Molinologia do Concelho de Grãndola

INTRODUÇÃO

MOINHOS DE ÁGUA

Desconhece-se se antes da formação de Portugal houve moinhos de água a funcionar no actual território grandolense, pois a mais antiga informação que se conhece, data de 1376. Nos finais do século XVI, havia mais de 20 moinhos de rodízio neste território e, no cômputo geral, há informação de terem existido cerca de 40. E se alguns duraram poucas décadas, outros, como os de Pero Gaita, Roubão e Piteira, funcionaram durante mais de 500 anos.

Por volta do século XI, surgiram também os moinhos de maré, que se expandiram a partir do século XIII, entre os rios Lima e Guadiana, dos quais há a registar um na península de Tróia.

Possivelmente devido à orografia do território, os moinhos que predominaram no Concelho, caracterizavam-se pelo seu rodízio, que era uma roda horizontal, com cerca de um metro de diâmetro, constituída por uma série de palas de madeira dispostas radialmente.

MOINHOS DE VENTO

No Concelho de Grândola, dada a proliferação de moinhos de água, os de vento só surgiram nos séculos XVIII e XIX, e todos eles do modelo fixo, o mais comum nesta zona do país.

Embora diferentes nos detalhes, estes moinhos possuíam torre fixa tronco-cónica, em alvenaria, dois pisos, escada, porta, janelas, capelo, mastro, velas, roda de entrosga, frechal, sarilho, mós, cambreiros e outros apetrechos.

Para suprirem a falta temporária de vento, alguns moinhos do século XX, como os de Santa Margarida, das Fontainhas, da Atalaia do Viso e da Nespereira, foram adaptados para molinhar com energia fornecida por motores de combustão.

POSTURAS MUNICIPAIS SOBRE A ACTIVIDADE MOAGEIRA

Em algumas zonas do Concelho, como nas Ameiras e em Melides, o Município foi levado a tomar medidas para regular a distribuição da água e evitar conflitos entre os moleiros e os agricultores.

O documento mais antigo da nomeação de um juiz, de que há conhecimento, é de 20 de Novembro de 1568, e diz:

"E lloguo na dita camara a Requerimento de antonio marques Procurador do concelho vista A nesessydade que avia Em esta villa de aver juiz dos molleiros Pello não aver na villa Por Ser morto ho quall Era Joaõ gonçalvezmorador Em esta villa molleiro avendo Respeito a nesessydade lloguo acurdaraõ aver o dito juiz do hofysyo dos molleiros pera o quall lloguo mandaraõ Requerer pera dita camara a andre Rodriguez Rasquaõ morador Em arcaõ termo desta villa pera aver de ser juis do dito hofysyo ho quall sendo prezente lloguo Pellos ditos hofysyais lhe foi mandado que servisse do hofysyo de juiz dos molleiros Em esta villa E seu termo E os Engymynasse dando a cada huum dos que Engymynasse carta Por elles E seus totores Em esta camara assynada pera o quall lloguo lhe deraõ juramento dos Santos avangelhos Em que ele pos a maõ decllarando-lhe Pello dito juramento que deus ha tomado que bem Servisse o ditohofisio bem E verdadeiramente com saã consiensia E que haos ditos molleiros, Engeminasse como milhor a sua consiensia podesse consintir deus nos que estivessem sofisientes e naõ nos que estivessem no dito hofisio ja prontos ho quall juramento dos Santos avangelhos elle teveE Por elle Prometeo fazer verdade pera o quall lloguo hos ditos hofisiais ho ouveraõ E o firmaraõ E confirmaraõ Em o dito hofisyo de juis dos molleiros Por bom fyrme E valliozo deste dia Em diante E o mandaraõ que Por elle sejaõ os molleiros Engeminados Ao quall lhes mandara passar suas cartas Por elle Juiz E Pellos hofisyais desta camara assynadas hos quais se lhe dara Enteiro redito pera o quall mandaraõ ser feito este Auto E termo E assinaraõ hos ditos hofisiais com o dito andre Rodriguez [...] E a carta que for passada Pellojuiz sera feita Pello escrivaõ da camara desta villa como he uzo E custume [...]" (44). (44) A. M. G. / L. A. V. de 1568 a 1571, fls 35v e 36.

Deveres dos moleiros

Além da obrigatoriedade de possuírem carta de ofício, os moleiros eram obrigados a cumprir outras regras que, possivelmente, vinham expressas no regimento. Uma delas era a de irem à Câmara prestar juramento, sempre que fossem molinhar pela primeira vez, ou quando mudassem de moinho. E esta regra aplicava-se também aos moleiros que vinham de fora, como demonstra este registo, de 16 de Outubro de 1568, em que compareceu perante os oficiais da Câmara:

"[...] belltezar fernandez mulleyro morador que disse ser em ToRes termo da villa de grandolla digo de santiago [do Cacém] E Requereo ao dito juiz E vereadores que elle vynha hora pera ho moynho de francisco Rodryguez em arquão pera o mollynhar E Por naõ ter carta de ezamynaçaõ por naõ ser custume omde elle servyo o dito ofycyo que Portanto Requerya a elles juiz E vereadores que lhe dessem juramento pera servyr o dito ofycyo E lhe dessem llyçença pera servyr ate aver enxamynador pera se enzamynar, E os dytos Juiz E vereadores lhe deraõ llogo juramento sobre os santos avangelhos em que o dito belltezar fernandez pos a maõ que elle Pello dyto juramento servysse o dyto ofycyo bem E verdadeyramente fazendo boas farynhas E de a seus donos as sob Pena de ser condenado nas penas da ordenacaõ, o quall belltezar fernandez tomou o dito juramento E por elle Pormeteo de o fazer bem E verdadeiramente segundo deus lhe desse a entender e lhe deraõ llycença que elle servysse o dito ofycyo ate quynze dyas do mes de dezembro deste ano de myl E quynhentos E sassenta E oyto anos sem abargo de naõ ter carta de ezamynaçaõ [...]" (46). (46) A. M. G. / L. A. V. de 1568 a 1572, fls 29 a 30.

Em 21 de Julho de 1653 foi estabelecido o seguinte:

Acordo que se fés sobre hos moleiros deste termo

E houtrosim sendo na mesma vereasão atras pelos ditos ofesiais serem informados pellas grandes queixas que em todo este ano avja que hos moleiros dos moinhos deste termo mohiaõ muito pam que uinha de fora de deferentes partes como hera do Campo de hourique Beja e FeReira e houtras partes e este hera continuo e em muita contidade e naõ querjaõ por essa Rezaõ moher o gram do pam que hera desta uilla he seu termo por dizerem que eeze estava Serto no que hauja grande falta de farinhas e o povo padesia a fome pelo que querendo eles ofesiais prover no Cazo pera Bom provimento do povo mandaraõ que fose apregoado que todo o moleiro dos moinhos deste termo naõ moesem pam Algum de fora a pesoa Alguma que fosse avendo gram dos moradores desta villa e seu termo o qual pam dos moradores da villa e termo moerjaõ primeiro que outro // Algum pam de fora e o de fora moerjaõ quando naõ houvesse pam da teRa e do termo e que pera isso caRegariaõ sempre desta uilla a porsaõ farinhas a ella todos hos dias como the agora faziaõ sob penna que fazendo ho contrarjo sendo por iso encoimados he sendo-lhe provado com huma testemunha de pagarem de penna he coima pera has Rendas do Conselho quatro mil Reis pagos da cadeia ho qual acordo mandaraõ fose apregoado pera vir a notisia de todas he que alem disto fosem os moleiros notefiquados com ha mesma penna em suas pesoas pera que naõ alegasem inogransia [sic] he asinaraõ […]” (). () A. M. G. / Livro de actas de vereações de ? (A. B. 1 / 10) fls 87 e 87v.

OS MOINHOS NAS FREGUESIAS DO CONCELHO (Fig. 1)

O problema da farinação, extensivo a toda a população do espaço grandolense, levou ao aparecimento de moinhos em todas as freguesias. Embora todos estes engenhos tenham cessado a sua actividade, e a maioria tenha desaparecido ou caído em estado de avançada degradação, ainda existem vestígios de alguns deles, nomeadamente dos moinhos de vento. Infelizmente, pela sua localização, tipo de construção e pressão ambiental, os moinhos de rodízio desapareceram praticamente da nossa paisagem.

AZINHEIRA DOS BARROS E S. MAMEDE DO SADÃO

É possível que os primeiros moinhos do território grandolense tenham surgido nesta Freguesia, na zona da Anisa, no século XIV. No cômputo geral, foram, até ao século XIX, construídos, no espaço desta freguesia pelo menos dez moinhos de rodízio e um de vento.

Moinhos de água

- Moinho de Mascarenhas 1

- Moinho de Mascarenhas 2

- Moinho da Piteira

- Moinho de Pero Gaita

- Moinho do Roubão

- Moinho do Vasquinho

- Moinho da Tojeira

- Moinho Novo

- Moinho do Pisão

- Moinho do Zambujeiro

Moinho de vento

- Atalaia do Viso

CARVALHAL

Devido às suas condições geológicas e ao seu povoamento, só há registo de terem existido dois moinhos de água na freguesia do Carvalhal.

- Moinho de Maré deTróia (séc. XVI e XVII)

- Moinho do Torroal.

GRÂNDOLA

Embora as informações não permitam determinar com rigor a localização de todos os moinhos nem os períodos da sua laboração, há notícia de terem funcionado na freguesia de Grândola cerca de catorze moinhos de água, de que restam poucos vestígios, e três de vento.

Moinhos de água

- Moinho da Ameira 1

- Moinho da Ameira 2

- Moinho do Borbolegão

- Moinho da Ponte

- Moinho da Vinha

- Moinho da Diabrória

- Moinho de Baixo

- Moinho de Pisão do Freixo

- Moinho de Enxota Tordos

- Moinho da Várzea- Moinho da Mangacha

- Moinho da Várzea Redonda

- Moinho da Represa

- Moinho da Castelhana

Moinhos de vento

- Moinho das Fontainhas

- Moinho dos Murtais

- Moinho da Corte Cerrada

MELIDES

Na freguesia de Melides funcionaram pelo menos sete moinhos de água (sem contar com os do Carvalhal), e dez de vento. Dos primeiros há poucos vestígios, mas dos moinhos de vento ainda se podem observar as paredes da maioria.

Moinhos de água

- Moinho de Cima

- Moinho do Meio

- Moinho Novo

- Moinho Velho

- Moinho do Vau

- Moinho das Canas

- Moinho do Samoucal

- Moinho da Bica

Moinhos de vento

- Moinho da Aldeia

- Moinho dos Bacelos

- Moinho Velho de Vale de Figueira

- Moinho Novo de Vale de Figueira

- Moinho da Boavista

- Moinho de Vale Abroteal

- Moinho da Marrã de Cima

- Moinho da Marrã do Meio

- Moinho da Casa Branca

- Moinho da Nespereira

SANTA MARGARIDA DA SERRA

Na freguesia de Santa Margarida da Serra, a mais pequena do concelho, funcionaram cinco moinhos de água, de que apenas restam vestígios, e dois moinhos de vento.

Moinhos de água

- Moinho da Adega

- Moinho da Estrada

- Moinho do Pego da Aderneira

- Moinho de Vale Carvalho

- Moinho do Açude

Moinhos de vento

- Moinho do Vale da Loba

- Moinho do Rosmaninhal

Sector do Património Cultural da Câmara Municipal de Grândola

 

Fig 1. mapa dos moinhos do Concelho

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