Palácio da Carreira

Tipologia:Património Civil.

Localização:União de Freguesias de Santiago do Cacém, Santa Cruz e S. Bartolomeu da Serra, cidade de Santiago do Cacém, Largo do Capitão-Mor J. J. Salema de Andrade.

Georreferenciação:38° 0'58.64"N; 8°41'53.67"W.

Datação:Finais do século XVIII – inícios do XIX.

Propriedade:Privada (família Falcão e Silva).

Proteção:MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 740-AF/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24-12.

O edifício encontra-se normalmente fechado ao público.

Resenha Histórica:

Edifício mandado construir entre 1785 e 1808, possivelmente pelo 6.º morgado do vínculo dos Raposos, o fidalgo José Joaquim Salema de Andrade Raposo Pessanha (1757-?), e terminado pelo seu filho José Joaquim Salema de Andrade Guerreiro de Aboim (1782-1862), 7.º morgado dos Raposos. Ambos ocuparam o cargo de capitão-mor da vila de Santiago do Cacém e o último evidenciou-se precisamente no ano de 1808, em que liderou a revolta contra os invasores franceses, tendo sido eleito para presidir à Junta de Governo de Santiago do Cacém.

Apesar de a conclusão da construção do edifício datar do ano da luta contra os invasores franceses, a decoração das várias salas e salões do palácio terá decorrido entre 1790 e a segunda metade do século XIX.

Com a morte do 7.º morgado dos Raposos, José Joaquim Salema de Andrade Guerreiro de Aboim, o palácio passou por herança para o seu sobrinho-neto, José Maria Salema de Avillez (1844-1890), irmão do 3.º conde de Avillez. Este vendeu o edifício a D. Maria Augusta de Campos, que por sua vez o vendeu também, na década 1870, ao Dr. Luís Maria da Silva (1842-1893), mantendo-se até hoje na posse dos seus descendentes. O filho deste último, Dr. João Gualberto da Cruz e Silva (1881-1948), que residiu no palácio, interessou-se pela arqueologia do concelho, tendo retomado as escavações em Miróbriga (mais de um século depois das primeiras campanhas de escavação da cidade romana) e que, com as suas coleções de arqueologia e numismática, criou uma sala de antiguidades, futuro Museu Municipal, no edifício da câmara.

Descrição da Fachada Principal:

O alçado principal do palácio mostra-nos uma equilibrada fachada neoclássica, dividida em piso térreo, piso nobre e prolongamento do sótão numa elegante mansarda. Ao nível do rés-do-chão, apresenta dois módulos de três janelas e uma porta nos extremos da fachada, separados ao meio pela porta principal. Cada um destes vãos, à exceção do central, é rematado por um pequeno frontão triangular, sendo as janelas gradeadas em ferro forjado. A porta de acesso ao átrio principal é mais larga que os outros vãos e rematada por uma verga muito elaborada, decorada com elementos vegetalistas, sobrepondo-se ao lintel. O piso superior alinha nove portas janelas de sacada, com as guardas das varandas em ferro forjado. O vão central destaca-se dos outros vãos, prolongando a linguagem decorativa da porta principal e marcando a centralidade da fachada. Neste último, a bacia da varanda (suportada por dois modilhões, que evoluem sobre máscaras sorridentes) avança em relação ao alinhamento das outras que a rodeiam, prolongando-se num semicírculo. O vão é rematado por um frontão carenado, em curva e contracurva, rematado por uma grande folha de acanto que eleva este elemento sobrepondo-se à cimalha. As portas deste vão são compostas por vidraças polícromas. No seguimento do vão central, eleva-se a mansarda antecedida por uma espaçosa varanda, cujas guardas em ferro forjado ostentam leões rampantes de cor dourada. A mansarda propriamente dita possui uma elegante janela veneziana, também composta por vidraças coloridas, e cujo vão central é rematado por uma verga em cantaria carenada, num arco de curva e contracurva. O frontão conopial repete estes elementos, prolongando-se sobre os vãos laterais e terminando (tal como o da varanda nobre) numa folha de acanto que se sobrepõe à cimalha.

Heráldica:

O palácio não possui atualmente nenhuma heráldica no exterior [nota 1], no entanto uma fotografia do século XIX mostra que a mansarda terá sido rematada por um frontão triangular, onde existia uma pedra de armas; infelizmente trata-se de uma vista panorâmica, que não permite a leitura do brasão.

Notas:

1 – O átrio principal do palácio possui três brasões desenhados no teto, estes explicam a evolução da heráldica do 1.º proprietário do edifício, pois são acompanhados por cartelas onde está inscrito o nome do monarca que concedera cada um dos brasões.

Agradecimento:O autor agradece a disponibilidade e colaboração de António Júlio Limpo Trigueiros, genealogista que tem investigado a família Salema de Andrade de Santiago do Cacém e a sua ligação aos condes de Avillez.

Bibliografia:

BARATA, M. F. dos Santos (1993) – Resenha Histórico-Urbanística de Santiago do Cacém. Documento não publicado, consultável no Centro de Documentação do Gabinete de Reabilitação Urbana e Património da Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

CESÁRIO, G. J. (2007) – Memórias do Passado, Momentos do Presente [catalogo da exposição da CMSC realizada na Feira do Monte de 2007 em Santiago do Cacém]. Santiago do Cacém: Ed. Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

CESÁRIO, G. J. (2008) – 1755. O Terramoto de Todos os Santos em Santiago do Cacém. Santiago do Cacém: Ed. Junta de Freguesia de Santiago do Cacém.

CESÁRIO, G J. (2008) – 1808. Santiago do Cacém e a 1ª Invasão Francesa. Santiago do Cacém: Ed. Junta de Freguesia de Santiago do Cacém.

FALCÃO, J. A. (1991) – Património Construído e Urbanismo de Santiago do Cacém: Subsídios para um Ensaio de Enquadramento Histórico. Documento não publicado, consultável no Centro de Documentação do Gabinete de Reabilitação Urbana e Património da Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

LIMA, J. F. L. Falcão de (2009) – Gente de Entre Searas e Montados. Lisboa: Guarda-Mor.

SILVA, M. João da (1992) – Toponímia das Ruas de Santiago do Cacém. Santiago do Cacém: Ed. Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

SOBRAL, C. & MATIAS, J. (2001) – Património Edificado de Santiago do Cacém: Breve Inventário. Lisboa: Ed. Colibri e Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

Webgrafia:

CESÁRIO, G. J. – Palácio da Carreira, em Santiago do Cacém. Património & História [Em linha]. [Consult. julho/2014]. Disponível em http://www.patrimonius.net/detalhes.php?i=227.

CESÁRIO, G. J. – Scilicet nº 2 – Testamento de José Joaquim Salema de Andrade Guerreiro de Aboim. Município de Santiago do Cacém [Em linha]. [Consult. julho/2014]. Acessível em http://www.cm-santiagocacem.pt/viver/Cultura/EspacosCulturais/ArquivoMunicipal/Documents/2-Documento-Testamento%20de%20José%20Joaquim%20Salema%20de%20Andrade.pdf.

PEREIRA, Ricardo – Casa da Carreira/Palácio da Carreira. SIPA [Em linha]. [Consult. julho/2014]. Acessível em http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=14472.

Gentil José Cesário

Fig. 1 – Fachada principal do Palácio da Carreira. José Marias/CMSC, 2001.

Fig. 2 – Palácio da Carreira – porta. José Marias/CMSC, 2001.

Fig. 3 – Palácio da Carreira – varanda nobre. José Marias/CMSC, 2001.

Fig. 4 – Palácio da Carreira – varandim e mansarda no alçado principal. José Marias/CMSC, 2001.

Fig. 5 – Palácio da Carreira – mansarda voltada ao jardim, revestida por painéis azulejares com motivos maçónicos. José Marias/CMSC, 2001.

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