O ambiente marinho

A definição de mar no sentido estrito refere-se a uma solução aquosa de cerca de setenta elementos distintos, com uma concentração total média de 35‰, que forma uma massa de água em estado líquido que cobre cerca de 71% da superfície do planeta Terra. Entre os elementos que surgem dissolvidos na água do mar, o cloro corresponde a cerca de 55%, o sódio a cerca de 31%, o ião sulfato a cerca de 7,7%, o magnésio a cerca de 3,7% o cálcio a 1,2% e o potássio a cerca de 1,1%. Os restantes 65 sais que se incluem na composição da água marinha correspondem a cerca de 0,7% da quantidade total de sais dissolvidos. Atualmente a teoria que explica a origem da água dos oceanos que cobrem a superfície da Terra refere que o principal agente foi o vulcanismo que se observou durante os primeiros estados de formação do planeta. As emissões de gases criaram uma atmosfera rica em dióxido de carbono, enxofre, e vapor de água que posteriormente, com o arrefecimento do Planeta, terá condensado resultando na formação dos primeiros oceanos.

A Terra reúne um conjunto de características únicas, relacionadas com a sua massa, forma e dimensão da órbita de translação em torno do sol e rotação em torno do seu próprio eixo que permitiram que o seu arrefecimento em termos globais não baixe do ponto de congelação da água. Deste modo, o vapor de água que precipitou aquando do arrefecimento da atmosfera primitiva manteve-se no estado líquido. A presença de massas de água à superfície no estado líquido foi determinante na origem da vida. Os oceanos primitivos mantinham uma grande quantidade de hidrocarbonetos azotados de origem vulcânica que reagiam entre si dando origem às primeiras proto-bactérias quimio-sintéticas e fotossintéticas que, por sua vez, deram origem aos primeiros organismos coloniais e às primeiras células com núcleo (eucariotas).

A origem e proliferação de organismos fotossintéticos permitiu a formação de uma atmosfera rica em oxigénio que, em conjunto com um longo percurso evolutivo (3,5 mil milhões de anos) a que todo os proto-organismos vivos estiveram expostos, criou os ricos e complexos ecossistemas que têm marcado os diferentes capítulos da história natural do Planeta. Os oceanos para além da importância que tiveram na origem da vida na Terra (tanto em ambiente marinho como em ambiente terrestre) também exercem um papel fulcral no clima do planeta. Uma vez que água do mar é um fluido com elevada inércia térmica (calor específico), e a superfície do planeta não está exposta à luz solar de forma uniforme, existem massas de água com diferentes temperaturas. Estas diferenças de temperatura das massas de água do mar estão na origem de correntes de convecção térmica tanto na atmosfera como no no mar. As correntes de convecção térmica da água, em conjunto com o atrito que os ventos exercem sobre a superfície dos oceanos, movimento rotação da Terra, e efeito da atração da lua e sol sobre a massa de água dos oceanos, estão na origem de correntes marinhas superficiais. Estas correntes oceânicas, se não existissem continentes, circulariam livremente em torno de todo o planeta contribuindo para a redução do gradiente térmico entre as regiões equatoriais e polares, tornando o clima global da Terra mais ameno. Contudo, as grandes placas continentais presentes na superfície terrestre defletem as correntes marinhas limitando a influência das massas de água sobre determinadas regiões do planeta, em função da configuração que assumem entre si, contribuindo para a modelação do clima global. Quando a superfície da Terra arrefece ou é aquecida pelo sol a alteração de temperatura é mais rápida em terra quando comparada com o mar.

Como o mar é um fluido, este difunde os efeitos de uma alteração de temperatura a grandes distâncias devido à mistura vertical e movimentos de convecção entre massas de água. Numa região continental não ocorre este processo pelo que a energia solar penetra apenas uma fina camada da crosta superficial. Assim, uma das consequências do oceano poder absorver mais calor é que quando uma massa de água fica mais quente ou mais fria do que o habitual, demora muito mais tempo para essa área voltar à temperatura normal quando comparada com uma região terrestre. Deste modo, os “climas marítimos” nas zonas costeiras tendem a ser mais amenos e os “climas continentais” tendem a apresentar variações mais extremas quando comparamos por exemplo as temperaturas dia/noite ou inverno/verão. Os oceanos também exercem uma influência sobre o clima terrestre em escalas de tempo curtas, sobretudo nas regiões costeiras, existindo ciclos climáticos que podem durar anos a séculos. Estes ciclos estão relacionados com a influência da variação de fatores externos como a radiação solar, ou a acumulação de gases que potenciam o efeito de estufa (dióxido de carbono, metano, propano, etc.), ou arrefecimento adiabático (gases sulfurosos oriundos de erupções vulcânicas), que alteram os padrões de temperatura e circulação deste sistema complexo.

Dada a complexidade dos fatores que estão na base da dinâmica do sistema oceano/atmosfera nem sempre é possível definir uma relação de causalidade para explicar, ou prever o comportamento do mesmo. Para além da relevância que as correntes oceânicas têm na estruturação do gradiente de temperatura existente no planeta, a água dos oceanos alimenta o ciclo da água na Terra, tendo assim um papel estruturante no tipo de ecossistemas presentes em meio terrestre, pois dela depende a existência de pluviosidade, de rios e de lençóis freáticos que suportam a vida neste ambiente.