Algumas das Personalidade que integram a Memória Colectiva

1. Bernardim Ribeiro

Pouco se sabe da biografia de Bernardim Ribeiro, além de alguns dados na sua obra e alusões na poesia do amigo Sá de Miranda. Filho de Luís Esteves Ribeiro que trabalhava como tesoureiro do infante D. Fernando, filho do rei D. Manuel, nasceu na vila do Torrão por volta de 1482 e frequentou o curso jurídico da Universidade entre 1507 e 1512. Casou com D. Maria Vilhena, filha de D. Manuel de Meneses, senhor de Cantanhede, que o deixou, poucos anos depois, viúvo e com uma filha.

Nomeado escrivão da câmara de D. João III em 1514, frequentou a corte de Lisboa e participou nos serões do paço. Alguns dos seus poemas foram incluídos no "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende (publicado em 1516).

Outros dados biográficos indicam também que terá militado nas armadas da Índia e exercido funções de moço-fidalgo, capitão da fortaleza de São Jorge da Mina e comendador de Cristo no reinado de D Manuel.

Além de 12 poemas incluídos no Cancioneiro Geral, é autor de cinco éclogas, uma sextina e da novela incompleta "Menina e Moça". A novela foi publicada pela primeira vez em 1554, na cidade de Ferrara (Itália) sob a orientação do judeu exilado Abraão Usque. Este facto, associado com o forçado afastamento da corte de Bernardim, tem alimentado especulações que seria de origem judaica. Mas não há documentos que o confirmem.

Como não há certezas do ano do seu nascimento, também se desconhece o ano em que morreu. Alguns autores situam-no por volta de 1552, mas na écloga "Basto", redigida antes de 1544, Sá de Miranda refere-se ao “bom Ribeiro amigo”, dando-o como falecido.

Restam dele: um livro, meio romance de cavalaria, meio romance pastoril. É o autor que marca a transição entre os dois géneros. Quando a escola clássica se desenvolve, encontra-se na lírica de Bernardim os últimos ecos da poesia provençal. Dele afirmou Garrett “Não houve poeta português que escrevesse mais com o sangue do coração”.

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Fig. 1 – Torrão. Estátua de Bernadim Ribeiro, no Largo do mesmo nome. Fotos de Rosa Nunes.

Fig. 2 – Torrão. Estátua de Bernadim Ribeiro, no Largo do mesmo nome. Fotos de Rosa Nunes.

2. Pedro Nunes

Considerado por muitos como o maior matemático português e como um dos maiores do seu tempo, Pedro Nunes nasceu em Vale de Guizo (Alcácer do Sal) em 1502. Também designado por Petrus Nonius o salaciense, a versão latinizada do seu nome, pensa-se que seria de origem judaica, porém, na realidade pouco se sabe sobre a sua vida e a sua família.

Viveu no período de maior prosperidade do país e as viagens dos descobridores portugueses motivaram-lhe os estudos. Começou por estudar Filosofia e Matemática na Universidade de Lisboa, prosseguindo mais tarde os estudos em Salamanca, Espanha. Em 1525 alcançou o grau de bacharel em Medicina e, quatro anos mais tarde, foi encarregado da regência da cadeira de Filosofia Moral na Universidade de Lisboa, instituição onde leccionou também Lógica e Metafísica. Ainda em 1529, no dia 16 de Novembro, o cientista foi nomeado por D. João III como cosmógrafo do reino, posição de grande notoriedade.

Com o intuito de se dedicar quase exclusivamente à investigação, Pedro Nunes abandonou o ensino oficial em 1532, continuando, contudo, a ser tutor dos infantes D. Luís e D. Henrique (futuro cardeal e rei na sequência do desaparecimento de D. Sebastião).

A 16 de Outubro de 1544, retomou a docência, desta feita da disciplina de Matemática na Universidade entretanto transferida para Coimbra, cidade onde viveria até ao final da vida. Três anos depois, a 12 de Dezembro de 1547 passou a ser titular do cargo de cosmógrafo-mor do reino, pelo que se deslocava com frequência a Lisboa para tratar de questões relacionadas com a navegação.

Pedro Nunes morreu a 11 de Agosto de 1578 mas deixou uma obra tão vasta quanto inovadora. Fundador da navegação teórica, mudou a forma como os descobridores portugueses percorriam o mundo. A sua maior descoberta, a curva loxodrómica, revolucionou a navegação e a cartografia. Apesar disso, terá sido o nónio, instrumento que consiste na justaposição de escalas no astrolábio náutico ou no quadrante, o invento que mais o celebrizou. Entre as obras escritas pelo matemático destacam-se Tratado da Esfera, de 1537, e De Crepusculis, livro datado de 1542 em que é apresentado o nónio e em que o matemático resolve o problema da determinação rigorosa da duração dos crepúsculos para dada latitude e dado dia do ano.

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Fig. 1 – Imagem de Pedro Nunes. Arquivo da Câmara Municipal de Alcácer do Sal.

3. Rui Coelho

Músico de temperamento revolucionário e educado nos princípios mais avançados da sua arte” era assim que o escultor e escritor, Diogo de Macedo, descrevia, em 1942, Ruy Coelho, compositor que nasceu em Alcácer do Sal a 2 de Março de 1886.

Filho de um barqueiro do Sado, Ruy Coelho iniciou os seus estudos musicais muito cedo, primeiro no Conservatório Nacional e, mais tarde, em Berlim, na Alemanha, onde foi aluno de Engelbert Humperdink – mestre que Richard Wagner escolheu para professor do seu filho, Siegfried Wagner. Ainda por terras germânicas, trabalhou com Max Bruch, diretor da Liverpool Philarmonic Society, e com o compositor austríaco, Arnold Schönberg.

De regresso a Lisboa, apresentou, em 1913, no Teatro São Carlos, O Serão da Infanta, a primeira ópera cantada em português, por artistas portugueses. Um ano mais tarde, chocou a burguesia lisbonense com a sua Sinfonia camoniana n.º1, obra que faria parte da banda sonora do filme Camões, realizado em 1946 por José Leitão de Barros.

Dono de um espírito inovador e de um notável ecletismo, Ruy Coelho teve um papel fundamental no surgimento de um teatro lírico de características assumidamente portuguesas, de que as peças Crisfal, Rosas de todo o ano, Auto da Aalma ou Orfeu em Lisboa são exemplo. Também de inspiração nacionalista foram criadas as Sinfonias camonianas, a Abertura comemorativa da chegada dos portugueses à Índia, os seis ciclos das Viagens na minha terra e a ópera Inês de Castro. Já as Suites portuguesas, constituídas por pequenos trechos descritivos, recriam algumas das mais belas e típicas paisagens nacionais, o que facilmente poderá ser percebido pelos títulos Promenades d’été au Portugal, Alentejo, Peninsular ou Alcácer.

Se a ópera e a música sinfónica foram as áreas em que Ruy Coelho mais se notabilizou, o compositor foi também pioneiro no campo do bailado. Em 1918, estreou A Princesa dos sapatos de ferro. Criada a partir de um conto de António Ferro, esta foi a primeira produção nacional de bailado.

Pianista e maestro ilustre, faleceu a 5 de Maio de 1986. A sua vastíssima obra permanece, porém, quase remetida ao silêncio, uma vez que são muito poucas as edições discográficas de peças suas.

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Fig 1 – Rui Coelho. Arquivo da Câmara Municipal de Alcácer do Sal.

4. Rosa Colaço

Conhecida por escrever vários livros infanto-juvenis, nunca gostou de ser chamada escritora de literatura infantil. Sempre disse que quando escrevia, era para todos os leitores e defendeu durante toda a vida a importância da leitura no desenvolvimento e educação da criança.

Natural do Torrão, onde nasceu em 1935, Rosa Colaço fez o curso de enfermagem no Instituto Rockfeller mas optou pelo jornalismo, que exerceu em África (Notícias da Beira e Notícias de Lourenço Marques) e em Portugal (colaborou em vários jornais e publicou crónicas regularmente, durante 20 anos, no jornal A Capital). Frequentou a Escola do Magistério de Évora e destacou-se como professora do ensino básico em Moçambique, em Cacilhas e em Almada, onde passou a viver. Foi também assessora da RTP durante 12 anos, tendo sido responsável por vários programas para crianças, como “Eu sou capaz” ou “Como é, como se faz, para que serve”.

O seu primeiro livro foi “Espanta pardais” e escreveu entre outros títulos, "A gaivota" (prémio Soeiro Pereira Gomes, em 1982), "Pássaro branco" (prémio Alice Gomes) "O menino e a estrela", "Aventuras de João-Flor e Ana-Amor", “Aventuras com asas” ou “Maria tonta como eu”. Em 1958, com a peça "A outra margem", ganhou o Prémio Revelação de Teatro.

A sua obra mais conhecida é “A criança e a vida”, "esse milagre de pedagogia poética", nas palavras de Urbano Tavares Rodrigues. Uma antologia de textos infantis que deu asas à capacidade de sonho e invenção dos mais pequenos e teve mais de 40 edições em várias línguas.

Morreu a 13 de Outubro de 2004. Está sepultada no cemitério do Torrão.

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Fig. 1 – Rosa Colaço. Arquivo da Câmara Municipal de Alcácer do Sal.

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