Samouqueira

Freguesia/Concelho:Porto Covo (Sines)

Localização: 37°52'9.52"N; 8°47'34.17"W. (C.M.P. 526, Sines, esc.1:25000).

Cronologia: Mesolítico e Neolítico antigo.

Habitat de ar livre. Abrange área plana, aberta e arenosa, que se estende ao longo da arriba rochosa, junto da praia da Samouqueira. Forma dois núcleos separados por linha de água: um a norte com cerca de 150m de extensão, ocupado essencialmente no Mesolítico (Samouqueira I); outro, a sul, com 50m de extensão ao longo da arriba, com ocupação do Neolítico antigo (Samouqueira II).

A jazida assenta sobre arenito dunar; na falésia afloram xistos do Carbónico, sobre os quais ocorrem nascentes de água doce.

Samouqueira I foi objecto de trabalhos arqueológicos em 1984 (equipa do G.T.A. do Gabinete da Área de Sines, sob a direcção de Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, em parceria com equipa da Universidade de Alberta, dirigida por David Lubell), em 1985 e 1992 (campanhas da responsabilidade daqueles arqueólogos portugueses) (Soares, 1995 e 1996; Tavares da Silva e Soares, 1997). Samouqueira II foi intervencionada em 1990 e 1992 pelos mesmos arqueólogos portugueses (Soares, 1995).

Em Samouqueira I foram identificados dois níveis arqueológicos (Camadas 3 e 2), datados, respectivamente de 7520±60 BP (ICEN-729) – data obtida a partir de conchas de Patella sp., a qual permitiu obter, uma vez corrigida para o efeito de reservatório oceânico, 7140±70 BP, e calibrada a 2 sigma, 6177-5833 cal BC – e de 6370 ±70 BP (TO -130), por análise de ossos humanos.

A Camada 3, mesolítica, apresenta elevada densidade de artefactos líticos, de fácies geométrica com predomínio de trapézios. A análise dos restos faunísticos aí exumados indica padrão de subsistência de largo espectro, com abundância de invertebrados marinhos, estando presentes ossos de peixes e mamíferos (Cervus elaphus, Sus scrofa, Bos primigenius, Lepus capensis, Vulpes vulpes). São numerosas as estruturas de combustão repletas de termoclastos.

A Camada 2 forneceu dois esqueletos humanos de cronologia neolítica.

Samouqueira II revelou uma única camada arqueológica, com ausência de restos de fauna. A indústria lítica conserva, em muitos dos seus aspectos, matriz mesolítica, embora, no que se refere à obtenção da matéria prima, o chert, abundante no núcleo mesolítico, parece ter sido parcialmente substituído, no neolítico, pelo quartzo leitoso e cristal de rocha. Além disso, neste último núcleo, além de diferenças na composição dos geométricos, agora com predomínio de crescentes e de trapézios de base menor retocada (tipos ausentes em Samouqueira I), surgem flechas transversais.

A cerâmica de Samouqueira II integra recipientes de formas ovóides, esferoidais e taças em calote, sempre de bordo simples, com índice de decoração muito elevado. Predomina a decoração impressa executada a punção actuado obliquamente (com alguma cardial); a decoração plástica está bem representada com cordões segmentados e mamilos.

 

Bibliografia:

SOARES, J. (1995) – Mesolítico-Neolítico na Costa Sudoeste: transformações e permanências. Actas do 1º Congresso de Arqueologia Peninsular, 6. Porto, p. 27-45

SOARES, J. (1996) – Padrões de povoamento e subsistência no Mesolítico da Costa Sudoeste Portuguesa. Zephyrus, 49, p. 109-124.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1997) – Economias costeiras na Pré-história do Sudoeste Português. O concheiro de Montes de Baixo. Setúbal Arqueológica, 11-12, p. 69-108.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (2006) – Territórios da Pré-história em Portugal: 7 – Setúbal e Alentejo Litoral. Tomar: CEIPHAR.

Carlos Tavares da Silva

<p "> Joaquina Soares

 

 

Fig. 1 – Localização (assinalada por seta) do sítio arqueológica da Samouqueira. Vista de Norte.

Fig. 2 – Samouqueira. Imagem satélite do Google Earth.

Fig. 3 – O sítio arqueológica da Samouqueira em levantamento aerofotogramétrico.

Fig. 4 – Samouqueira I. Estrutura de combustão.

Fig. 5 – Samouqueira I. Indústria lítica.

Fig. 6 – Samouqueira II. Cerâmica.