Necrópole das Casas Velhas

Freguesia/Concelho:Melides (Grândola)

Localização: 38°6'55.58"N; 8°43'13.55"W (C.M.P. esc. 1:25000; folha 505).

Cronologia: Idade do Bronze

Classificação:Imóvel de interesse Público, pelo Decreto nº 29/90, D.R. nº 163, de 17 de Julho.

O sítio arqueológico das Casas Velhas situada a cerca de 6,5Km em linha recta da actual linha de costa, ocupa área aplanada (125m de altitude) da planície litoral que se estende entre o Oceano e o sopé da Serra de Grândola.

Trata-se de necrópole de cistas da Idade do Bronze, integrada no que H. Schubart designou por “Bronze do Sudoeste” (Schubart, 1975).

Foi objecto de escavações arqueológicas promovidas pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal e dirigidas por Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, em 1975 e 1996, escavações desenvolvidas em extensão que permitiram pôr a descoberto 35 sepulturas organizadas em dois núcleos distintos, mas confinados.

As sepulturas são de tipo cista, individuais (ainda que, por vezes, tenham recebido mais do que uma inumação), de planta rectangular, raramente ultrapassando 1m de comprimento e formadas, em geral, por quatro esteios; teriam sido originalmente cobertas por tampa monolítica, na maioria dos casos já desaparecida ou simplesmente deslocada. Litologicamente, os esteios são, em grande parte, de natureza calcária, o que criou no interior da sepultura um ambiente favorável à conservação de material osteológico, ao contrário do que se verifica com a esmagadora maioria das necrópoles do “Bronze do Sudoeste”.

Embora situada nas proximidades da área de Sines, onde a partir do maciço eruptivo dos Chãos, para sul, até, pelo menos, à Herdade do Pessegueiro (Porto Covo), as necrópoles da Idade do Bronze aí escavadas (Tavares da Silva e Soares, 1979, 1981, 2009) possuem as sepulturas no seio de recintos tumulares de planta rectangular limitados por pequenos esteios, recintos que confinando entre si e interpenetrando-se formam monumentos funerários com o aspecto geral de favos, as sepulturas das Casas Velhas não integram quaisquer recintos, com a excepção da Sepultura 1 (núcleo sul), talvez pertencente ao “fundador” da necrópole, que era rodeada por estrutura subcircular de blocos pétreos.

O morto, colocado em posição contraída e não coberto por terra, como foi patente na Sepultura 1 (núcleo sul) que ainda conservava a tampa, monolítica e constituída por espessa laje de calcário, era, em geral, acompanhado por um recipiente de cerâmica. Porém, algumas sepulturas, claramente não violadas, não ofereceram qualquer espólio. Raramente o inumado recebia duas peças cerâmicas e/ou provisões de carne.

Obtiveram-se duas datações radiocarbónicas a partir de amostras de ossos de dois inumados (Sepulturas 14 e 35), cujos resultados foram, respectivamente:

- OxA-5531:3255±55BP (1670-1410 cal BC, a 2 sigma);

- Beta-127904:3260±60BP (1680-1415 cal BC, a 2 sigma).

Bibliografia

SHUBART, H. (1975) – Die Kultur der Bronzezeit in Südwesten der Iberischen Halbinsel. Berlim: Wolter de Cruyter & Co.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1979) – O Monumento I da necrópole do “Bronze do Sudoeste” do Pessegueiro (Sines). Setúbal Arqueológica, 5, p. 121-153.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1981) – Pré-história da Área de Sines. Lisboa: Gabinete da Área de Sines.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (2009) – Práticas funerárias no Bronze pleno do Litoral Alentejano: o Monumento II do Pessegueiro. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 17, p. 389-420.

Carlos Tavares da Silva

 

Fig 1 – Localização da necrópole da Idade do Bronze de Casas Velhas (Melides). Imagem de satélite Google Earth.

Fig. 2 – Aspecto da necrópole de cistas, da Idade do Bronze, de Casas Velhas (Melides). Foto arquivo MAEDS, 2012.

Fig. 3 – Aspecto da necrópole de cistas, da Idade do Bronze, de Casas Velhas (Melides). Foto arquivo MAEDS, 1975.

Fig. 4 – Aspecto da necrópole de cistas, da Idade do Bronze, de Casas Velhas (Melides). A sepultura que se encontra em primeiro plano conserva ainda a tampa, monolítica. Foto arquivo MAEDS, 1975.

Fig. 5 – Sepultura de tipo cista da necrópole da Idade do Bronze de Casas Velhas (Melides), contendo dois recipientes em cerâmica (taças tipo Atalaia) aí depositados como oferendas funerárias. Foto arquivo MAEDS, 1975.