Alguns aspectos da romanização na freguesia de Alvalade

Jorge Feio

Com base nos dados recolhidos a partir dos estudos e recolhas efectuados por outros investigadores e pessoas interessadas no passado da freguesia de Alvalade, bem como nas informações obtidas através da observação directa de sítios e materiais arqueológicos, julgo que é possível apresentar algumas conclusões.

Com base nos dados obtidos pelo Padre Jorge de Oliveira no seu quintal, no Adro da Igreja Matriz, no Cerrado onde foi instalado o Cemitério e na Cerca de Maria Lança, pode pensar-se na existência de um vicus em Alvalade, com uma ocupação contínua desde a época romana até à antiguidade tardia, como o comprovam os dados arqueológicos e a documentação manuscrita medieval. No Museu Nacional de Arqueologia existem materiais provenientes desta vila, não se sabendo se foram recolhidos nos arredores ou na própria povoação. Por outro lado, estão depositados na Junta de Freguesia de Alvalade um fuste e uma base de coluna de época romana, sendo que esta última ainda tem o encaixe em ferro original, recolhidos no interior de uma parede de taipa, na vila de Alvalade, desconhecendo-se a casa de onde são provenientes. Do ponto de vista locativo, este povoado situa-se num cabeço proeminente próximo da confluência da ribeira de Campilhas com o rio Sado e das respectivas várzeas, onde as terras são extremamente férteis, permitindo uma agricultura intensiva.

Padrão locativo das villae, fases e formas de ocupação do espaço rural

Até ao momento, confirmada está a localização de sete villae, com a hipótese de confirmação de outras duas no Monte Branco da Ameira e no Monte Espada. Do ponto de vista locativo/topográfico, apresentam alguma homogeneidade, observando-se que em ambas as margens do Sado, as villae foram construídas em pequenas elevações, ocupando o topo e a zona voltada para o rio, de forma a terem acesso aos terrenos mais férteis, ao mesmo tempo que ficavam a salvo das inundações. Devo referir que na margem esquerda do Sado a várzea chega ter mais de trezentos metros de largura, enquanto que na margem direita o mesmo não acontece com a mesma frequência porque as pequenas elevações se encontram mais próximas do rio. Por esse motivo, as primeiras distam entre duzentos a trezentos metros do rio e as que se encontram na margem direita encontram-se muito mais próximas, pois não corriam sérios riscos de inundação.

A distância registada entre as villae romanas contíguas situadas na margem esquerda do rio Sado é muito precisa, não indo muito além dos dois quilómetros. No máximo atinge os 2,5km em quase todos os casos observados. Se pensarmos na existência de uma villa no Monte Branco da Ameira, junto da necrópole aí identificada pelo Padre Jorge de Oliveira, verificamos que esta dista exactamente dois quilómetros e duzentos e cinquenta metros da villa da Ameira 1/Monte do Brejo e que esta última se localiza exactamente à mesma distância da villa do Monte da Sapa, ficando o vicus localizado em Alvalade sensivelmente a meio de ambas. A villa do Monte das Gáspeas/Gaspeia 3 se situa à mesma distância do anterior. Já a villa da Defesa 3 se situa a cerca de oito quilómetros para sul de Alvalade, e a cerca de quatro da villa anterior, pelo que podemos supor a existência de outra villa entre estas duas últimas. No que respeita à margem direita do rio Sado, ainda não podem tirar muitas conclusões, pois só ainda foram identificadas três villae: Monte do Roxo, Conqueiros e Defesa 5. A provável existência de achados na zona da Mimosa e a eventualidade de se poder vir a identificar uma villa poderá vir a permitir completar ainda mais o quadro.

Entre villae de margens diferentes do Sado as distâncias situam-se entre quinhentos metros a um quilómetro. Disso são exemplo Monte da Sapa e Conqueiros; Defesa 3 e Defesa 5.

Estas propostas para o modelo locativo permitem-me supor que, não existindo prova em contrário, os edificios correspondentes à pars urbana e à pars rustica das villae, pura e simplesmente, não ocupavam o centro das propriedades, preferindo os seus proprietários construí-las próximo da várzea do rio Sado e dos vales dos principais afluentes desta zona (Ribeira do Roxo e Ribeira de Campilhas), onde as terras são muito mais férteis do que as restantes e a agricultura intensiva poderia ser praticada. Com efeito, relativamente à sua capacidade agrícola, nas várzeas do Sado e de Campilhas as terras são de classe A, ao passo que as que não se encontram nas várzeas são de Classe C, D e E.

Num artigo que publiquei em 2004 (Feio, 2004, p. 2-5.) cheguei a propor que, em média, os fundi das villae deveriam rondar os 400ha, enquadrando-se na teoria que Jorge de Alarcão tem vindo a defender nos últimos anos (Alarcão, 1998). Não sendo uma hipótese a colocar de parte, penso que para poder chegar a uma conclusão mais correcta deverá ser prospectada a zona situada em torno das ribeiras de Campilhas e do Roxo, quer para verificar se o padrão locativo observado em torno do rio Sado é o mesmo, quer para completar o mapa de sítios arqueológicos de época romana e podermos aferir melhor as dimensões dos vários fundi das propriedades agrícolas. Dessa forma, poderemos ainda aferir melhor a transformações que sofreu a paisagem ao longo de todo o período de ocupação romana.

Ao que tudo indica, as villae identificadas até ao momento já estavam instaladas, na sua totalidade, pelo menos, no final da primeira metade do século I,remontando algumas delas à época de Augusto, casos de Monte do Roxo Ameira l/Monte do Brejo e Conqueiros, exemplos que não serão únicos na região, quer no concelho, onde podemos indicar a necrópole de incineração identificada em Deixa-o-Resto, onde foram recolhidas sigillatas galoromanas e uma moeda de Augusto, quer na freguesia de Panóias, concelho de Ourique, onde foi identificada a villa das Labogadas, cuja fase inicial de ocupação data desta mesma época. No caso de Conqueiros podemos constatar essa ocupação antiga a partir da observação dos materiais aí recolhidos. Aqui foram identificados um fragmento de vidro em azul de cobalto, cronologicamente situável nos séculos I a.C. e I (Amaro e Barreto, 1979), uma fíbula de charneira, de arco triangular, tipo Zerat II A e Thill 108/11, do século I a. C. (Idem, ibidem), sigillatas itálicas, galoromanas e fragmentos de ânfora do tipo Haltern 70, resultantes das escavações realizadas por Clementino Amaro e Manuel Rosivelt dos Santos Barreto, em 1979. Na Escola Secundária de Alvalade pude observar um fragmento de bordo de uma ânfora do tipo Lusitana 12. Desta estação arqueológica são provenientes três inscrições funerárias datadas do final do século I a.C., ou dos inícios do século I. Assim sendo, tenho de destacar que uma boa parte das villae identificadas já se encontravam ocupadas antes da época dos imperadores Flávios, período em que, supostamente a cidade de Mirobriga foi elevada à categoria de municipium, não se tratando portanto de uma possível centuriação de época Flávia.

Até ao momento, apenas num caso, a villa designada por Defesa V, não foram ainda recolhidos materiais com cronologia posterior ao século III. Algumas villae poderão não ter tido uma ocupação muito além do século V No que diz respeito à villa da Figueira-da-Ametade, Conqueiros, Clementino Amaro e Manuel Rosivelt dos Santos Barreto consideram que esta terá permanecido ocupada até finais do século IV, dada a presença de sigillatas norte-africanas. No entanto, a presença de ânforas do tipo Lusitana 4 poderá indicar uma ocupação até um período mais tardio. Outros sítios arqueológicos permaneceram ocupados até ao período islâmico, como por exemplo o Monte do Roxo, onde foram recolhidos elementos arquitectónicos de um edifício religioso paleocristão e materiais islâmicos dos séculos XII e XIII; Alvalade, os moinhos de Alvalade, onde foram recolhidas pelo Padre Jorge de Oliveira uma moeda do rei Dom Rodrigo (710-711), o último monarca Visigodo e uma moeda islâmica e a villa da Defesa 3, onde foram recolhidos materiais dos séculos XII e XIII. É de destacar que no que respeita às villae já confirmadas, as duas supra mencionadas se situam a distâncias a rondar os três quilómetros. Quererá isto significar que as propriedades agrícolas mais próximas de Alvalade deixaram de ter uma ocupação tisica humana, com o abandono das parsurbanas das villae, passando a sua exploração a ser feita a partir do povoado?

A partir do padrão locativo observado para as villae e do testemunho oral de várias pessoas que apontam para a existência de materiais arqueológicos nesses locais, creio que é muito provável que em prospecções futuras possam vir a ser identificadas outras villae na zona do Sobral do Meio-dia, entre a villa do Monte do Roxo e uma possível villa localizada na zona da Mimosa; no Monte das Fontainhas, entre as villae de Conqueiros e do Monte da Defesa 5, e nas imediações do Vale de Grou, todas elas situadas na várzea do Rio Sado. Na zona envolvente da Ribeira de Campilhas poderão vir a ser identificadas nos Montes da Corunchola, Borbolega e da Olhalva, onde alguns trabalhadores informaram existir materiais arqueológicos à superfície que ainda não pude confirmar, o mesmo acontecendo relativamente a São Roque, nas imediações da Ribeira do Roxo.

Este padrão locativo observado na freguesia de Alvalade, com base na selecção topográfica dos espaços, na capacidade dos terrenos agrícolas, e na distancia de dois quilómetros entre villae situadas nas margens do Sado ou dos seus afluentes não é caso único, pois na Ribeira de Sítimos, concelho de Alcácer do Sal, as Villae de Santa Catarina de Sítimos e do Porto da Lama distam cerca de dois quilómetros entre si (Faria, 2002, p. 72 a74) e em torno da Ribeira de Odivelas, essa situação ocorre, por exemplo, entre as villae de Fonte da Telha, Adegas e Ferrarias e entre as villae de São Francisco e São Bartolomeu, todas no concelho de Alvito. Isto significa que, estabelecendo-se um padrão a partir de Alvalade, com um estudo mais aprofundado, poderemos vir a conseguir obter informações muito importantes sobre a real ocupação do espaço em época romana em torno do rio Sado e respectivos afluentes.

Necrópoles

As necrópoles identificadas até ao momento aparecem associadas com as villae. Apenas a necrópole do Monte Branco da Ameira ainda não foi devidamente prospectada para confirmar esta ideia, mas as necrópoles de Várzea do Brejo, Conqueiros 2 e Defesa 2, associadas respectivamente às villae de Ameira l/Monte do Brejo, Conqueiros e Defesa 3, permitem comprová-lo. Pouco se sabe sobre o tipo de sepultamentos existentes e a respectiva cronologia. Relativamente ao Monte Branco da Ameira, o Padre Jorge de Oliveira aponta apenas a existência de duas sepulturas, enquanto que para a necrópole da Várzea do Brejo já foi mais incisivo, referindo que existia um vaso crematório (ou seja, uma urna para conter cinzas provenientes de uma incineração) e uma sepultura forrada de mármores, já fragmentados, e que deveria corresponder, em minha opinião, a um sarcófago semelhante ao encontrado no Cerro do Faval, concelho de Ourique, datado de uma fase mais tardia e, muito provavelmente, associado a uma inumação (Deus et allii, 2004:45/a465). Relativamente a Conqueiros, conhece-se apenas o aparecimento de três inscrições funerárias, cujas sepulturas não foram escavadas e da Defesa 2 apenas se sabe que foram recolhidos materiais de uma sepultura.

Casais

Os casais são unidades rurais pequenas e aparecem a curtas distâncias das villae, a que estão associados. O casal da Ameira 2 situa-se entre a possível villa do Monte Branco da Ameira e a villa da Ameira l/Monte do Brejo, próximo da possível fronteira de ambos os fundi, sendo difícil de discernir a qual deles se encontrava associada. O mesmo não acontece com o casal da Ameira 4/Monte do Telheiro, que, pela sua proximidade à villa, deveria estar incorporado no fundus da Ameira l/Monte do Brejo e com o casal da Gaspeia 2, que estaria associado villa do Monte das Gáspeas/Gaspeia 3. Por sua vez, o casal designado por Monte da Retorta 2 deveria estar associado a uma possível villa que, como já defendi anteriormente, poderá vir a ser localizada na zona de Vale de Grou. Por fim, o Casal do Monte da Defesa 4 estaria integrado no fundus da villa identificada como Monte da Defesa 3.

De entre todos estes casos, até ao momento apenas este último forneceu dados do ponto de vista cronológico, datando de época baixo imperial.

Economia: importações e produção local

No campo económico, relativamente às importações, pode facilmente observar-se que existe, como não podia deixar de ser, até pela sua proximidade geográfica, uma presença maioritária de ânforas lusitanas, pese embora se registem alguns exemplares béticos, sobretudo Haltern 70 e ainda Dressel 2-4, elementos indicativos de importação de preparados de peixe provenientes dos Estuários do Tejo e do Sado, bem como do Litoral Alentejano, ao longo de todo o período de ocupação romana. A importação de vinho da Província da Baetica ocorreu sobretudo no século I, pois também foram recolhidos nas várias villae fragmentos de ânforas dos tipos Lusitana 3 e Lusitana 9, contentores que serviram para o transporte de preparados vinícolas lusitanos entre os séculos I e V (Diogo, 1987, p. 179-191). No campo da produção vinícola, como iremos abordar um pouco mais adiante, devemos ainda ter em consideração que a produção local poderá ter tido um peso importante no campo da economia, sobretudo entre os séculos II e V, motivo que pode indiciar a falta de necessidade de importar produtos deste género de outras províncias do império.

Relativamente à importação de cerâmicas finas, como por exemplo as sigillatas, regista-se que as ocorrências mais antigas se situam em finais do século I a.c., com a importação de sigillatas itálicas. As sigillatas galo romanas ocorrem em número significativo em quase todas as villae identificadas, o mesmo não acontecendo, pelo menos até ao momento, e por mais incrível que pareça, com as sigillatas hispânicas. Também se regista a presença de sigillatas norte-africanas, sobretudo as formas integráveis nas sigillatas norte-africanas ou claras A e D.

No campo da economia local, poderemos pensar que a produção vinícola e oleícola deverá ter sido muito importante, tendo em consideração a enorme quantidade de fragmentos de dollia recolhidos em todas as villae, sobretudo na Defesa 5, onde também foi descoberto um enorme peso de lagar, havendo ainda a registar o facto de na villa do Roxo terem sido encontrados tanques revestidos de opus signinum e grainhas de uva ressequidas (Carvalho, p. 361-390).

Também a mineração o deve ter tido a sua importância, pois a quantidade de escórias (de ferro e de cobre) encontradas em todas as villae é considerável. Não nos podemos esquecer que esta área se situa a uma distância inferior a 20km das minas de Vipasca e que em torno destas importantes minas se localizariam outras de menores dimensões e importância, como as do Montinho. Por outro lado, esta zona situa-se a cerca de 30km das minas do Canal Caveira e alguns habitantes de Alvalade informaram-me que na zona onde está construída a actual Barragem da Aroeira existiam grandes buracos a céu aberto, podendo tratar-se de minas.

Alvalade - cruzamento de caminhos

Ponte e sistema viário

A escassa distância de Alvalade existe um monumento denominado "Ponte Romana". Na realidade trata-se de uma ponte medieval que sofreu obras de ampliação em época moderna. No entanto, vários habitantes de Alvalade, de onde destaco o Sr. Luís, feitor do Monte da Ameira, informaram que a partir desta ponte existia uma calçada com "grandes lajes e cerca de 2m de largura", levantada nos anos 50 por causa da mecanização da agricultura, que seguia no sentido de Santiago do Cacém, pelo Vale de Santiago e pela Abela. Tendo em consideração que neste ponto a ribeira de Campilhas é relativamente funda e não existe hipótese de passar a vau, é muito provável que tenha existido aqui uma ponte em época anterior à construção actual.

Contudo, estas informações não são suficientes para propor a localização de uma via romana. Nesse sentido deve acrescentar-se que algumas pessoas mais idosas de Alvalade se recordam da existência de duas grandes pedras cilíndricas com letras, uma na várzea de Alvalade e outra no Monte da Defesa, podendo tratar-se de miliários, os quais não foram ainda relocalizados.

Contudo, ao observar dois mapas, a carta das estradas de Portugal de 1807 e o mapa Phillip Folque, em cópia pertencente ao proprietário do Monte da Ameira, de 1877, pude constatar que a antiga ligação entre Alvalade e Santiago do Cacém se fazia pela "Ponte Romana", passando próximo da villa da Ameira I/Monte do Brejo, pelo Vale de Santiago, pela villa da Quinta de Corona, pela ermida de São Brissos, próxima da última villa; pela Abela, cujo topónimo actual é igual à antiga designação da cidade espanhola de Ávila (antiga Abela) e que poderia corresponder à localização de outro vicus; entrando-se por Santiago do Cacém precisamente no local onde se situava a antiga Mirobriga. Algumas informações que recolhi junto de habitantes de Alvalade e da Abela, apontam no sentido desta via ter sido habitualmente utilizada até meados do século XX, existindo alguns locais onde ainda é possível observar vestígios de calçada, facto que ainda não tive oportunidade de confirmar.

Com base nos mesmos mapas, pude constatar que a actual Linha do Sul corresponde exactamente à via que ligava Alvalade a Garvão, onde se localiza um importante templo da Idade do Ferro e um, aparentemente importante, povoado romano. Ainda no que respeita a esta via, algumas pessoas mais idosas de Alvalade, informaram-me que há alguns anos atrás existiam restos de calçada na zona do Monte da Corredoura e do Monte da Gaspeia e que aquele era um dos caminhos por que se seguia para Garvão. Já os caminhos para Aljustrel (e daqui para Beja) e Ferreira do Alentejo eram precisamente os mesmos da actualidade, subsistindo ainda na toponímia as designações de "Porto de Ferreira" e "Porto de Beja" nas zonas onde o rio Sado era atravessado.

A conjugação de todas estas informações vai de encontro ao próprio nome Alvalade, que, traduzido do islâmico, pode significar "a via" ou "o caminho", podendo inclusivamente justificar a presença de um vicus sob a actual Alvalade que tivesse alguma importância pela sua localização no cruzamento de todos estes eixos viários em época romana e medieval, o que é confirmado pela Carta de Doação de Alcácer do Sal e do seu termo à Ordem de Santiago de Espada em 1186, onde Alualadi, aparece referenciada.

Conclusão

Em resumo, podemos concluir que na área correspondente à actual freguesia de Alvalade é possível observar a existência de uma ocupação romana intensa que merece um estudo mais aprofundado. Não tendo ainda sido localizados, por certo, todos os sítios ocupados durante o período romano, creio que os arqueossítios já identificados permitem a criação de um modelo de base para a sua localização. Eventualmente, outras villae poderão aparecer em zonas mais afastadas do rio Sado, ou em áreas próximas das ribeiras de Campilhas e do Roxo.

Para além do prosseguimento da prospecção arqueológica, torna-se necessário perceber as transformações por que passaram esses estabelecimentos: o momento em que apareceram; que tipo de exploração implementaram, quando foram abandonados e as razões que provocaram esse mesmo bandono; se existiu ou não concentração de propriedade ou que tipo de transformações tiveram esses sítios. Por exemplo, no caso do Monte do Roxo encontramo-nos perante uma villa junto da qual foi construída uma ecclesia, ou deparamo-nos com uma antiga villa que se transformou em monasterium? E qualquer uma destas situações ocorre em fase final da ocupação romana ou em época de domínio visigótico com continuação em época islâmica? Estamos perante um caso precoce de cristianização do território com continuação de culto cristão garantida por uma comunidade moçárabe?

São questões que, por ora terão de ficar sem resposta, mas que poderão vir a ser aprofundadas com futuras investigações no terreno.

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Fig. 1 - Localização dos sítios arqueológicos de época romana em torno da actual vila de Alvalade.

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