Pessegueiro

Freguesia/Concelho:Porto Covo (Sines)

Localização: 37°49'59.92"N; 8°47'10.53"W (C.M.P. 1:25000, Folha 535)

Cronologia: Neolítico, Idade do Bronze (“Bronze do Sudoeste”) e Idade do Ferro

Necrópole proto-megalítica, povoado de ar livre e necrópole do “Bronze do Sudoeste” e necrópole da Idade do Ferro, testemunhos estes identificados em área com mais de 1hectare através de extensas escavações arqueológicas dirigidas por Carlos Tavares da Silva (Tavares da Silva e Soares, 1981) e promovidas pelo GTA do Gabinete da Área de Sines e pelo MAEDS.

A jazida desenvolve-se por superfície aplanada, limitada a norte e a sul por duas importantes linhas de água que se juntam, a poucas centenas de metros do Oceano, para formarem um só curso de água, actualmente muito assoreado, que, na Pré-história, se comportou como estuário. Este limitava a jazida arqueológica a oeste. O substrato geológico é constituído por arenito mal consolidado do Plio-Plistocénico, mas a leste da jazida afloram xistos do Carbónico e, nas proximidades (sob o fortim do Pessegueiro e na ilha do mesmo nome), ocorrem calcarenitos de origem dunar (“dunas consolidadas”).

As extensas escavações efectuadas permitiram identificar um nível de habitat do “Bronze Médio do Sudoeste” que integrava numerosas estruturas de carácter habitacional: lareiras de contorno subcircular estruturadas por pequenos esteios de xisto ou de arenito dunar, associadas a buracos de poste estruturados de igual modo que definiam bases de cabanas de planta rectangular (uma delas era lajeada e limitada a norte e este por pequenos esteios, possuindo, a leste, área vestibular também lajeada). Rodeando a zona habitacional e a curta distância desta, foram identificados seis monumentos sepulcrais do “Bronze do Sudoeste”, tendo sido dois deles totalmente escavados. São constituídos por sepulturas de tipo cista, delimitadas em geral por quatro esteios, dois laterais maiores e dois de topo menor, cobertas quase sempre por tampa monolítica (muitas vezes já removida pelas lavouras), cujas dimensões variam em torno dos seguintes valores: 1,00/1,20m de comprimento; 0,50/0,60m de largura e 0,60m de profundidade. O número de sepulturas varia entre 5 (monumento I) e 26 (monumento II).

Cada cista localiza-se no interior de recinto tumular, de planta rectangular, delimitado normalmente por pequenos esteios.

A inumação era acompanhada geralmente por um recipiente de cerâmica (taça carenada tipo Atalaia e/ou recipiente de colo estrangulado e decorado por nervuras verticais e/ou por bandas de pontuações). Excepcionalmente, ocorrem instrumentos metálicos (punções e punhais de cobre, espirais de prata) e elementos de colar em minerais de cor verde que surgem associados aos recipientes cerâmicos. Algumas sepulturas, mesmo sem mostrarem indícios de terem sido violadas, não ofereceram qualquer peça. No exterior das sepulturas e na área do respectivo monumento sepulcral, exumou-se abundante cerâmica, em geral muito fragmentada, de carácter doméstico.

Na área habitacional, a cerâmica difere da funerária quer na morfologia quer nas dimensões; dominam as seguintes formas: taça de bordo simples ou espessado internamente; vaso alto e subcilíndrico decorado por mamilos junto ao bordo; taça de carena baixa. Além dos recipientes de carácter doméstico, surgem “pesos de tear” em cerâmica, elementos de foice em sílex (denticulados), cadinhos de fundição com cobre aderente.

Bibliografia:

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1981) – Pré-história da Área de Sines. Lisboa: Gabinete da Área de Sines.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (2006) – Territórios da Pré-história em Portugal. Setúbal e Alentejo Litoral. Tomar: Centro de Pré-história do Instituto Politécnico de Tomar, 209 pp.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (2009) – Práticas funerárias no Bronze Pleno do litoral alentejano: o Monumento II do Pessegueiro. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 17, p. 389-420.

Carlos Tavares da Silva

Joaquina Soares

 

Fig. 1 - Localização em imagem do Google Earth do sítio arqueológico do Pessegueiro.

Fig. 2 – Pessegueiro. Área escavada com indicação do povoado da Idade do Bronze e do núcleos sepulcrais do Neolítico (IV), Idade do Bronze (I, II, III, V, VI) e da Idade do Ferro (VII).

Fig. 3 – Pessegueiro. Núcleo sepulcral neolítico.

Fig. 4 – Pessegueiro. Sepulturas do núcleo neolítico.

Fig. 5 - Pessegueiro. Artefactos em pedra polida do núcleo sepulcral neolítico.

Fig. 6 - Pessegueiro. Artefactos em pedra polida do núcleo sepulcral neolítico. O exemplar nº 1 é de fibrolite.

Fig. 7 - Pessegueiro. Base de cabana da Idade do Bronze.

Fig. 8 - Pessegueiro. Cerâmica do povoado da Idade do Bronze.

Fig. 9 - Pessegueiro. Cerâmica do povoado da Idade do Bronze.

Fig. 10 – Pessegueiro. Artefactos cerâmicos e metálicos do povoado da Idade do Bronze.

Fig. 11 – Pessegueiro. Planta do monumento sepulcral I, da Idade do Bronze.

Fig. 12 – Pessegueiro. Planta do monumento sepulcral II, da Idade do Bronze.

Fig. 13 – Pessegueiro. Núcleos sepulcrais do monumento II, da Idade do Bronze.

Fig. 14 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze.

Fig. 15 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze.

Fig. 16 – Pessegueiro. Sepultura, de tipo cista do monumento sepulcral II, da Idade do Bronze.

Fig. 17 – Pessegueiro. Restos osteológicos de dois inumados na sepultura 16, do monumento sepulcral II, da Idade do Bronze.

Fig. 18 – Pessegueiro. Restos osteológicos de dois inumados na sepultura 16, do monumento sepulcral II, da Idade do Bronze.

Fig. 19 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Sepultura 1 com elementos de adorno in situ.

Fig. 20 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Elementos de adorno da sepultura 1.

Fig. 21 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Sepultura 3 com recipiente de cerâmica in situ.

Fig. 22 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Sepultura 7 com recipiente de cerâmica e punhal de cobre in situ.

Fig. 23 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Sepultura 8 com recipiente de cerâmica in situ.

Fig. 24 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Sepultura 11 com recipiente de cerâmica e punção de cobre in situ.

Fig. 25 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Sepultura 13 com recipiente de cerâmica e punção de cobre in situ.

Fig. 26 – Pessegueiro. Monumento sepulcral II, da Idade do Bronze. Cerâmica do exterior das sepulturas.

Fig. 27 – Datações radiocarbónicas para o Bronze Médio do Sudoeste do Litoral Alentejano.