Cerradinha

Freguesia/Concelho:Santo André (Sines)

Localização: 38° 5'53.61"N; 8°46'46.99"W (C.M.P. 1:25000, Folha 505)

Cronologia:Bronze final

A Cerradinha é uma baixa e ampla colina (cota máxima de 16m.; 450m., por 500m.) formada por terrenos arenosos do Plio-plistoceno, situada na margem este daquela lagoa e na foz da ribeira da Cascalheira.

Limitada a norte pela ribeira da Cascalheira, a este e sul pela várzea desta ribeira e a oeste pelas águas da lagoa de santo André, a Cerradinha comporta-se como uma ilha de Inverno devido ao facto de nesta estação do ano a várzea ficar inundada. De notar que a lagoa de Santo André é de formação recente, encontrando-se ligada ao Atlântico ainda no século XVI. É possível, pois, que na Idade do Bronze a Cerradinha fosse directamente banhada pelas águas do Oceano Atlântico.

No Bronze Final, a Cerradinha foi habitada em, pelo menos, dois grandes núcleos (Oeste e Sudeste).

Em 1978, no âmbito das actividades do Grupo de Trabalhos de Arqueologia do Gabinete da Área de Sines, abrimos no núcleo de ocupação sudeste, uma sondagem em T, com a área de 84 m2. Os materiais arqueológicos exumados integravam um único nível de ocupação

Não foi descoberto in situ qualquer vestígio de estrutura de habitat. Recolheram-se nódulos e fragmentos de barro cozido sem impressões de ramagens; os maiores e melhor conservados apresentavam-se sob a forma de placas com uma superfície alisada e outra (certamente a interna) muito irregular e rugosa (espessura entre 30 e 40mm.). A sua distribuição mostrou-se muito desigual: grande concentração, com fragmentos bem conservados, nos quadrados A10, B10 e C10; concentração menor no quadrado E12; notória rarefacção na restante área escavada. Pensamos tratar-se dos restos de estruturas de combustão destruídas.

Também os recipientes em cerâmica (fragmentos com bordo) não se distribuíam de um modo uniforme. A escavação da C.2 revelou uma maior densidade em torno dos quadrados H10, E14 e E20. Na C.1, estas manchas alargam-se aos quadrados vizinhos. Nota-se que nenhuma destas concentrações coincide com a mais importante de nódulos e fragmentos de barro cozido resultantes da destruição de estruturas de combustão que, como dissemos, se localiza nos quadrados A10-C10. De salientar, por fim, que foi esta última zona que forneceu maior número de elementos de mó: 2 dormente (um deles in situ) e 1 movente, no Q. A10.

A escavação revelou, como artefactos líticos, um elemento de foice (denticulado com lustre de cereal, em sílex) e cinco elementos de mós manuais, sendo três dormentes e dois moventes, e, no que se refere aos recipientes cerâmicos, 210 exemplares pertencentes a indivíduos distintos, todos produzidos manualmente, tendo sido possível identificar as seguintes formas: taças; vasos esferoidais de bordo não espessado e quase sempre ligeiramente inclinado para o interior, por vezes com mamilos situados junto ao bordo; vasos esferoidais de bordo espessado externamente ou extrovertido; vasos altos de paredes subverticais, cilindroides, muito frequentemente com mamilos a curta distância do bordo; taças carenadas, de um modo geral de carena alta ou média. Alguns destes recipientes apresentam decoração incisa, “a sepillo”, impressa (mormente de tipo Boquique) e brunida (a mais frequente).

De cerâmica, surgiram ainda um fragmento de “queijeira” e dois fragmentos de cadinhos de fundição de estanho e talvez de ferro (Ferreira & Gil, 1978).

A cerâmica da Cerradinha constitui um conjunto pertencente ao Horizonte de Cerâmica com Decoração Brunida do Bronze Final; são escassas as afinidades com materiais recolhidos nos povoados do Bronze Médio do Sudoeste conhecidos na Área de Sines; para além de conter alguns elementos comuns à cerâmica de ornatos brunidos da Estremadura portuguesa e do Baixo Guadalquivir e de apresentar grandes afinidades com a de outras jazidas alentejanas, nomeadamente com a do Outeiro do Circo, revela influências da Meseta Ocidental (cerâmica tipo Boquique).

Aceitando a divisão sub-regional proposta por Schubart para o Horizonte com cerâmica de Ornatos Brunidos, integramos a Cerradinha no Grupo Alentejano. Como se verifica pelo estudo da nossa cerâmica, na formação deste grupo teriam intervido influências procedentes não somente da Estremadura portuguesa e da região do Baixo Guadalquivir, mas também da Meseta Ocidental. A Cerradinha vem, assim, mostrar, ao nível sobretudo da cerâmica, o que a presença de estelas decoradas estremenhas na área do Sudoeste havia já sugerido.

Bibliografia

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1978) - Uma jazida do Bronze Final na Cerradinha (Lagoa de Santo André, Santiago do Cacém). Setúbal Arqueológica, 4, p.71-115.

FERREIRA, Gaspar P. & GIL, F. Bragança (1978) - Análise por fluorescência de raios-X de dois fragmentos de cadinhos da Cerradinha. In C. TAVARES DA SILVA & J. SOARES, Uma jazida do Bronze Final na Cerradinha (Setúbal Arqueológica, 4), p. 98-100.

 

Carlos Tavares da Silva

Joaquina Soares

Fig. 1 – Localização da Cerradinha (circulo vermelho) em imagem satélite Google Earth.

 

Fig. 2 – A Cerradinha vista de este, da Ribeira da Cascalheira.

 

Fig. 3 – Cerradinha, 1978. Localização da área escavada (em T, circulo vermelho) na zona sudeste.

 

Fig. 4 – Cerradinha, 1978. Distribuição, na área escavada, dos fragmentos de barro cozido pertencentes a presumíveis estruturas de combustão.

 

Fig. 5 – Cerradinha, 1978. Distribuição, na área escavada, dos fragmentos de de cerâmica com bordo.

Fig. 6 – Cerradinha, 1978. Peças líticas: 1 – elemento de foice com lustre de cereal; 2 e 3 – elementos dormentes de mós manuais.

 

Fig. 7 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

Fig. 8 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

 

Fig. 9 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

Fig. 10 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

 

Fig. 11 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

 

Fig. 12 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

 

Fig. 13 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

Fig. 14 – Cerradinha, 1978. Cerâmica.

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