Palácio e Tapada dos Condes de Avillez

Tipologia:Património Civil.

Localização:União de Freguesias de Santiago do Cacém, Santa Cruz e S. Bartolomeu da Serra, cidade de Santiago do Cacém, Rua Condes de Avillez.

Georreferenciação:38°0'54.05"N; 8°41'51.03"W

Datação:Antes do início doséculo XVII – segunda metade do XIX/século XX.

Propriedade:Pública (Câmara Municipal de Santiago do Cacém).

Proteção:Todo o conjunto (palácio e tapada) encontra-se dentro da Zona Especial de Proteção do Castelo e Igreja Matriz. O corpo principal do edifício encontra-se igualmente dentro da Zona Especial de Proteção do Pelourinho de Santiago do Cacém.

O palácio encontra-se normalmente fechado ao público.

A Tapada é um parque público, aberto normalmente no mesmo horário que a Igreja Matriz: abril a aetembro – 10h00-12h30 e 14h30-18h00; outubro a março – 10h00-12h30 e 14h00-17h00. Encerra segundas e terças-feiras, Páscoa, Natal e Ano Novo.

Resenha Histórica:

Em 1633, o fidalgo Manuel Raposo Pessanha redigiu um tombo de todos os bens que possuía, vinculados ou livres. Entre eles, a fl. 2 “Huãs Cazas em a cabeceira da Rua dereitta”, onde ele próprio morava, sendo esta a mais antiga referência a um edifício na localização atual do Palácio.

Manuel Raposo Pessanha viveu vários anos em Castro Verde, ao serviço da Casa Ducal de Aveiro, tendo morrido depois de 1651. Sucedeu-lhe o seu filho João Ascenso Raposo Pessanha (?-Santiago do Cacém, 07-02-1702), que ocupou as funções de capitão-mor de Santiago do Cacem, provedor da Misericórdia, por diversas vezes vereador e foi 2.º morgado dos Raposos. O 3.º morgado, Manuel Raposo Pessanha, igualmente filho do anterior, foi provedor da Misericórdia em 1689 e vereador em 1688; morreu solteiro e sem geração em 03-05-1693. O 4.º morgado, André Ascenso Raposo (?-Santiago do Cacém, 19-02-1740), irmão do antecedente, foi vereador entre os anos de 1700 e 1713, capitão-mor de Santiago do Cacém e provedor da Misericórdia. O 5.º morgado, André Ascenso Salema (?-Santiago do Cacém, 01-04-1773), filho do antecedente, foi capitão-mor de Santiago do Cacem e provedor da Misericórdia.

José Joaquim Salema de Andrade Raposo Pessanha (Santiago do Cacém, 1757-?), 6.º morgado, sargento-mor de Ordenanças e depois capitão-mor da vila de Santiago do Cacém, deu início à construção do Palácio da Carreira. José Joaquim Salema de Andrade Guerreiro de Aboim (Santiago do Cacém, 02-09-1782- Santiago do Cacém, 09-04-1862), 7.º morgado, deixou o morgadio ao seu sobrinho-neto, o 3º conde de Avillez, Jorge Salema de Avillez Juzarte de Sousa Tavares (Santiago do Cacém, 31-01-1842- Santiago do Cacém, 04-12-1901). Quando o conde tomou posse do edifício situado ao topo da Rua Direita, em agosto de 1862, este é dado como estando arruinado, no entanto parece ter sido uma ampla residência nobre, com catorze divisões no piso superior e uma água-furtada, o que pressupõe a existência de um sótão, mais sete divisões de serviço no piso térreo, onde se incluíam as cavalariças. O edifício tinha ainda três quintais anexos, alguns com árvores de fruto. O conde e a sua esposa, D. Maria Carolina de Sousa Feio (Beja, 12-08-1844-Santiago do Cacém, 03-11-1926), transformaram a casa nobre herdada nos bens do morgadio e localizada ao topo da Rua Direita no Palácio que hoje conhecemos, sendo este já assinalado num documento datado de 1877.

Eram famosos os seus interiores, nomeadamente a sala de banho (apenas destinada a tomar banho), com águas frias e quentes. As últimas eram aquecidas num primitivo esquentador do século XIX (hoje desaparecido), em madeira e ferro, colocado sobre o grande fogão a lenha, nas antigas cozinhas.

Na década de 1890, Jorge de Avillez de Sousa Feio (Santiago do Cacém, 10-07-1869- Santiago do Cacém, 05-11-1901), filho do 3.º conde (também ele já titulado como 4.º conde de Avillez), adquiriu em Paris um automóvel da marca Panhard et Levassor, o primeiro automóvel entrado em Portugal, que trouxe o espanto às gentes de Santiago.

Ao redor do edifício, na antiga Carreira (hoje Rua Condes de Avillez), ficava um conjunto de edifícios pertencentes aos condes: cavalariças com sala dos arreios (onde se mantêm os móveis originais), antigo celeiro dos Avillez, depois habitação de alguns criados mais importantes (chauffeur, governanta) e a garagem do Panhard, hoje instalações da Rádio Local (Antena Miróbriga).

Em novembro de 1901, faleceu o 4.º conde, já viúvo da morgada da Apariça, D. Maria Amália do Cabo de Arce de Vilhena Mendes Tomás (Beja, 05-02-1863- Santiago do Cacém, 29-08-1898). Um mês depois, em dezembro do mesmo ano, faleceu o seu pai, o 3.º conde, em exercício das funções de presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém. Ao longo da primeira década do século XX, e até aos primeiros anos da década de 1920, a condessa viúva (herdeira do marido, do filho e da nora), senhora de uma colossal fortuna, desenvolveu a criação da Tapada a tardoz do palácio, entre este e a muralha da barbacã do Castelo. Com um programa que juntava um jardim botânico com um parque de inspiração romântica, a tapada inclui vários edifícios e espaços: Capela de S. Jorge; Casa de Chá com portal neomanuelino; Estufa neogótica (hoje em ruinas); Poço/Cisterna; Terraço sobre o pátio e telhados do palácio; incluindo ainda uma gruta artificial. Limitada por uma muralha ameada (na continuação da barbacã), onde se desenvolviam cinco torres cilíndricas (duas delas demolidas nos anos 30 do século XX, durante as obras de reconstrução do Castelo), a Tapada tem, na antiga Porta da Vila (localizada na barbacã), a sua entrada mais nobre.

Falecida em 1926, a condessa D. Maria Carolina deixou todos os seus bens e imóveis ao afilhado Jorge Ribeiro de Sousa (1903-?).

Na década de 1970, o Estado (Gabinete da Área de Sines) tomou posse do palácio e espaços anexos, onde instalou o Agrupamento de Escuteiros de Santiago do Cacém e ofereceu ao Museu Municipal o espólio móvel existente no mesmo. Mais tarde, no início da década de 1990, a CMSC recebeu a gestão e posse do conjunto, tendo, até 1998, funcionado no palácio o Núcleo Regional da Escola Profissional Bento de Jesus Caraça.

Ultimamente parte do edifício tem acolhido gabinetes e serviços da CMSC.

Descrição da Fachada Principal do Palácio:

Fachada principal virada a nascente, de três panos definidos por pilastras, divididos em dois registos por moldura de cantaria. No pano central rasga-se, no piso térreo, um portal rematado por arco com chave saliente, antecedido por três degraus de pedra. No piso nobre, abre-se uma janela de sacada, de verga reta, com varanda de ferro fundido assente em mísula de cantaria; remate superior em frontão curvo ladeado por urnas de faiança branca, tendo ao centro as armas dos Condes de Avillez (ramo de Santiago). Os panos laterais apresentam, no piso inferior, dos lados da porta principal, dois módulos compreendendo uma porta ladeada por duas janelas, sendo a porta do lado direito antecedida por quatro degraus de pedra. No piso superior, de cada um dos lados da varanda central, rasgam-se três janelas de sacada, com verga reta, resguardadas por varandas de ferro fundido assentes em mísulas de cantaria; remate superior em platibanda vazada, formada por balaústres de faiança branca. Nos extremos, coroando as pilastras, elevam-se globos de faiança branca com estrelas azuis.

Heráldica:

O brasão utilizado pelos condes de Avillez que residiram em Santiago do Cacém (2.º, 3.º e 4.º) apresenta bastantes diferenças em relação às armas normalmente utilizadas pelos membros da família Avillez, nomeadamente o 1.º Conde, ou os atuais representantes do título, estando ainda por fazer a investigação destas armas. No entanto, este brasão parece não cumprir as leis da heráldica, nomeadamente no que concerne à não sobreposição de cores sobre cores ou de metais sobre metais, ou à não utilização de tonalidades da mesma cor. O brasão utilizado pelos condes que residiram em Santiago do Cacém tem a seguinte leitura [nota 1]: sobre campo verde (escuro)[nota 2], castelo de prata, lavrado do mesmo metal (num tom mais escuro), aberto de preto. Sobre o castelo meio cavaleiro barbado, sainte, na sua carnação, com veste verde e elmo de prata. Na mão direita segura uma espada preta e na esquerda recebe uma cruz preta, que lhe é entregue por um braço, na sua carnação, saindo de uma nuvem de prata no canto esquerdo. Encostada ao castelo, está uma escada preta (umas vezes à direita, outras à esquerda). À sinistra e à dextra duas árvores com troncos pretos e copas verdes. Em ponta, um mar azul com ondas de prata, sobre o qual está a cabeça de um rei na sua carnação, com coroa de ouro e junto dele uma espada moura [nota 3]. Coronel de conde. Timbre: um braço alado segurando uma cruz. Divisa: “DOMINE JUDICA CAUSAM TUAM”.

Leitura das armas habituais da família Avillez: “Campo de verde, com castelo de prata, lavrado de preto, aberto de vermelho, acompanhado, em ponta, de uma cabeça de mouro, cortada de vermelho, toucada de prata, parte dela sobre a porta do castelo, tendo sobreposta uma maça de armas de ouro, armada de prata, posta em faixa. Timbre: meio mouro sainte, toucado de prata, com veste verde e na sua carnação, tendo ao ombro direito a maça de armas do escudo”[nota 4].

Notas:

1 – Esta leitura, principalmente no que diz respeito às cores e aos metais, é a do brasão em estuque existente no teto da escadaria do palácio. Além deste, existem brasões semelhantes no frontão do palácio e no jazigo de família, no cemitério de Santiago do Cacém.

2 – A leitura dos códigos de representação na pedra das cores e metais dos brasões indica a cor vermelha para campo do escudo, no entanto, o do teto da escadaria tem o campo pintado de verde, o que condiz com o brasão normal da família Avillez.

3 – Esta espada não surge no brasão pintado no teto da escadaria.

4 – Manuel de Sousa – As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas, 2001, p. 33.

Bibliografia:

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FALCÃO, J. A. (1991) – Património Construído e Urbanismo de Santiago do Cacém: Subsídios para um Ensaio de Enquadramento Histórico. Documento não publicado, consultável no Centro de Documentação do Gabinete de Reabilitação Urbana e Património da Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

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MURALHA, P. (s/d) – Álbum Alentejano: Apêndice à Província do Baixo Alentejo. Tomo IV. Imprensa Beleza.

(1862) – Tomada de posse de morgadio[Manuscrito]. Acessível no Arquivo Municipal de Santiago do Cacém. PT/AMSC/FAM/CA/A/003/28.

(1877) ­Requerimento do Conde de Avillez pedindo cópia de parte da acta de 27 de Setembro de 1877 e resposta com cópia requerida [Manuscrito]. Acessível no Arquivo Municipal de Santiago do Cacém. PT/AMSC/FAM/CA/A/001/21.

RODRIGUES, J. B. (2004) – O Trem do Conde: História do Primeiro Automóvel que entrou em Portugal. Ed. Caleidoscópio – Edição e Artes Gráficas, S.A..

SILVA, M. João da (1992) – Toponímia das Ruas de Santiago do Cacém. Santiago do Cacém: Ed. Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

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SOUSA, Manuel de (2001) – As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas. Mem Martins: SPORPRESS – Sociedade Editorial e Distribuidora, lda.

Agradecimento:O autor agradece a disponibilidade e colaboração de António Júlio Limpo Trigueiros, genealogista que tem investigado a família Salema de Andrade de Santiago do Cacém e a sua ligação aos condes de Avillez.

Webgrafia:

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HeráldicaWikipédia[Em linha]. [Consult. julho/2014]. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%A1ldica

Gentil José Cesário

Fig. 1 – Fachada do Palácio dos Condes de Avillez. José Matias/CMSC, 2007.

Fig. 2 – Brasão na Fachada do Palácio dos Condes de Avillez. José Matias/CMSC, 2008.

Fig. 3 – Tapada dos Condes de Avillez. Paulo Chaves/CMSC, 2011.

Fig. 4 – Tapada dos Condes de Avillez – Fachada da Capela de S. Jorge. Paulo Chaves/CMSC, 2011.

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