12. Praia do Castelejo

12. Praia do Castelejo (N 37º 05' 59,5'' ; W 8º 56' 41,8'') 

A praia do Castelejo é a última praia talhada em formações do Carbónico observável no SW de Portugal.

Faz parte de uma longa sequência de praias (aproximadamente 5 km) que se prolonga desde o sul da praia do Amado até próximo do vértice geodésico de Torre de Aspa. O acesso à praia faz-se, desde Vila do Bispo, cruzando a plataforma de abrasão marinha antes de entrar na descida, ao longo de um vale muito encaixando, como é característico das litologias dominantes (essencialmente xistentas).

A arriba da praia é constituída, essencialmente por pelitos e grauvaques, de cor escura, e há a destacar nesta praia uma pequena ilha que fica isolada apenas durante a praia-mar e que dá o nome à praia.

Esta ilha é constituída por uma rocha diferente da que constitui a maior parte da arriba: trata-se de sedimentos mais modernos correspondentes a dunas de praia antigas em que os grãos se encontram cimentados constituindo o que se designa por uma duna consolidada. A diferença de idade entre as formações de pelitos e grauvaques que constituem o substrato da ilha e as areias consolidadas é da ordem dos 300 milhões de anos correspondendo ao que se designa por uma discordância: um período em que a sedimentação não ocorreu ou os sedimentos foram erodidos.

O carater discordante da duna consolidada relativamente aos sedimentos ligeiramente metamorfizados do Carbónico também é visível na arriba da praia. Ao longo da arriba é possível observar que a estratificação nas formações carbónicas se encontra muito inclinada, com as alternâncias de pelitos e grauvaques a inclinar mais do que 50º. Quando se olha para a duna consolidada, verifica-se que a estratificação inclina muito pouco, podendo dizer-se que é subhorizontal. Esta relação geométrica, em que a direção e inclinação da estratificação são diferentes acima e abaixo de uma discordância, toma o nome de discordância angular. A existência de uma discordância angular indica que entre a sedimentação da série superior e a sedimentação da série inferior ocorreu um episódio de deformação, que afetou esta, e é responsável pela maior inclinação observável. Nos sedimentos carbónicos, a expressão mais comum dessa deformação é o desenvolvimento de dobras e falhas.

Nalguns pontos da arriba também são visíveis dunas recentes, em que o material detrítico não se encontra consolidado. A dinâmica sedimentar desta praia é forte e a quantidade de areia existente é muito variável, havendo períodos em que se encontra totalmente ausente, estando a praia coberta de fragmentos de rocha da dimensão dos burgaus. Estes calhaus são, no geral arredondados, e de natureza semelhante à das rochas mais resistentes existentes na arriba, nomeadamente grauvaques e quartzo.

 

Figura 35 - Duna consolidada da praia do Castelejo.

 

Figura 36 - A - Duna consolidada (acima do tracejado azul) discordante sobre as formações do Carbónico. Observando a estratificação nos sedimentos mais antigos verifica-se que ela se encontra muito inclinada enquanto na duna consolidada ela está sub-horizontal. Esta relação geométrica, em que a estratificação faz um ângulo acentuado, designa-se por discordância angular. B – Estratificação (a amarelo) na formação do Carbónico e na duna consolidada.

Figura 37 - Arriba da praia do Castelejo onde é visível uma duna atual, de cor mais clara do que as rochas encaixantes e com mais cobertura vegetal.