Ecossistemas da zona intertidal

A zona intertidal, por definição, corresponde à estreita faixa de costa que está diretamente sob a influência das marés. O fenómeno das marés relaciona-se com a deslocação das massas de água resultante da influência da força de atração que a Lua e o sol exercem sobre o planeta Terra e com a força centrifuga relacionada com a rotação do sistema Terra-Lua. Este conjunto de forças atua e modela a massa de água dos Oceanos, sendo a força de atração da lua e a força centrífuga resultante da rotação do sistema Terra-Lua as mais intensas. A força centrífuga resultante da rotação do sistema Terra-Lua relaciona-se com o facto de a lua ter um movimento de translação em torno da Terra e a sua massa ser suficiente para desviar o eixo de translação para um ponto distante do eixo de rotação da Terra, localizado entre este planeta e a Lua.

Deste modo, o sistema Terra-Lua gira em torno de si mesmo, ou seja, efetua um movimento de rotação que gera uma força centrifuga. Uma vez que o sistema Terra-Lua se encontra em rotação, com um período de 29,5 dias, a posição da Lua em relação ao Sol varia. Assim, quando a Lua se encontra alinhada entre a Terra e o Sol (durante a Lua nova), as marés têm maior amplitude, pois a força de atração que este satélite exerce sobre a massa de água adiciona-se à força de atração do Sol. Quando a Terra se encontra alinhada entre a Lua e o Sol(durante a Lua cheia) a força de atração que o Sol exerce sobre as massas de água adiciona-se à força centrífuga resultante da rotação do sistema Terra-Lua.

De forma inversa, quando o alinhamento entre a Terra, Lua e Sol forma um ângulo reto (Quarto crescente ou Quarto minguante) as massas de água dos Oceanos são deslocadas em quatro direções distintas e assim a amplitude de maré é menor. Pelo acima descrito compreende-se a motivo pelo qual aproximadamente de 15 em 15 dias ocorrem marés de grande amplitude, que, na costa continental Portuguesa, podem representar diferenças de mais de 4 m de altura entre o limite mínimo da baixa-mar e o limite máximo da preia-mar. Uma vez que a terra mantém um movimento rotacional com um período de 24 horas e os locais para onde a massa de água se desloca (ponto da Terra que está mais próximo da Lua e ponto diametralmente oposto) se mantêm relativamente estacionários durante este período, um local apresenta aproximadamente dois ciclos de maré por dia. Da oscilação cíclica do nível do mar (que varia entre dois extremos, aproximadamente de 6 em 6 horas) surge uma estreita faixa costeira que fica periodicamente exposta às condições atmosféricas.

Nesta faixa, surgem organismos com adaptações específicas a estas condições e, no seu conjunto, formam ecossistemas únicos de transição entre o meio marinho e o meio terrestre. A forma como os organismos se distribuem na plataforma intertidal depende da sua tolerância à exposição às condições atmosféricas, em particular à dessecação. Assim, no limite superior do intertidal surgem espécies muito tolerantes à dessecação, elevadas temperaturas e variações de salinidade que conseguem subsistir apenas com a humidade resultante da evaporação e condensação da água do mar, ou da aspersão das ondas. No limite inferior do intertidal surgem espécies menos tolerantes a essa exposição. Em geral, as espécies distribuem-se de forma estratificada em povoamentos designados por biocenoses. O termo biocenose corresponde a uma área em que existe uma, ou um conjunto de espécies, claramente predominantes que formam povoamentos distintos em função de um ou vários fatores ambientais presentes. Na zona intertidal, os fatores limitantes que modelam as comunidades presentes são: a dessecação; a exposição à luz solar; a tolerância a variações da temperatura relativamente rápidas e de grande amplitude; a tolerância a oscilações significativas dos níveis de salinidade; a resistência à predação por parte de predadores terrestres e marinhos; e a tolerância ao desgaste físico associado à ondulação. A exposição à dessecação é um dos principais fatores limitantes para as espécies presentes na zona intertidal pois os organismos que povoam o supra e o médio-litoral são espécies marinhas, ou seja, não estão adaptadas à vida em meio terrestre.

Assim, quando expostas às condições atmosféricas estas espécies terão de ter defesas naturais que lhes permitam suportar elevada desidratação associada à evaporação da água. Um dos principais problemas associados à exposição periódica a luz solar intensa prende-se com a desnaturação de proteínas essenciais ao metabolismo celular. Assim, as proteínas estruturais e funcionais presentes nas células das espécies que ocorrem nas planícies entre-marés apresentam estruturas moleculares mais estáveis e menos suscetíveis de serem degradadas pela exposição à luz solar. A temperatura em meio terrestre tende a ser mais variável e extrema do que em meio marinho pelo que as espécies presentes nas planícies do intertidal também terão que suportar esses extremos que podem ser temperaturas abaixo de 0°C nas regiões setentrionais, ou temperaturas muito elevadas nas zonas tropicais. As oscilações do nível de salinidade relacionam-se por um lado com a evaporação da água do mar durante o período de exposição dos indivíduos às condições atmosféricas e, por outro lado com a pluviosidade, que pode reduzir muito significativamente a salinidade presente no meio. Deste modo, os organismos presentes nos ecossistemas intertidais desenvolveram elevada tolerância a variações de salinidade ou mantém mecanismos osmoregulatórios muito eficientes que lhes permitem manter o equilíbrio celular osmótico.

A capacidade das espécies intertidais resistirem a predadores terrestres e marinhos está dependente da sua fecundidade e do desenvolvimento de características que lhes confiram algum grau de proteção como o desenvolvimento de exosqueletos, a produção de metabolitos tóxicos, ou deslocar o seu pico de atividade para o período noturno. Outro fator estruturante das biocenoses presentes na zona intertidal é a natureza do substrato. A ocorrência de organismos como as macroalgas e inúmeras espécies de invertebrados de vida séssil depende da presença de substrato sólido pelo que a composição dos ecossistemas intertidais é muito distinta em ambientes em que o substrato do leito é rochoso e fixo e ambientes em que o substrato é móvel.

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