Promontorium Sacrum: a mais emblemática paisagem sacra do Litoral Português

Joaquina Soares

Introdução

A ocupação humana da vasta superfície de aplanamento do Cabo de S. Vicente/Ponta de Sagres (Figs. 1 e 2) remonta a sociedades de caçadores-recolectores nómadas. Aí foi identificado e escavado, defronte à Rocha das Gaivotas, no sítio de Armação Nova (Figs. 3 e 4), um estabelecimento mesolítico, economicamente especializado na exploração de sílex (Fig. 7) e no marisqueio (Fig. 6). Este acampamento terá sido sazonal (Primavera/Outono) e recorrentemente frequentado entre cerca de 6500 e 5800 anos A.C. (Soares et al., 2005/2007). Nesse Passado longínquo, como na actualidade, o perceve (Pollicipes pollicipes) (Fig. 6) foi especialmente apreciado (Quadro 1) e intensamente explorado mau grado a dificuldade da sua recolha em escarpas abruptas batidas por forte hidrodinamismo. A partir do registo arqueológico disponível não podemos realizar incursões à superstrutura mágico-religiosa dessas populações, tão estreitamente ligadas à Natureza.

A plataforma de abrasão marinha do Cabo de S. Vicente/Ponta de Sagres, talhada em calcários do Mesozoico (Fig. 2), constitui uma paisagem natural única pela sua imponência agreste e directo afrontamento com o oceano, gerando um raro lugar sacro, onde a terra termina e o caos se inicia. Essa finisterra que vigia o sono do sol e cuja dobragem se revela cheia de dificuldades para a navegação à vela de sentido sul-norte, nos bons dias de verão e nortada (Tavares da Silva & Soares, 1993), interpondo-se entre o cheiro mediterrâneo da figueira e o do atlântico pinheiro bravo, constitui um dos espaços míticos de maior longevidade do território português. Com efeito, este promontório talvez possa ser considerado o mais significativo património cultural da Costa Sudoeste portuguesa, muito embora a passagem do tempo histórico nem sempre seja aí de fácil apreensão. O carácter religioso do lugar é expresso arqueologicamente no Neolítico através da erecção de largas dezenas de menires (Fig. 15), os quais criam o maior santuário pré-histórico de ar livre da costa portuguesa no fim do mundo conhecido, dedicado aos cultos de fertilidade e de ancestralidade, santuário onde se regulavam as rotinas da sucessão dos dias e das estações do ciclo agrícola, através da misteriosa fusão do sol com o oceano.

Da vitalidade deste espaço sagrado e dos seus rituais durante a Proto-história temos abundantes notícias relatadas por escritores da Antiguidade, que permitem supor a existência de um santuário de ar livre onde se cultuaria o deus fenício e púnico Baal Hammon a que na mitologia grega e latina correspondem respectivamente Cronos e Saturno. A “Ora Marítima”, escrita por Rufio Avieno no século IV d. C., a partir de um périplo massaliota realizado no século VI a. C., descreve assim este acidente maior da nossa costa (v.v. 201-205):

Então lá onde declina a luz sideral emerge altaneiro o Cabo Cinético, ponto extremo da rica Europa, e entra pelas águas salgadas do Oceano povoado de monstros”. Avieno continua, nos versos 215-217: “Segue-se um promontório, que assusta pelos seus rochedos, também ele consagrado a Saturno. Ferve o mar encrespado e o litoral rochoso prolonga-se extensamente” (Ferreira, 1985).

O carácter sagrado do lugar atravessa a Idade Média, dedicado ao culto de S. Vicente, mártir do século IV d. C., cujos restos mortais teriam, segundo a lenda, viajado de Valência até ao Cabo de S. Vicente do Corvo. Na “Igreja do Corvo”, de acordo com descrição do geógrafo muçulmano Edrisi, do séculoXII, confluíam peregrinos cristãos, islâmicos e moçárabes (Barata, 1997).

Também a aventura expansionista portuguesa dos séculos XV-XVI, que definitivamente ultrapassa a última fronteira oceânica, se reporta à mítica “Escola de Sagres”, onde o Infante D. Henrique teria com a elite intelectual do seu tempo planeado a acção que levaria o Promontorium Sacrum a deixar de ser o Fim do Mundo.

Em suma, sendo o Cabo de S. Vicente/Ponta de Sagres uma paisagem geomonumental por excelência, e com reconhecidas evidências arqueológicas, é na qualidade de património imaterial que eleva o seu interesse às escalas nacional e mundial.

O povoamento neolítico e a construção de uma rara paisagem megalítica

A população mesolítica da Costa Sudoeste foi a que mais precocemente integrou, no actual território português, a agricultura e criação de gado na economia de caça-recolecção-armazenamento. Estes grupos, em processo de semi-sedentarização, com mobilidade logística (Fig. 5) e crescimento demográfico (Soares, 1996), terão encontrado na intensificação económica proporcionada pela agro-pastorícia a forma de aumentar os recursos alimentares, assegurando, há cerca de 5500 anos A.C., o indispensável equilíbrio demográfico-ecológico. Deste período, assinalaram-se no concelho de Vila do Bispo dois povoados: Cabranosa e Padrão (Cardoso et al., 2001; Carvalho, 2008; Gomes, 1997; Soares e Tavares da Silva, 2004), que definem, com Samouqueira e Vale Pincel I, em Sines, o primeiro território neolítico português (Fig. 8). Na cultura material salientam-se grandes recipientes cerâmicos profusamente decorados por impressões e motivos pl,lugar de memória,, primeira metade do V el I, em Sines acam-se os recipientes cer ásticos, certamente destinados a armazenagem (Fig. 10). Na utensilagem lítica (Fig. 9), destaca-se o aparecimento de instrumentos em pedra polida e de uma maior especialização da pedra lascada em sílex, direcionada para a produção de instrumentos de corte (lamelas), especialmente destinados à ceifa de cereais. No sítio do Padrão, no decurso do Neolítico, provavelmente no Neolítico antigo evolucionado, ou mesmo no Neolítico médio, terão sido erguidos na suave elevação do habitat do Neolítico antigo, menires em calcário, de volume cónico ou bojudo. O menir 1, situava-se na proximidade imediata de uma lareira integrada na Camada 2 e correspondente ao mais antigo Neolítico regional, lareira com faunas selvagens associadas a domésticas (ovicaprinos e bovinos) e datadas entre 5600 a 5300 A.C. (Gomes, 1997). Porém, aquele menir não é conectável com a referida camada arqueológica, já que jazia directamente sobre o afloramento rochoso (Fig. 12). No Neolítico precoce, surgem na Costa Sudoeste as primeiras evidências de um provável culto integrador de “pedras erguidas”, representadas por pequenos menires ou bétilos anicónicos, pouco ou não afeiçoados, que podem ter desempenhado também outras funções, como a de segmentação do espaço doméstico; no povoado de Vale Pincel I (Sines), há cerca de 7500 anos, um pequeno (0,91m de altura máxima) monólito natural, de gabro-diorito e forma oblonga, apontada na extremidade livre, foi encontrado in situ, em plena camada arqueológica. Mário Varela Gomes (1997) refere a associação de um pequeno monólito esteliforme à Camada 3, do Neolítico antigo evolucionado, do extenso povoado litoral da Caramujeira (Lagoa), a menos de 25km para nascente de Sagres. A fase evolucionada do Neolítico antigo está representada no concelho de Vila do Bispo pelos povoados de Vale Boi (Fig. 11) e Vale Santo, ambos datados pelo radiocarbono. Vale Boi foi datado do final do VI e primeiro quartel do V milénios A.C., a partir de amostras de ossos de animais (Wk-13445/17030/17842/17843) (Carvalho, 2008) e Vale Santo, datado da primeira metade do V milénio A.C. (Wk-12139: 6245±60 BP; 4905-4588 anos cal A.C., a 2 sigma), a partir de amostra de Thais haemastoma (seg. Bicho et al., 2000). O Neolítico antigo evolucionado, pré-megalítico, com ritual funerário de inumação intra-habitat tem, no povoado algarvio de Castelo Belinho (Portimão), uma das suas mais expressivas e tardias evidências datadas por um significativo conjunto de 14 datações radiocarbónicas que abrangem a segunda metade do V milénio A.C. (Gomes, 2013). Esta aldeia neolítica de casas em materiais perecíveis, com plantas rectangulares, e necrópole de fossas intra-habitat (Fig. 13) revelou claros indicadores de estabilidade sustentada por economia francamente agro-pastoril (gado ovicaprino e bovino). Muito embora se localize apenas a 5Km do mar, a dieta dos seus habitantes baseou-se maioritariamente em alimentos de origem terrestre (80%), de acordo com a análise dos isótopos estáveis de 13C e 15N de mais de uma dezena de indivíduos. A sua relação com o mar parece ter sido essencialmente de índole superstrutural; aquele não só marcou o horizonte visual da aldeia, mas foi certamente fonte de conhecimento esotérico e de itens de prestígio como ficou patente na colecção de 22 braceletes em concha de Glycymeris bimaculata (Fig. 14) que eram usados (11 em cada braço) pelo provável fundador da aldeia, falecido com mais de 35 anos de idade (Gomes, 2013). Não é improvável que Castelo Belinho tivesse incluído no seu sistema de trocas braceletes de Glycymeris bimaculata, objectos de adorno que surgem parcimoniosamente em outros contextos funerários, em geral mal datados, mas que parecem ter um momento de apogeu nesta fase protomegalítica em que o Castelo Belinho se insere (ver, a propósito da distribuição deste tipo artefactual, Gomes & Paulo, 2003, Fig. 13).

Independentemente de uma localização cronológica precisa para a emergência dos menires no seio de sociedades neolíticas, estas realizações escultóricas mais ou menos elaboradas e mais ou menos monumentais, de dimensões muito variadas, percorrem um determinado ciclo, cujo zénite e fase de maior monumentalização parecem ocorrer na segunda metade do IV milénio A.C.. Definem espaços de celebração da religiosidade e ideologia megalíticas, superstrutura de sociedades campesinas afirmadas, para quem os cultos da fertilidade e dos antepassados, cimento da coesão social, seriam estruturantes no que concerne ao funcionamento dos mecanismos de reprodução social alargada. O estrato de implantação do cromeleque de Monte dos Amantes I, em Vila do Bispo (Fig. 17), escavado por Mário Varela Gomes, corresponde a um contexto justamente característico do Neolítico final (Gomes, 1997, p. 172; Gomes, 1989, Fig. 16).

De um modo geral, é recorrente a associação de menires a mós manuais pré-históricas. O menir 9 de Padrão (Fig. 16) possuía na respectiva estrutura de sustentação um depósito votivo constituído pelos elementos dormente e movente de uma grande mó manual a par de cerâmica pré-histórica e de conchas de invertebrados marinhos (lapa e berbigão) (Gomes, 1997, p. 166).

No concelho de Vila do Bispo, concentram-se mais de 50% (Fig. 15) dos menires algarvios (Prescott Vicente & Martins, 1979; Gomes, 1997,1989, 2010), e embora o seu estado de conservação seja débil, pois somente 4 exemplares se conservaram erguidos na posição original (Aspradantas, Gasga1, Padrão 2 e 8), foi ainda possível reconstituir pequenos alinhamentos (Padrão 10-14, Carriços, Marmeleiro, Marreiros I e II, Aspradantas) e recintos (Adreneira, Amantes I e II); o melhor conservado destes recintos (Fig. 17), Amantes I, possuía planta elíptica com 35m de diâmetro máximo orientado a nascente-poente, e 26m de eixo menor (Gomes, 1997, Fig. 17). Os menires do Monte dos Amantes foram valorizados através de percurso pedestre designado por “À Descoberta dos Menires” (Fig.17). Os menires da Pedra Escorregadia, Cerro do Camacho e Casa do Francês encontram-se classificados de Imóveis de Interesse Público através do Decreto Lei – 28.04.83.

No Barlavento algarvio, os menires não atingem o gigantismo dos alto-alentejanos, mas a sua dispersão é francamente superior; a ímpar concentração de menires no Algarve Ocidental (Fig. 15) reforça o carácter atlântico desta componente da cultura material neolítica.

Iconografia dos menires algarvios

No conjunto de mais de duas centenas de menires, a altura máxima observada não chega a atingir os 4m. Foram construídos em calcário e mais raramente em grés de Silves; apresentam frequentemente formas ovóides, cónicas, subcilíndricas, em geral apontadas, de carácter fálico. Este é sublinhado por cordão delimitador da glande fálica em quase todos os menires portadores de informação iconográfica (Figs. 18 e 19). Com efeito, a função sócio-religiosa dos menires algarvios é reforçada através da frequente adição (50% dos exemplares) de elementos em alto relevo e/ou gravados (Fig. 19), que integram padrão estereotipado nas seguintes variantes:

faixas verticais de cordões ondulantes, com dois, três ou quatro elementos; cadeias de elipses, de igual modo dispostas na vertical e unidas ou não por uma linha central, e, mais raramente por bandas de ovais adossadas ao cordão que delimita a glande fálica, também reconhecida em quase todos os exemplares decorados” (Gomes, 1997, p. 161).

A estandardização dos padrões de informação gráfica impostos às morfologias dos menires resulta da sua filiação em normas mágico-religiosas socialmente reguladas e decorrentes de um determinado mito de criação instituído por essas comunidades agro-pastoris. A sua mais completa narrativa encontra-se expressa no que poderíamos considerar uma excepcional cena mitológica, chave para a descodificação de tantas representações parciais dos mesmos princípios organizadores do universo das primeiras sociedades camponesas. Referimo-nos ao Menir 2 de Pontais (Silves), esculpido em monólito de grés de Silves com 2,46m de altura e que integrou um alinhamento menírico (Gomes, 2010) (Fig. 20): de forma fálica, acentuada por cordão relevado que destaca a glande fálica, apresenta na face principal e imediatamente abaixo da cabeça do menir uma cena de procriação entre um par de serpentes, cujos corpos ondulantes emergem da terra unidos em perfeito paralelismo e seguram sobre as cabeças, enroladas em espiral, o ovo da criação. O mesmo pictograma encontra-se patente nos menires do Monte de Roma (Fig. 21) em Silves (Veiga, 1891, est. 26a) e provavelmente nas representações truncadas dos menires de Odiáxere (Lagos) e de Abrutiais (Silves). Em 1986, num pequeno texto sobre literatura oral do Torrão, onde era evidente a situação de subalternidade social da mulher, e inspirada pelas descobertas dos menires da Caramujeira - Lagoa (Gomes et. al., 1978), escrevia a propósito da temática decorativa dos menires algarvios (Soares, 1986, p. 47):

[...] a partir da [cintura da] glande fálica partem bandas longitudinais de cordões ondulantes ou de cadeias de elipses que poderiam representar o sémen escorrendo da cabeça fálica em direcção à terra que por ele seria fecundada. Esta é uma imagem padronizada de um conceito de reprodução eminentemente masculino, em que a terra-mãe desempenha uma função passiva [...]”.

O padrão iconográfico descrito é claramente distinto do observado na composição com o par de ofídios do Menir 2 de Pontais que, por hipótese, pode corresponder a um momento imediatamente posterior ao do programa iconográfico antes referido.Em todas as variantes daquele primeiro padrão iconográfico, a glande fálica é a fonte e linha de partida para o encontro com a terra (Menires da Caramujeira – Lagoa –, do Figueiral –Lagos –, de Vale da Lama – Silves –, Figueira 8 e Senhora da Graça – Vila do Bispo). No Menir 2 de Pontais, os feixes ondulantes em sua líquida fluidez tornam-se serpentiformes, e ascendem agora a partir da terra, adquirindo autonomia e capacidade próprias para gerar vida nesses lugares de todos os prodígios criados pelas esculturas meníricas.

As arquitecturas megalíticas em geral e os menires em particular mantiveram capacidade de comunicação para intervir no imaginário colectivo até à subcontemporaneidade. No Neolítico final, o báculo (Cassen, 2012) neles acrescentado actualiza o discurso ideológico de uma formação social tribal hierarquizada, na qual os antepassados, ou melhor, os seus representantes parecem investidos de apreciável poder político (Soares, 2013), conforme se encontra expresso nos Menires 2 e 1 de Pontais (Gomes, 2010, Fig. 3.1), sendo o Menir 1 claramente antropomórfico. Durante o Calcolítico, sem aparentes rupturas, os menires em utilização recebem gravuras representativasdo todo poderoso astro solar, como se verificou no Menir 1 do Cerro das Pedras (Loulé) (Gomes, 2007, Fig. 12); uma das composições mais expressivas e sincréticas da arte megalítica do sul do país desta fase pode ser observada no menir alto-alentejano da Abelhoa (Gonçalves, 1971). Com efeito, as linhas ondulantes das primeiras composições iconográficas dos menires não são agora condicionadas pela força de gravidade da terra, contorcendo-se antes no redemoinho de verdadeira tempestade solar (Fig. 22).

Como tentámos demonstrar, a função identitária, cognitiva e comunicativa dos menires algarvios esteve longe de se esgotar na fase da sua construção. Estes monumentos foram sendo reintegrados nos discursos patrimoniais das sucessivas formações sociais pré-históricas, associadas à Revolução dos Produtos Secundários da Criação de Gado na transição para o III milénio A.C (sociedades tribais complexas), à revolução tecnológica da metalurgia do cobre e ouro durante o III e primeira metade do II milénios A.C (sociedades de tipo chefatura) bem como às sociedades proto-históricas, constituindo o suporte material, de acordo com Avieno e Estrabão, para ancorar os rituais associados ao santuário de Baal Hammon e/ou de Melqart/Heracles no Promontório Sacro, o Hieron Akroterion referido por Éforo, em meados do século IV a. C, na sua perdida História Universal (Salinas de Frías, 1988).

Megalitismo menírico versus megalitismo funerário

Durante o Neolítico médio megalítico e mesmo na sua precoce fase proto-megalítica (Soares & Tavares da Silva, 2000), configurou-se no Barlavento algarvio, Serra de Monchique (Ferreira, 1946; Formosinho, Ferreira & Viana, 1953-54; Viana & Formosinho, 1942; Viana, Ferreira & Formosinho, 1949, 1950, 1954), uma extensa necrópole de sepulturas colectivas de planta rectangular sob tumuli, de extraordinário conservadorismo arquitectónico, e que se manteve em funcionamento até ao III milénio A. C.. Embora se localize no exterior dos limites geográficos do território em análise, esteve certamente com ele relacionado, pois seria provavelmente o espaço funerário mais importante desta região, e por hipótese apenas acessível às linhagens mais directamente ligadas aos antepassados míticos das populações camponesas que habitaram a orla oceânica. Porém, no Neolítico final, foi construído, nas terras baixas de elevada fertilidade agrícola, a caminho do mar, no último quartel do IV milénio A. C.(Gomes, 1994), um monumento megalítico de câmara de planta poligonal a tender para circular (2.30m de diâmetro máximo) e corredor curto (1m) virado a sudeste, cuja escavação abrangeu somente cerca de metade do sepulcro. A área escavada no dólmen da Pedra Escorregadia (Vila do Bispo) revelou um ossário (Fig. 23) com mais de 10 indivíduos representados, acompanhados por restos faunísticos mamalógicos e malacológicos, bem como por artefactos cerâmicos e líticos característicos do Neolítico final/Calcolítico inicial. Esta cronologia de utilização do munumento foi confirmada radiocarbonicamente (Gomes, 1997, p. 179-80) pela datação de uma amostra de ossos humanos e três de invertebrados marinhos, obtendo-se, por calibração a dois sigma, o intervalo máximo de: 3370-2709 anos A. C.. O dólmen, edificado junto do Menir 1 da Pedra Escorregadia, integrou na sua construção um fragmento do monólito. Este comportamento pode ser lido como forma de reconhecimento e de identificação patrimonial das comunidades plenamente agrícolas, da Revolução dos Produtos Secundários da Criação de Gado, com a primitiva ideologia menírica.

O santuário proto-histórico através das descrições de autores da Antiguidade

As fontes escritas comportam incerteza, fantasia e até contradições, que devem ser levadas em consideração; apesar dessas limitações, convergem na existência de um santuário de ar livre nesta finisterra. A interpretação da Ora Marítima (vs. 201-17), escrita tardiamente (séc. IV d. C.), mas com informação recolhida desde o séc. VI a. C., sugere que o santuário teria sido dedicado a Baal Hammon, divindade fenício-púnica, transposta para Saturno na mitologia latina (Romero, 1999). Porém, a informação sobre o ritual deixada por Artemidoro e recuperada pelo geógrafo grego Estrabão na sua Geografia (século I a. C.)1 coloca em evidência similitudes com práticas religiosas do templo de Heracles/Melqart em Gadir, deixando em aberto a possibilidade desta divindade ter sido ali cultuada. As duas hipóteses podem ser conciliáveis se considerarmos não só os fenómenos de sincretismo religioso já referidos mas também a dimensão diacrónica do santuário: a Hércules/Heracles foi atribuída a abertura do Estreito de Gibraltar, façanha responsável pela descoberta de um novo mundo, o que poderia ter sobreposto aquele herói a Saturno (Balboa, 1992; García y Bellido, 1947, 1980).

Desse santuário sidérico, associado a divindades marítimas, deixou-nos Estrabão (Geog. III.1.4) o mais completo relato2:

Avançado sobre o oceano qual navio, não possui evidências materiais de um qualquer santuário ou altar a Héracles, como Éforo referira, ou a qualquer outra divindade, mas que em muitos sítios há grupos de três ou quatro pedras, que são pelos visitantes voltadas por tradição e deslocadas depois de fazerem libações. Aos peregrinos não é permitido realizar sacrifícios, nem frequentar o lugar durante a noite, pois os deuses nele se encontram. Pernoitam numa aldeia vizinha e entram nele durante o dia, levando consigo água, já que o lugar não a tem.”

Estas restrições seriam também praticadas no templo de Heracles-Melqart de Gadir, o grande centro económico e porto comercial que mesmo sob domínio romano (tratado de reconhecimento por Gadir da soberania romana em 206 a. C.) continuou exercendo a sua influência económica e cultural sobre a costa sudoeste portuguesa (Tavares da Silva, 2011).

Artemidoro teria referido, segundo Estrabão, a existência de um fundeadouro, provavelmente a enseada da Baleeira, onde os navegadores podiam não só fazer aguada, mas esperar o fim da nortada, cumprindo os rituais propiciatórios para o prosseguimento da viagem, após a dobragem do Cabo de S. Vicente.

Mário Varela Gomes (2001) reconhece nos menires do concelho de Vila do Bispo justamente os muito prováveis objectos de materialização da(s) divindade(s) e cultos que durante a Idade do Ferro continuaram a ocorrer nesta finisterra, descritos na Geografia de Estrabão.

São inúmeros os exemplos de persistência no imaginário e nas práticas religiosas populares de rituais associados à atribuição de poderes sobrenaturais, em geral conotados com a ideia de fertilidade, quer a esteios de antas, quer a menires (pedras com vida própria que representam o sobrenatural), nas mais diversas geografias3.

Do santuário de S. Vicente do Corvo à Escola de Sagres. A estranha realidade das viagens míticas

No Cabo de S. Vicente ter-se-á localizado, segundo fontes escritas, pois até agora não existem inequívocas evidências arqueológicas, um santuário que atraía peregrinos cristãos, islâmicos e moçárabes, testemunhado, nomeadamente pelo geógrafo muçulmano Muhammad al-Idrisi do século XII (Garcia e Cunha, 2004, p. 34-35):

«Esta igreja não sofreu alteração alguma desde o tempo dos «Rum» (cristãos) até hoje, possuindo terras e rendas que lhe são doadas e objectos de valor que lhe são oferecidos pelos cristãos, que ali acodem em peregrinação.

Está situada sobre um promontório que se mete pelo mar. No cimo da igreja estão (constantemente) dez corvos, aos quais nunca pessoa alguma viu ausentar-se ou saírem dali; os sacerdotes da igreja contam coisas maravilhosas dos corvos que tornariam suspeitoso quem as referisse.

Todos os que passam por aquela igreja vêem-se obrigados a não sair de lá até tomarem a comida hospitaláría (adiafa) que ali se oferece, sendo isto uma obrigação forçada e um uso constante que nunca se muda, e que, conforme é coisa sabida, tem vindo a prolongàr-se ininterruptamente, dos antigos aos modernos.

A igreja, com as suas dependências, é servida por sacerdotes e monges, e possui tesouros consideráveis e rendas copiosas que, na maioria, procedem de legados e donativos recolhidos nas comarcas e povoações do Ocidente, sendo empregadas nas necessidades da igreja e dos seus ministros e mais pessoas dedicadas ao seu serviço, assim como, também, para dar hospitalidade a todos os viajantes e peregrinos que vêm visitá-la, quer sejam poucos quer muitos.»

A igreja do Corvo estaria ligada à foz do Guadiana por uma estrada litoral e a Alcácer do Sal também por um caminho terrestre, de duas jornadas. Este santuário teria sido construído onde hoje se localiza a fortaleza do Cabo de S. Vicente, a partir de ermida dedicada à sepultura de S. Vicente, mártir nascido em Saragoça e martirizado em Valência no início do séc. IV d. C. (Diocleciano), cujos restos mortais teriam sido trazidos de Valência por cristãos, no tempo de Abderramão I (último quartel do século VIII), para este cabo do Mundo (Cabo de S. Vicente do Corvo), onde supostamente encontraria a paz (Dias, 1990). A recente publicação da necrópole visigótica/moçárabe do Padrão, na Raposeira, concelho de Vila do Bispo (Gomes & Paulo, 2011), sobreposta a povoado do Neolítico antigo (Fig. 24), veio acrescentar consistência à hipótese de ter existido na região uma aldeia ou mesmo um conjunto de casais agrícolas dispersos, pertencentes a comunidade moçárabe, que manteve, pois, o ritual cristão em período de governação islâmica. Com efeito, os escavadores da necrópole obtiveram datações radiocarbónicas que permitiram datar o cemitério dos séculos VII ao X. As sepulturas, de inumação, quer em simples fossa, quer em caixa revestida por lajes de calcário ou telhas planas (tegulae), orientavam-se E-W, sendo a cabeça do inumado virada para W e o corpo depositado segundo ritual cristão.

Depois da Reconquista, é provável que os acordos de rendição do séc. XIII tenham autorizado a permanência massiva dos vencidos (Torres, 1997, p. 445). Sobre este tema, leia-se Cláudio Torres (1997, p. 445-446):

[...] nos portos de Silves, Lagos e Sagres deve ter permanecido a melhor e mais avançada elite do seu tempo de carpinteiros, calafates e navegadores [...] Além dos contactos nunca interrompidos com Málaga e Tânger, Tunis ou Génova, já em inícios do século XIV veleiros começam a levar [para a Europa do Norte] o sal, o vinho e os frutos secos do Algarve. Nos portos cosmopolitas do Barlavento [...] estava a ser feita por essa altura a síntese tecnológica das tradições navais mediterrâneas e biscainhas que em breve ia permitir novas e mais arrojadas aventuras”.

Esta foi afinal a escola de Sagres que viria a receber o Infante”

Sobre a chamada Vila do Infante, as opiniões dividem-se, mas o mito persiste.

É provável que o Infante D. Henrique (Fig. 25) estivesse a viver no Algarve “por razão de sua vila que então mandava fazer”, segundo palavras de Zurara, em 1443. O centro da área que lhe fora outorgada pelo rei era o cabo de Trasfalmenar e em seu redor um termo com cerca de 6 Km de extensão, ou seja a área compreendida entre o cabo de S. Vicente e a praia do Martinhal (Garcia e Cunha, 1990, p. 51). Para consubstanciar a controversa realidade da Vila do Infante, talvez seja pertinente reproduzir aqui a sua carta testamentária (na versão publicada por Garcia & Cunha, 2004, p. 53, 54), datada de 19 de Setembro de 1460 e redigida em Sagres, pouco antes da sua morte, ocorrida em 13 de Novembro desse ano, tendo sido sepultado na igreja de Santa Maria em Lagos e posteriormente trasladado para o mosteiro da Batalha:

«Carta da Vila do Infante

Eu o Infante Dom Henrique regedor e governador da ordem da cavalaria de nosso Senhor Jesu Cristo, duque de Viseu e senhor de Covilhã, faço saber aos que esta minha carta virem que, esguardando como ao cabo de Sagres vinham e vêm muitas carracas, naus, galés e outros navios pousar, por não acharem tempo de viagem, onde acontecia estarem por muitos dias sem acharem nenhuma consolação de mantimentos e de outras coisas necessárias nem isso mesmo de água quase nada, tendo a povoação a uma légua e meia de onde jaziam e como também estando eles assim ali, alguns faleciam da vida presente e os lançavam por estas barrocas e praias e movido de piedade, entendendo quanto serviço nela fazia a Deus e a el-rei meu senhor e bem e consolação aos que a dito cabo viessem pousar, mandei edificar uma vila no outro cabo que ante(s) do dito cabo de Sagres está aos que vêm do ponente para levante, que se chamava terça naball (sic), à qual pus nome Vila do Infante. Em reverência de minha Senhora Santa Maria mandei em ela fazer uma sua capela e, fora da dita vila, acima do porto onde desembarcam os que das ditas carracas e naus, galés e navios saem, mandei fazer uma igreja à honra da Senhora Santa Catarina, onde em ela e no seu cemitério ao presente, depois que assim foi feita, são lançados e subterrados muitos dos navios que assim ali vieram pousar. E ora e depois de a dita vila assim ser feita, os que ao dito cabo vêm pousar acham consolação de mantimentos em abastança e águas e outras coisas de que assim ante(s), por o que dito é, eram minguados, a qual vila eu fiz por autoridade de el-rei Dom Afonso meu senhor e sobrinho, que Deus mantenha, e lha ofereci e fiz serviço dela que por meu falecimento lhe ficasse e a seus sucessores, sem nunca deles ser fora nem da sua coroa. E esguardando eu os muitos bens que recebi da Ordem de Cristo, de que assim sou governador, e serviço dos cavaleiros e freires dela, e com desejo de nela fazer acrescentamento lhe dei e dou para todo sempre a espiritualidade da dita Vila do Infante, na melhor maneira que lha eu posso dar e como à dita ordem é outorgada por nosso senhor o santo padre Pio segundo e melhor, se melhor for outorgado por o dito senhor santo padre e por os outros seus sucessores, além do que já assim tem outorgada e rogo encomendo aos que forem vigários ou capelães soldados da dita Ordem nas igrejas da dita vila, que lhes praza cada um em a igreja de que assim tiverem cargo dizerem em cada semana ao sábado uma missa de Santa Maria e a comemoração seja de Santo Espírito, com seu responso e a oração de fidelium Deus dizendo ante(s) do começo da dita missa alta voz com o rosto para os que a ela estiverem, que digam o pater nos ter e ave Maria por a minha alma e dos da Ordem e daqueles por que tido são rogar e daí vá por sua missa em diante e rogo e encomendo aos mestres e governadores que depois de mim forem da dita Ordem que em galardão do acrescentamento e bem que em ela fiz, lhes praza haverem por bem por sempre mandarem assim dizer as ditas missas como dito é. E por certidão disto mandei fazer esta minha carta assinada por mim e selada do selo de minhas armas, a qual mandei pôr na torre do cartório do convento da minha vila de Tomar. Feita em a minha vila de Vila do Infante, dezanove dia de Setembro, João de Morais a fez, ano do nascimento de nosso Senhor Jesu Cristo de mjl e iiiJc Ix (1460) anos. E na obrigação que os vigários ou capelães soldados que das ditas igrejas houverem ter cargo, se obrigarem de as cantar e lhes declararem obrigando os que sempre ao sábado sejam tidos dizer as ditas missas como suso faz menção.»

Sondagens arqueológicas realizadas na fortaleza de Sagres mostraram que a muralha henriquina se encontrava muito destruída, tendo somente persistido um pequeno troço junto da muralha setecentista (Viegas, 1997, p. 299) (Figs. 26-27). O conjunto arquitectónico tem sofrido muitas reconstruções, nomeadamente após o sismo de 1755 que ali provocou graves danos. Foi classificado como Monumento Nacional em 16 de Junho de 1910. A sua zona de protecção viria a ser definida em 30 de Maio de 1962 (Nunes, 1997) (Fig. 30). Também no Cabo de S. Vicente o património construído que chegou até nós é o resultado de muitas intervenções na longa diacronia.

Esta finisterra, no Passado remoto como nas Idades Moderna e Comntemporânea constitui, para lá da sua relevância religiosa e mitológica (Fig. 28), uma importante referência para a navegação do período dos Descobrimentos, foi citada por Cristóvão Colombo bem com em outros textos náuticos de século XVI (Garcia e Cunha, 2004, p. 40). Nos inícios do século XVI as construções do Cabo de S. Vicente são objecto de importante renovação. Por ordem do bispo de Silves, D. Fernando Coutinho, são edificados uma fortaleza, um convento destinado a frades Jerónimos que viriam no curto prazo a ser substituídos por franciscanos, residência bispal e um farol. Em 1587, o convento foi arrasado pelo corsário inglês Francis Drake, tendo a sua reconstrução ocorrido em 1606 (Figs. 29A-C). A extinção das ordens religiosas, em 1834, determinou significativa reconversão do edificado. A construção do farol actual, em 1904, assentou sobre a capela-mor da igreja de S. Vicente, onde, segundo a tradição estiveram as relíquas do santo. A actual planta das construções existentes no Cabo de S. Vicente (Fig. 29-D) deverá ser comparada com a de Alexandre Massai, de 1621 (Fig. 29A), para uma leitura com a necessária espessura histórica deste conjunto edificado, classificado de imóvel de interesse público (D. Lei nº 44075 de 5 de Dez. de 1961) co definição de zona de protecção em 30/05/1962 na II série do Diário do Governo nº 128 (Nunes, 1997) (Fig. 30).

Em suma, o Promontório Sacro é um dos lugares mágicos da cultura portuguesa e o ponto de máxima extensão sudoeste de uma Europa atlântica, onde o triângulo de diálogo algumas vezes começado e tantas vezes interrompido com o Continente africano e com o Novo Mundo deveria ser reactivado, em celebração da ideia de uma Humanidade solidária.

1Não tendo conhecimento directo da Península Ibérica, descrita sobretudo no livro III da sua Geografia, Estrabão recorreu a múltiplas fontes, nomeadamente dos seguintes autores: Homero (séc. VIII a. C.); Éforo (séc. IV a. C.); Artemidoro ( séc. II a. C.); Políbio (séc. II a. C.); Possidónio (séc. I a. C.).

2Leitura adaptada por Guerra, 1992.

3Cf. para o Cabo de S. Vicente, Vasconcelos, 1905, p. 202-206.

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Fig. 1 – Sudoeste algarvio: Cabo de S. Vicente/Ponta de Sagres.

Fig. 2 – Sudoeste algarvio: Carta Geológica de Portugal, esc. 1/50000. Instituto Geológico e Mineiro, levantada por Rocha, Ramalho, Manuppela & Zbyszweski, 1979.

 

Fig. 3 – Localização do sítio mesolítico de Armação Nova na carta militar, folha 609, esc. 1: 25000.

Fig. 4 – Vista aérea do Sudoeste algarvio, com a localização do sítio mesolítico de Armação Nova.

 

Fig. 5 – Acampamento temporário de Armação Nova (circunferência vermelha) integrado no sistema de povoamento e de mobilidade logística do Mesolítico da Costa Sudoeste.

 

Fig. 6 – A componente faunística da dieta da população mesolítica de Armação Nova era constituída exclusivamente por invertebrados marinhos. Em todas as camadas o perceve (Pollicipes pollicipes) foi o marisco mais consumido, seguido pela lapa (Patella sp.). Seg. Soares et al., 2005-7. Perceves. Foto de José Costa.

Fig. 7 – O sítio de Armação Nova foi um acampamento temporário especializado na exploração de sílex. Aí encontramos numerosos subprodutos da actividade de talhe destinada à formatação de núcleos, que eram transportados por essas populações para uso próprio no acampamento de base e/ou para troca com outros grupos. Desta forma, em Armação Nova, são raros os núcleos e utensílios. Seg. Soares et al., 2005-7. Foto de José Costa.

 

Fig. 8 – O primeiro território neolítico português surgiu na Costa Sudoeste, há cerca de 7500 anos. Sítios do Neolítico antigo (meados do VI milénio A. C.): 1 - Vale Pincel I (Sines); 2 - Praia da Oliveirinha (Sines); 3 - Samouqueira II (Porto Covo); 4 - Água da Moita (Odemira); 5 - Medo Tojeiro (Odemira); 6 - Castelejo (Vila do Bispo); 7 - Cabranosa (Vila do Bispo); 8 - Padrão (Vila do Bispo). Sítios do Neolítico antigo evolucionado (último quartel do VI milénio - V milénio A. C.): 9 - Salema (Santiago do Cacém); 10 - Brejo Redondo (Sines); 11 - Vale Marim II (Sines); 12 - Vale Vistoso (Porto Covo); 13 - Galés (Odemira); 14 - Vale Santo I (Vila do Bispo).

 

Fig. 9 – Artefactos em pedra lascada do povoado do Neolítico antigo de Cabranosa (em cima) – atenda-se à boa representação dos utensílios de corte (lamelas) –, e instrumentos em pedra polida (em baixo). Seg. Carvalho, 2008.

Fig. 10 – Recipientes cerâmicos do povoado do Neolítico antigo de Cabranosa, muito provavelmente destinados ao armazenamento, e decorados por impressões e elementos plásticos. Seg. Cardoso et al., 2001.

 

Fig. 11 – Cerâmica com decoração impressa, plástica e incisa do povoado do Neolítico antigo evolucionado de Vale Boi. Seg. Carvalho, 2008.

 

Fig. 12 – Menir 1 do Padrão. Este pequeno menir, anicónico, poderá ter sido erguido durante o Neolítico antigo, quando no local vivia uma comunidade agro-pastoril. No entanto, não foi possível estabelecer uma clara relação estratigráfica entre ele e a camada corresponde ao povoado do Neolítico antigo. Na mesma colina viria a ser construída uma necrópole de inumação visigótica (Gomes & Paulo, 2011), renovando a carácter “sagrado” do lugar. Seg. Gomes, 1997.

 

Fig. 13 – Aspecto da necrópole de inumação em fossas no interior do povoado neolítico de Castelo Belinho. Seg. Gomes, 2013.

 

Fig. 14 – A sepultura em fossa ou silo nº4 terá recebido o corpo do ancião (35 anos de idade) de mais elevado estatuto da comunidade aldeã de Castelo Belinho. O corpo do defunto foi sujeito a rituais de ocre e acompanhado de provisões alimentares. Foram igualmente colocados na sepultura artefactos de uso comum, com destaque para mós manuais, mas a mais expressiva marca distintiva deste personagem é constituída por 22 braceletes de concha de Glycymeris glycymeris, usados pelo defunto, 11 em cada antebraço. Seg. Gomes, 2013.

Fig. 15 – distribuição dos menires algarvios. Atenda-se à sua concentração no Barlavento, e em particular no concelho de Vila do Bispo. Seg. Gomes, 1997.

 

Fig. 16 – Menir 9 de Padrão. Seg. Gomes, 1997.

 

Fig. 17 – Planta do cromeleque do Monte dos Amantes. Seg. Gomes, 1997 e desdobrável dedicado à apresentação de percurso pedestre do cromeleque do Monte dos Amantes, editado pela Câmara Municipal de Vila do Bispo.

Fig. 18 – Primeira fase da estrutura decorativa dos menires algarvios: feixes de linhas ondulantes ou de cadeias de elipses que partem da cabeça do menir e se perdem na terra. Em cima à esquerda, Menir da Caramujeira (Lagoa), seguido do Menir de Odiáxere (Lagos). Em baixo, Menir 1 da Figueira. Seg. Gomes, 1997; Gomes et al.,1978; Gomes & Tavares da Silva, 1987; Soares, 1986.

 

Fig. 19 – Temas decorativos dos menires algarvios. Seg. Velhinho, 2005.

Fig. 20 – Mito da criação representado no Menir 2 de Pontal (Silves). Este menir, com 2,46m de altura, fez parte de um alinhamento de que subsistem quatro monólitos talhados em grés de Silves. Seg. Gomes, 2010.

 

Fig. 21 – Menires do Monte de Roma (Silves), cuja iconografia apresenta concepção idêntica à do Menir 2 de Pontal. Seg. Veiga, 1891.

Fig. 22 – Composição de gravuras esquemáticas polarizadas pelo sol, do Menir da Abelhôa (Reguengos de Monsaraz), atribuíveis ao Calcolítico. Seg. Gonçalves, 1972, em Soares, 1986.

 

Fig. 23 – Dólmen da Pedra Escorregadia. Planta da C. 5 (ossário). Seg. Gomes, 1994.

 

Fig. 24 – Planta da necrópole visigótica de Padrão. Seg. Gomes e Campos Paulo, 2011.

 

Fig. 25 – Iluminura com o Infante D. Henrique, da Crónica dos Feitos da Guiné de Gomes Eanes de Zurara. Paris: Bibliothéque Nationale (Apud Garcia e Cunha, 2004).

 

Fig. 26 – Fortaleza de Sagres. Desenho da colecção Cotton (1587) do British Museum. Apud Nunes, 1997 e Garcia & Cunha, 2004.

Fig. 27 - Fortaleza de Sagres. Planta com as sondagens arqueológicas. Na sondagem 4 surgiram vestígios atribuíveis à muito destruída muralha henriquina. Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Seg. Viegas, 1997.

 

Fig. 28 – Representação de São Vicente em iluminura do Livro de Horas de D. Manuel. Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga. Atenda-se à narrativa expressa no último plano da iluminura, onde os restos mortais do santo estão sendo recebidos em uma praia de abruptas arribas, sobre as quais se ergue imponente construção, talvez o convento de S. Vicente do Corvo. Mas não ficariam ainda por aqui os despojos de S. Vicente. A uma intervenção almorávida contra a igreja de S. Vicente do Corvo, seguir-se-á nova viagem das relíquias do santo para Lisboa por determinação de D. Afonso Henriques, após a conquista cristã de 1147.

Fig. 29A – Planta do forte e convento de S. Vicente. In Descrição do Reino do Algarve de Alexandre Massai, 1621 (Museu da Cidade de Lisboa).

 

Fig. 29B – Cabo de S. Vicente em Mapa da Configuração de todas as Praças [...], do coronel José de Sande de Vasconcelos, 1787(?). Lisboa: Biblioteca Nacional. Apud Garcia e Cunha (2004).

 

Fig. 29C – Fortaleza e convento de S. Vicente, em gravura do século XIX (O Panorama de 31 de Dezembro de 1842).

Fig. 29D – Planta actual do cabo de S. Vicente levantada pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Fig. 30 - Mapa com a delimitação da zona de protecção da área de S. Vicente/Sagres (Promontório Sacro). Adaptado de Gomes e Tavares da Silva, 1987, p. 72.