Comunidades presentes em substrato rochoso

Tal como acontece com as comunidades presentes na zona intertidal, as comunidades circatidais presentes em substrato rochoso formam ecossistemas autossuficientes que não dependem do aporte de matéria orgânica proveniente de outros locais. Estes ecossistemas tendem a ser compostos por um maior número de espécies do que os presentes em áreas em que o substrato é predominantemente móvel pelo facto de existir uma superfície sólida que permite a fixação de macroalgas e espécies de invertebrados sésseis.

Nestes ecossistemas, as comunidades marinhas também formam povoamentos estratificados em biocenoses, que se distribuem em função da disponibilidade de luz solar. De facto uma das características mais relevantes dos biótopos presentes nestas zonas rochosas permanentemente submersas é o facto de, à medida que a profundidade aumenta, se assistir à transição entre macroalgas verdes para algas vermelhas e para algas castanhas e posteriormente à substituição dos povoamentos de macroalgas por povoamentos de fauna séssil, nomeadamente cnidários, espongiários e anelídeos.

Sendo organismos fotossintéticos, as macroalgas, como todos os produtores primários, na presença de luz transformam dióxido de carbono e água em glucose que por sua vez é utilizada para produzir ATP (adenosina-trifosfato) diretamente, ou indiretamente através da produção de NADH (dinucleótido de nicotinamida e adenina) e FADH2 (dinucleótido de flavina e adenina), que não têm um valor energético intrinseco, mas que são usadas numa via metabólica que culmina na síntese de ATP. Esta molécula é utilizada como combustível para a atividade celular.

Uma vez que o processo de síntese de ATP necessita de energia para ocorrer, as macroalgas necessitam de retirar essa energia do ambiente. Tal como todos os produtores primários as macroalgas retiram esta energia da luz solar, que ao incidir sobre um conjunto de moléculas especiais, em que se incluem os pigmentos fotossintéticos, designado por complexo de antena, provoca a alterações momentâneas ao nível da geometria e amplitude da nuvem eletrónica, onde os eletrões circulam em torno dos núcleos dos elementos que formam as moléculas, induzindo um estado de excitação molecular. Uma vez que o estado de excitação é um estado de desequilíbrio molecular, a geometria e amplitude das nuvens eletrónicas das moléculas presentes nos complexos de antena tende a voltar ao seu estado de equilíbrio. Quando tal acontece liberta-se energia que é canalizada para as reações da fotossíntese.

A refração da luz solar em função da profundidade atua como um filtro que vai selecionando progressivamente a radiação de diferentes comprimentos de onda em função da profundidade. A gama de radiações que se percecionam como cor azul são menos absorvidas pelas moléculas da água e como tal a água oceânica, devido à sua elevada transparência, tem uma cor azul. Esta absorção diferencial das radiações que compõem a luz branca é responsável pela estratificação dos povoamentos de macroalgas em função da profundidade, pois estes organismos, como forma de adaptação à refração da luz desenvolveram complexos de antena que são excitados por radiações com frequências e comprimentos de onda distintos.

Apesar da profundidade afótica em água límpida se situar em torno dos -100m, a transição das biocenoses predominantemente compostas por espécies de macroalgas para biocenoses predominantemente compostas por invertebrados sésseis ocorre a profundidades menores. Este facto deve-se em parte à turbidez das águas costeiras e, por outro lado, ao facto das características das biocenoses presentes em substrato sólido depender da competição pelo espaço entre as espécies de macroalgas e invertebrados como as anémonas, as gorgónias e as esponjas. A intensidade da luz solar presente atua assim como fator modelador dessas comunidades de tal forma que, em ambientes em que a intensidade luminosa permanece suficientemente elevada para que as macroalgas cresçam rapidamente, estas tendem surgir em maior abundância que as espécies de invertebrados sésseis. No entanto, a partir de determinada profundidade, o desenvolvimento dos propágulos e crescimento das macroalgas não é suficientemente rápido para impedir a fixação de espécies de invertebrados sésseis. Nesta altura observa-se a transição entre as biocenoses de macroalgas para biocenoses predominantemente constituídas por invertebrados.

Devido à relação que existe entre a distribuição das espécies presentes no subtidal e a profundidade ou a importância da disponibilidade de abrigo para a ocorrência de algumas das espécies que ocorrem em ambientes infralitorais de substrato sólido, os ecossistemas presentes em substrato rochoso são muito diversos e variam muito significativamente em função da natureza e morfologia do leito marinho.

Entre os ecossistemas que ocorrem em áreas de substrato predominantemente sólido destacam-se os ecossistemas presentes nos naufrágios, que são estruturas que atuam como recifes artificiais disponibilizando superfície para a fixação de organismos e abrigo em abundância para muitas espécies. Nestes locais a comunidade de ictiofauna tende a ser representada por um elevado número de espécies que aí encontra abrigo.

Adicionar novo comentário