1578) que passou para o domínio mítico deste local. Afinal, uma crónica do Século XVI, refere a estadia do jovem Rei ferido, no Convento de São Vicente do Cabo53, e, ainda há uns bons anos atrás (ainda não existia estrada de ligação ao Cabo) os locais contavam que El-Rei se encontrava “encantado”, com as suas tropas, nuns rochedos existentes na zona...

Contudo, Sagres sempre foi, de facto, um importante ponto estratégico e de defesa marítima. Por isso, não é de estranhar a constante presença de soldados na zona, num largo período de tempo, que podemos considerar desde o Século XVI até ao Século XX.

Depois desta introdução a este fantástico espaço, integrando numa paisagem única e fabulosa, visitemos, então, a localidade.

Comecemos pela Fortaleza (Monumento Nacional). A importância estratégica de toda a área costeira de Sagres não passou, certamente, desapercebida ao Infante D. Henrique, durante as suas passagens ao Norte de África. O seu interesse foi crescendo, a ponto de solicitar à Coroa a região para nela estabelecer, como se referiu, um ponto de referência em termos de apoio directo material aos navios e marinheiros que se cruzavam nestas águas: uma Vila. Foi neste contexto que D. Henrique ordenou a sua edificação, com toda probabilidade, na Ponta de Sagres, bem como a das suas primeiras estruturas defensivas, importantes para a defesa deste importante local, dominante sobre duas enseadas que, frequentemente, serviam de local de abrigo à navegação. De iniciativa henriquina foi, igualmente, a construção (ainda hoje existente) da Igreja de Santa Maria, consagrada em 1519, à invocação de Nossa Senhora da Graça, quando Sagres foi elevada a Paróquia, no reinado de D. Manuel I54 (Fig. 47).

Fig. 47 - Igreja de Nossa Senhora da Graça (Fortaleza de Sagres). Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

Templo com um interessante portal renascentista (Século XVI), destaca-se, na fachada pela estrutura onde se encontram os seus sinos. Importa, ainda, referir, a existência, na sua Capela-Mor, de três sepulturas de capitães, que aqui prestaram o seu serviço militar, governando esta Praça de Guerra. Diante das mesmas encontra-se um valioso retábulo de talha dourada, de finais do Século XVII, proveniente da Capela de Santo António (do Forte do Beliche). O interior encontra-se, igualmente valorizado, com a presença de duas imagens religiosas (S. Vicente e S. Francisco), dos Séculos XVII e XVIII, respectivamente55.

Da sua Vila, localizada nesta impressionante ponta rochosa, D. Henrique geriu, além da sua própria casa senhorial e dos seus mais variados interesses, assuntos relacionados com as navegações e contactos efectuados com territórios tão vastos como a Madeira, os Açores e a Costa Ocidental de África. Quando aqui morreu, a 13 de Novembro de 1460, os navegadores portugueses, e outros ao serviço de Portugal, já tinham atingido a costa da Serra Leoa56.

Quanto à fortificação propriamente dita, sofreu importantes obras no Século XVI (o que não impediu que fosse tomada pelos homens de Francis Drake, em 1587, como vimos), durante o XVII e, finalmente, durante o Século XVIII. É precisamente desta época que data a estrutura defensiva que podemos hoje admirar, concluída no ano de 179357.

É composta por dois Baluartes (cujas designações invocam Santo António, a nascente, e Santa Bárbara, a poente)58 e 3 Baterias de Artilharia (1 a nascente, 1 na extremidade do esporão rochoso e outra, a poente), onde, por exemplo, em 1754, se encontravam 14 canhões (Fig. 48).

Fig. 48 - Ao fundo…Sagres. Foto Ricardo Soares.

No interior, merece destaque o Padrão, monumento inaugurado em 1960, quando se celebraram 500 anos sobre a morte de D. Henrique, e que reproduz os marcos de pedra que navegadores portugueses deixaram em vários pontos das costas atlânticas que atingiram e exploraram, bem como a afamada Rosa dos Ventos, construção enigmática e cuja interpretação tem levado os estudiosos a conclusões interessantes, como as de se tratar de um relógio solar (apesar de existir um bastante interessante no Torreão Principal, de pequenas dimensões), de uma eira, etc.59.

Mas, esta antiga “Vila do Infante” tem mais para nos oferecer. Junto à Praia da Mareta,em local situado sobre o areal, D. Henrique, homem profundamente religioso, como vimos, mandou edificar uma Igreja, consagrada a Santa Catarina (de que nada resta na actualidade), para dar um local digno de sepultura cristã aos marinheiros que faleciam a bordo dos seus navios e cujos capitães, por vezes, os tinham de abandonar em terra, conforme relatou na sua carta testamentária60 (Fig. 49).

Fig. 49 - Praia da Mareta. Foto Arquivo da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

A Pousada de Sagres, interessante unidade turística de Sagres foi concluída no ano de 1961 e concebida no âmbito das Comemorações do 5.º Centenário da Morte do Infante D. Henrique. Apresenta um importante espólio sobre a temática dos Descobrimentos Portugueses, nomeadamente um interessante painel cerâmico representando o Infante, no exterior, e, algumas tapeçarias de grandes dimensões e de não menos notável interesse, no salão principal.

O Monumento ao Infante Dom Henrique, naAvenida Comandante Matoso, éda autoria de Augusto Cid, representa o Infante impulsionador das navegações que puseram em contacto o velho continente com novas realidades geográficas e civilizacionais, olhando o horizonte a apontando para o vasto Oceano. Foi inaugurado em 2009 (Fig 50).

Fig. 50 - Monumento ao Infante D. Henrique (autoria de Augusto Cid)”, foto Artur de Jesus

Não perca a oportunidade de reparar em antigas casas típicas que podemos observar, na zona do Posto de Turismo, junto ao Lar e à zona dos bares.

Ao fundo da mesma avenida, deparamo-nos com uma esplêndida vista sobre o Porto de Pesca da Baleeira, a Praia do Martinhal e toda a faixa costeira até à Ponta da Piedade, em Lagos. Daí, antes de descermos ao porto, avançamos até à rotunda próxima e tomemos um caminho de terra que nos conduz ao antigo Forte de Nossa Senhora da Guia, cujas ruínas e o que resta da sua estrutura triangular podemos observar, sobre o porto da Baleeira. Trata-se de uma construção do Século XVI (que já existia no ano de 1573), que, tal como as outras fortificações da zona, dispunha de guarnição própria e de uma ermida, consagrada à padroeira61. Estava artilhada (no ano de 1754, por exemplo, tinha 3 canhões)62. Dependia da Praça de Guerra de Sagres (Fig. 51).

Fig. 51 - Enseada da Baleeira – pormenor dos ilhéus”, foto Ricardo Soares

Voltando atrás, sugerimos uma descida até ao Porto de Pesca da Baleeira. Aí abundam memórias, antigas e mais recentes, de um passado transbordante de experiências, próprias de uma localidade com uma intensa actividade piscatória. Um cabrestante, um estaleiro, embarcações tradicionais, redes, fateixas, alcatruzes, bóias amontoadas junto ao cais recordam esses tempos.

Não perca a ocasião de olhar para esses importantes elementos da realidade local, de assistir à descarga do pescado junto à Lota (que pode visitar também) e de conversar um pouco com experientes “lobos do mar”, com um importante saber construído nas duras lides da pesca.

Regressemos, agora, à Avenida Comandante Matoso, passando pela zona do antigo Posto da Guarda Fiscal (onde existe um belo exemplar de um canhão setecentista, proveniente do Forte de São Luís de Almádena) e pela pitoresca Praça da República (na rotunda fronteira podemos contemplar uma antiga âncora do navio de guerra francês “L' Océan”, afundado ao largo da Praia da Salema, em 1759), rumando, em seguida, ao Cabo de São Vicente.

Sempre com o mar por companhia, ao nosso lado esquerdo, vamos encontrar a dado momento uma fortificação, de consideráveis dimensões e bem destacada na paisagem. Trata-se do Forte de Santo António do Beliche, construído durante o Século XVI (já existente em 1587), para protecção da enseada e da armação de pesca de atum ali existente, foi reconstruído (conforme atesta a Pedra de Armas colocada sob a sua entrada principal) em 1632, pelo Governador do Reino do Algarve, D. Luís de Sousa63. Em 1754, estava artilhado com 2 canhões e, na década de 60 do Século XX foi transformado em Casa de Chá e, depois, em alojamento turístico afecto à Pousada de Sagres (Fig. 52).

Fig. 52 - Forte de Santo António do Beliche”, foto Ricardo Soares

Nas proximidades desta zona, situa-se o Vale Santo, antiga quinta (a que se acede por uma estrada, situada antes do acesso à Praia do Beliche), associada à Capela de Santo António (atrás mencionada, e sita na Freguesia de Vila do Bispo), foi, também, um importante local de repouso e de preparação espiritual dos peregrinos de São Vicente. A devoção religiosa do Infante D. Henrique manifestou-se, também, neste local (próximo do Cabo de São Vicente) dado ter retirado o local da posse de Pêro Lourenço, por este o ter, então, dessacralizado (Fig. 53).

Fig. 53 - Vale Santo”, foto Ricardo Soares

Em Vale Santo e na Cabranosa, junto ao vértice geodésico com o mesmo nome64, os Serviços Geológicos identificaram, em 1970, um povoado datado por Carbono14 de há 6.500 anos65. Desde cedo, os trabalhos ali realizados consagraram bibliograficamente a Cabranosa como um sítio-chave para o entendimento do processo de neolitização do território actualmente, sendo consensualmente definido como um acampamento-base, excepcionalmente representativo do Neolítico Antigo regional66.

A investigação arqueológica neste povoado permitiu recuperar diversos artefactos, destacando-se um excepcional conjunto de grandes recipientes cerâmicos (cerca de 17), de assinalável beleza formal e decorativa, alguns dos quais incrivelmente bem preservados e que se encontram hoje à guarda do Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.

Finalmente, atingimos o Cabo de São Vicente: o mítico local que ganhou o nome do mártir cristão hispânico, aqui sepultado no Século VIII (cujos restos mortais foram para aqui trasladados por cristãos da zona de Valência – actual Espanha – aquando da invasão muçulmana da Península Ibérica), foi também (como já vimos) local sagrado de referência para vários povos, culturas e civilizações. Aqui se reunião deuses, aqui, igualmente, todos os dias, o Sol desaparecia mergulhando no Oceano67, aqui era considerado o fim do mundo conhecido na Antiguidade e começava um Mar imenso e desconhecido, como já salientámos. Este marco de referência para a navegação de todos os tempos, teve, até ao Século XIX, uma componente sacra e uma vertente mais prática. O antigo Eremitério medieval existente sobre o imponente esporão rochoso deu lugar, no Século XVI, deu a um Mosteiro Franciscano, onde existiu uma Torre, que era iluminada (com uma fogueira) durante as noites, para prestar apoio à navegação que por aqui passava e onde o Rei D. João III mandou erguer uma fortificação, para protecção dos religiosos e romeiros68 (Fig. 54).

Fig. 54 - Ponta do Telheiro e Cabo de São Vicente”, foto Ricardo Soares

O Cabo foi, ainda, tapada de caça e local predilecto de um Bispo (D. Fernando Coutinho) e de um Rei (D. Sebastião, que aqui teve um paço, onde estanciou nas suas deslocações regulares ao Algarve, já com o pensamento colocado nas áridas e difíceis terras norte africanas)69.

Este local, destacou-se, desde sempre, pela sua importância estratégica: foi a este imponente ponto da nossa costa que chegaram as frotas espanholas vindas das Américas, com os seus preciosos carregamentos (partindo, depois rumo à capital andaluza, Sevilha)70; foi, também, aqui que se travaram algumas das mais importantes batalhas navais da história, nacional e mundial, como as de 1780 (entre Ingleses e Espanhóis), de 1797 (também entre esquadras britânicas e espanholas, onde se notabilizou um jovem oficial, de nome Horatio Nelson - o mesmo que, anos mais tarde destroçou as esquadras francesa, dinamarquesa e espanhola, já como Almirante) e a de Julho de 1833, no âmbito da Guerra Civil Portuguesa de 1832-34, em que a esquadra de D. Miguel foi vencida pela da Rainha D. Maria II, num combate naval travado entre as Pontas de Almádena e o Cabo71 que, agora, estamos a visitar.

Com o triunfo do Liberalismo, em 1834, deu-se a extinção das ordens religiosas masculinas e os frades (franciscanos) abandonaram o seu mosteiro, o qual foi adaptado a Farol, em 1846 (reinado de D. Maria II). A sua Torre característica (1904)72, com a sua imponente cúpula vermelha, alberga o feixe de luz, branca, mais potente da Europa (visível, em boas condições climatéricas, a 32 milhas náuticas). Os clarões são podem ser avistados de 5 em 5 segundos73.

Antes de deixar este extraordinário local, onde os ventos sopram fortes, onde o pôr-do-sol ganha uma grandeza inigualável, onde a paisagem está num estado puro, belo e poderoso, aprecie toda essa beleza, diversa, imponente e ímpar (em simultâneo) que o Cabo lhe tem para oferecer. Verá que não se arrepende!

Se puder, rume um pouco a norte do Cabo, até à Praia do Telheiro e observe demoradamente os extraordinários rochedos e as formações geológicas, cheias de informações e curiosidades para nos transmitir, que compõem as falésias, desde há centenas de milhões de anos.74

Ao sair de Sagres, passe pelo Cemitério local (em frente ao velho Depósito de Água) e recorde a memória das guerras do Século XX. Logo à entrada, do lado direito, poderá admirar o memorial do 2.º Sargento do Exército Português, Joaquim Leite, combatente em Angola (falecido em 1966) e do lado esquerdo, sensivelmente a meio, junto ao muro, o memorial dedicado a 2 militares da Royal Air Force britânica, os Sargentos aviadores, Orton e Gibson, cujo hidroavião se despenhou na Praia do Tonel, em 1943, decorria na Europa e no Mundo mais uma terrível guerra.

Praticamente à saída de Sagres (na direcção de Lagos, fica o Sítio do Poço. Se tomar a via, à direita (ao avistar a paragem de autocarro, do lado contrário) vai encontrar este antigo poço público, de grandes proporções que serviu para abastecer de água os habitantes locais durante muito tempo.

Recomendamos:

  • PRAIA DO MARTINHAL: ruínas romanas;

  • SAGRES: Fortaleza, Praia da Mareta, Avenida Comandante Matoso, Praça da República, Cemitério e Sítio do Poço;

  • BALEEIRA: Ruínas do Forte de Nossa Senhora da Guia e Porto de Pesca;

  • BELICHE: Forte de Santo António do Beliche e Vale Santo;

  • CABO DE SÃO VICENTE: Farol e paisagem envolvente (incluindo o pôr-do-sol).

48Mário Varela Gomes & Carlos Tavares da Silva, op.cit., p. 67.

49Artur Vieira de Jesus, “Vila do Bispo – Lugar de Encontros (I), p. 206-208.

50CUNHA, Rui & GARCIA, José Manuel (2004) – Sagres. Vila do Bispo: Câmara Municipal de Vila do Bispo, 2.ª edição, p. 38 e 39.

 

51Ibidem, p. 50-51 e 53-54.

52Artur Vieira de Jesus, “Vila do Bispo – Lugar de Encontros (I), p. 96-102.

53Ibidem, p.112 e 113.

54Rui Cunha & José Manuel Garcia, op.cit., p. 73 e 74.

55Francisco Lameira, op.cit., p. 59-65.

56Rui Cunha & José Manuel Garcia, op.cit., p. 15-25.

57Sagres – do mar e do tempo, coordenação de Natércia MAGALHÃES & Rui PARREIRA (coord.) (2009). Faro: Ministério da Cultura/Delegação Regional de Cultura do Algarve, p. 60-73.

 

58Ibidem, p.58 e 59.

59Ibidem, p.84, 89 e 92.

60Rui Cunha & José Manuel Garcia, op.cit., p. 53 e 54.

61Fernando Cecílio Calapez Corrêa, op.cit., p. 57 e 332.

62Rui Cunha & José Manuel Garcia, op.cit., p.101.

63Fernando Cecílio Calapez Corrêa, op.cit., p. 58.

64Hoje mais conhecido por “P1” por se tratar do principal ponto de observação de aves em migração para terras africanas, nos inícios de Outubro.

65António Faustino de Carvalho (2008) – A Neolitização do Portugal Meridional. Os exemplos do Maciço Calcário Estremenho e do Algarve Ocidental. Promontoria Monográfica, 12. Faro: Universidade do Algarve, p. 190-195.

66Joaquina SOARES & Carlos TAVARES DA SILVA (2004) – Alterações ambientais e povoamento na transição Mesolítico-Neolítico na Costa Sudoeste. In A. A. TAVARES; M. J. F. TAVARES & J. L. CARDOSO (eds.). Evolução geohistórica do litoral português e fenómenos correlativos. Geologia, História, Arqueologia e Climatologia, p. 397-424. Lisboa: Universidade Aberta; Joaquina SOARES (1997) – A transição para as formações sociais neolíticas na Costa Sudoeste portuguesa. In A. RODRÍGUEZ (ed.), O Neolítico atlântico e as origens do Megalitismo. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, p. 587-608.

67Sagres – do mar e do tempo”, coordenação de Natércia Magalhães & Rui Parreira, p. 34.

68Duas descrições do Algarve do Século XVI”, p. 28 e 29.

69Artur Vieira de Jesus, “Vila do Bispo – Lugar de Encontros (I), p.101.

70Fernando Cecílio Calapez Corrêa, op.cit., p. 70-77.

71Artur Vieira de Jesus, “Vila do Bispo – Lugar de Encontros (I), p.212-217 e 237-239.

72Rui Cunha e José Manual Garcia, op.cit., p. 42.

73Farol de S. Vicente – Polo Museológico, desdobrável editado pelo Ministério da Defesa Nacional – Marinha, Autoridade Marítima Nacional, Direção Geral da Autoridade Marítima, Direção de Faróis, Capitania do Porto de Lagos, s.l, s.d.

74Geologia de Vila do Bispo, desdobrável de José Tomás OLIVEIRA & Paulo FERNANDES de 2010 (Associação para a Defesa e Divulgação do Património Geológico do Alentejo e Algarve), edição da Câmara Municipal de Vila do Bispo.

* Os autores agradecem a valiosa colaboração prestada por: Assalino António da Conceição Vieira, Oficial da Armada aposentado; José António Correia de Oliveira, Câmara Municipal de Vila do Bispo; Neusa Alexandra Leal da Luz Alexandre, Câmara Municipal de Vila do Bispo, Vilson André Valentim Palma, Câmara Municipal de Vila do Bispo

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Direção Regional de Cultura do Algarve - www.cultalg.pt

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Sistema de informação para o Património Arquitetónico - www.monumentos.pt

Portal do Arqueólogo – www.arqueologia.igespar.pt

Portal de Turismo do Algarve - www.turismodoalgarve.pt

Diocese do Algarve – www.diocese-algarve.pt

Parque Natural do sudoeste Alentejano e Costa Vicentina - www.icnf.pt

Marinha Portuguesa/Direção de Faróis - www.direccaofarois.marinha.pt

Museu Nacional de História Cultural - www.mnhnc.ul.pt

Museu Nacional de Arqueologia - www.museuarqueologia.pt

Centro de Ciência Viva de Lagos – www.lagos.cienciaviva.pt

Blog Freguesia de Budens - budensfreguesia.blogspot.com

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