Igreja do Espírito Santo (Museu Municipal Pedro Nunes)

Marisol Ferreira

 

Freguesia/Concelho: Junta de Freguesia Unidas de Alcácer do Sal / Alcácer do Sal.

Localização: Espaço envolvente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal.38˚22’ 15.53” N; 8˚ 30’ 46.98” W. C. M. P. 1:25.000, folha 476.

Cronologia:Séculos I /V d. C.

Medidas de protecção: Classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-lei 45/93, DR 280, de 30-10-1993.

 

A Igreja da Idade Moderna

O hospital e a igreja do Espírito Santo (Figs. 1 a 5) marcaram desde sempre a Praça da Vila, atual Praça Pedro Nunes. Ignora-se o ano da sua construção, no entanto existem referências a este imóvel desde a segunda metade do século XV.

As visitações de 1512 e a de 1534 referem que o edifício sofreu alterações significativas:

[…] o que achamos que creçeo depois da visytaçam pasada do mestre noso senhor o segujnte Achamos ha casa do dito ospritall forrada de bordos e a seruemtja della mudada e posta na parede da parte do poebte homde esta hûu portal de pedrarja muito bem obrada e tem hûu mármore no meo do portal e tem hûuas portas de bordos com dois postigos e dyamte da porta esta hûu tavollejro que se serue per duas escadas e o pejto do tavolejro e manjnes e degraos he de pedrarja […] (Teresa Pereira, 2000, p.104-105)

O templo apresenta uma estrutura chã de planimetria rectangular. O portal, de moldura rectangular apresenta um frontão triangular encimado por óculo.

No alçado lateral foi inserida uma janela mainelada de duplo vão, decorada com motivos vegetalistas e assente sobre colunelos, também decorados (Fig. 3).

O seu interior de nave única, de planta simples rectangular possuía vestígios de um coro alto assente em colunas toscanas, dois altares laterais, de talha policroma, bem como o altar-mor, em estuque policromo de gosto rocaille, edificados em meados do século XVIII (Figs. 4 e 5).

Preexistências

No edifício funciona o Museu de Arqueologia desde 1914 e foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-lei 45/93, DR 280, de 30-10-1993. Fechado desde 2007 devido a um avançado estado de degradação, iniciou-se uma nova fase que teve como objectivo a requalificação deste espaço, cujo o projeto de requalificação e musealização se encontra em desenvolvimento pela autarquia. O futuro espaço museológico continuará a ser encarado como um edifício sagrado, signo de transcendência, lugar de memória, identidade e sentido, conciliando desta forma a vertente religiosa com a ocupação do espaço anterior à construção do edifício.

As escavações arqueológicas aí efetuadas, sob a orientação da signatária, revelaram uma longa diacronia ocupacional, expressa em uma potência estratigráfica com cerca de dois metros de espessura, documentando uma ocupação desde os séculos IV / III a.C. até à época muçulmana, perdurando posteriormente como espaço funerário durante os séculos XIV/XV a XIX. Estes vestígios são compostos por estruturas correspondentes a pequenas habitações e níveis de lixeira, estando bem delimitadas espacialmente.

Espólio: O espólio exumado pode subdividir-se em quatro grupos ou ambientes distintos, de acordo com a cronologia, nomeadamente da Idade do Ferro, romana, islâmica e cristã. No espólio associado aos enterramentos da necrópole cristã destacam-se as contas de terço, botões, medalhas, alfinetes, anéis. Para os outros períodos cronológicos, os fragmentos de vidro, moedas, terra sigillata itálica, sudgálica e clara, paredes finas, cerâmica campaniense, cerâmica comum e material de construção.

De realçar os seguintes achados que atravessam a diacronia das ocupações deste espaço:

  • escaravelho egípcio (Figs. 7 e 7a);

  • jarro” quase completo decorado com estampilhas e pintado;

  • urna com pintura de bandas de tradição orientalizante (Fig. 8);

  • ânfora romana da forma Almagro 51c, variante A, da produção do Sado, de inícios do século III d.C. (Fig. 9);

  • panela muçulmana do período emiral - século IX (Fig. 10);

  • Medalha em bronze, séculos XVI/XVII (Fig. 11);

  • Terracota de Nossa Senhora da Conceição com Menino ao colo, séc. XVIII (Fig. 12).

Bibliografia

FERREIRA, M. A. & CABRITA, A. C. (2008) - Escavações arqueológicas na Igreja do Espírito Santo. Comunicação apresentada no 1º Encontro de História do Alentejo Litoral (Inédita).

PEREIRA, M. T. Lopes (1998 e 2000) - Alcácer do Sal na Idade Média. Lisboa: Colibri e Câmara Municipal de Alcácer do Sal.

 

Fig. 1 – Localização na C.M.P., esc. 1:25 000, folha 476 da Igreja do Espírito Santo (Museu Municipal Pedro Nunes).

Fig. 2 – Fachada principal da Igreja do Espírito Santo. Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 3 – Janela manuelina. Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 4 – Altar lateral esquerdo. Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 5 – Pia benta (estilo manuelino). Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 6 – Nível romano com dolium in situ. Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 7 – Escaravelho egípcio com hieróglifos associados (século IV/III a.C.). Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 7A – Escaravelho egípcio com hieróglifos associados (século IV/III a.C.). Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 8 – “Urna” da Idade do Ferro com decoração de bandas a preto e vermelho. Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 9 – Ânfora Lusitana 3/ Almagro 51c. Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 10 – Panela muçulmana (período emiral - século IX). Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 11 – Medalha em bronze da Idade Moderna. Foto Arquivo C.M.A.S.

Fig. 12 – Nossa Senhora da Conceição em terracota com Jesus ao colo (século XVIII). Foto Arquivo C.M.A.S. 

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