Ecossistemas marinhos

Cobrindo 71% da superfície da Terra, o meio marinho disponibiliza uma enorme diversidade de habitats passíveis de serem utilizados pelas mais diversas espécies que, ao longo da história natural da terra, se têm adaptado às mais distintas condições ambientais resultando nos ecossistemas mais produtivos e diversos que se conhecem na Terra. Uma das principais celeumas relacionadas com o estudo da vida em meio marinho que se manteve até meados do século XIX, relacionava-se com a existência de vida abaixo do limite de penetração da luz solar na coluna de água. Nesta altura, postulava-se a hipótese de que, uma vez que a luz solar é progressivamente refratada pela coluna de água, a partir de uma dada profundidade (entre os 200m e os 1000m) os Oceanos seriam desprovidos de vida pelo facto de que não existirem condições para suportarem a fotossíntese que é essencial para os produtores primários e a oxigenação da coluna de água.

O estudo das regiões mais profundas dos oceanos no entanto permitiu encontrar toda uma variedade de ecossistemas que se desenvolvem abaixo do limite de penetração da luz solar na coluna de água. A maioria destes ecossistemas dependem diretamente da zona fótica, onde os indivíduos se deslocam periodicamente para se alimentarem ou a partir de onde provém a matéria orgânica sob a forma de cadáveres de invertebrados, de peixes, de mamíferos ou de outros organismos (também designada neve marinha). No entanto, entre estes ecossistemas destacam-se as fontes hidrotermais, que são ecossistemas autossustentáveis cuja base da teia trófica não depende da luz solar, pois os organismos que a compõem não são fotossintéticos, nem da matéria orgânica oriunda das camadas superiores da coluna de água.

As fontes hidrotermais, que são relativamente comuns em redor dos Açores, desenvolvem-se sobretudo nas proximidades das cristas de abdução (zonas de afastamento) das placas tectónicas, onde a presença de bolsas de magma relativamente próximas da superfície da litosfera resulta na formação de correntes de convecção da água que se infiltra no leito marinho, criando um fluxo rico em nutrientes que são utilizados por bactérias quimiossintéticas de forma semelhante às bactérias outrora presentes nos oceanos primitivos. Estas bactérias, por sua vez, são os produtores primários que constituem a base da teia trófica presente nestes locais. Em termos gerais os ecossistemas marinhos podem ser classificados em função da profundidade, em função da sua proximidade com a plataforma continental, em função da natureza do leito marinho, em função das características fisicoquímicas presentes no meio aquático e, finalmente, em função da relação que mantêm com os ecossistemas terrestres e da dinâmica do mecanismo de maré.

No que concerne à proximidade das regiões continentais destacam-se dois grandes tipos de ecossistemas, os ecossistemas que se desenvolvem em áreas fora da influência direta das plataformas continentais, designadas por regiões Oceânicas, e os ecossistemas que ocorrem nos taludes e plataformas continentais, numa região designada por zona nerítica, e que portanto estão sob a sua influência direta. No presente documento iremos concentrar-nos apenas na estreita faixa entre a superfície e a isobatimétrica dos -30 m de profundidade. Os ecossistemas presentes na área de estudo incluem-se assim na zona nerítica de Portugal continental, mais precisamente na zona litoral.

Os ecossistemas que foram estudados no âmbito do Atlas da Biodiversidade Marinha do SW de Portugal Continental, podem ser classificados em dois tipos gerais em função da relação que mantêm com o meio terrestre e dinâmica da maré: os ecossistemas presentes nos andares supra e médio-litoral, que no seu conjunto constituem ecossistemas presentes na zona entre-marés (zona entre o limite máximo da preia-mar e o limite mínimo da baixa-mar) também designada por zona intertidal), e os ecossistemas presentes no andar infralitoral até à cota dos -30 m de profundidade que constituem parte dos ecossistemas presentes na zona circatidal.