Castelejo

Freguesia/Concelho:(Vila do Bispo)

Localização:37° 5'59.37"N; 8°56'38.82"W (C.M.P., 601, Vila do Bispo, esc.1:25000).

Cronologia: Mesolítico e Neolítico antigo

O concheiro do Castelejo (Vila do Bispo) situa-se na margem direita e perto da foz do Barranco de A. de Marinho, a cerca de 100 metros da Praia do Castelejo e a 10 km a norte do Cabo de S. Vicente (Fig. 20). Coordenadas GAUSS: W 279152 (C.M.P., f. 601, esc. 1: 25 000, 1977). Ocupa a área de aproximadamente 3 000 m2, com substrato rochoso formado por xistos e grauvaques do Carbónico, em parte sobrepostos por arenito dunar. Escavou-se uma superfície de 47m2 e realizaram-se algumas sondagens-teste. A estratigrafia é complexa, contendo depósitos conquíferos intercalados por níveis arenosos, correspondentes a fases de abandono. A sequência iniciase por volta de 8 000 BP, ainda no Boreal, finais do Epipaleolítico, e prolonga-se até ao período Atlântico (Neolítico antigo). A densidade de artefactos é baixa; nos níveis inferiores e médios a utensilagem possui carácter essencialmente macrolítico e utiliza maioritariamente grauvaque; nos níveis superiores está melhor representada a utensilagem microlítica (trapézios, alguns de base menor retocada, crescentes, microburis). A cerâmica está presente somente nos níveis superiores, apresentando decoração impressa.

A fauna recolhida revela duas estratégias de subsistência distintas: nos níveis de base, datados a partir de carvão, de 7970 ± 60 BP (ICEN - 211), ou seja, 7039-6605 cal BC (a 2 sigma), são abundantes as conchas de Patella spp. e de Monodonta lineata (menos frequentes, as de Mytilus spp.) associadas a raros ossos de mamíferos, sobretudo de coelho, e a partes esqueléticas de peixes; nos níveis médios, atribuíveis ao Mesolítico, com data de 7450 ± 90 BP (Beta 2908) para amostra de carvão, bem como nos superiores, a fauna está representada exclusivamente por restos de invertebrados marinhos, predominando largamente as conchas de Patella spp. e de Mytilus spp. (com exemplares de grandes dimensões), ocorrendo ainda nos níveis superiores Thais haemastoma e o crustáceo cirrípede Pollieipes eornueopia. Consideramos a presença deste como um bom indicador da diversificação da dieta versus sobreexploração dos recursos. Assim, enquanto na base da sequência estratigráfica a composição faunística parece corresponder a actividades de recolecção, de pesca e de caça e, por conseguinte, à exploração de amplo espectro de recursos, os níveis médios e superiores, do Mesolítico e Neolítico antigo, respectivamente, comportam itens alimentares correspondentes à exploração de estreita banda de recursos.

Bibliografia

SOARES, J.; TAVARES DA SILVA, C. (2004) – Alterações ambientais e povoamento na transição Mesolítico-Neolítico na Costa Sudoeste. Actas do Colóquio Evolução Geohistórica do Litoral Português e Fenómenos Correlativos. Lisboa: Universidade Aberta, p. 197-423.

TAVARES DA SILVA, C.; SOARES, J. (1997) – Economias costeiras na Pré-história do Sudoeste português. O concheiro de Montes de Baixo. Setúbal Arqueológica, 11-12, p. 69-108.

Carlos Tavares da Silva

Fig. 1 - Concheiro do Castelejo. Localização na Carta Militar de Portugal, folha 601, esc. 1:25 000.

Fig. 2 - Concheiro do Castelejo. Aspecto dos níveis conquíferos. De notar, na base, a existência de um buraco de poste estruturado.

Fig. 3 - Concheiro do Castelejo. Perfil estratigráfico.

Fig. 4 - Concheiro do Castelejo. Estruturas de combustão em diversos níveis arqueológicos.

Fig. 5 - Concheiro do Castelejo. Estrutura de combustão.