Casa do Prior/Família Lobo de Vasconcellos

Tipologia:Património Civil.

Localização:União de Freguesias de Santiago do Cacém, Santa Cruz e S. Bartolomeu da Serra, cidade de Santiago do Cacém, Rua Condes de Avillez.

Georreferenciação:38º00’58’’N; 8º41’49.92’’W.

Datação:Século XVI - finais do século XVIII.

Propriedade:Privada (família Lobo de Vasconcellos).

Proteção:O edifício encontra-se dentro da Zona Especial de Proteção do Castelo.

O edifício encontra-se normalmente fechado ao público.

Resenha Histórica:

O edifício original terá pertencido, na segunda metade do século XVI, à família Feio, nomeadamente ao juiz ordinário Fabião Feio, pai do padre Sebastião Feio, que estabeleceu uma capela vinculada a um morgado na Igreja da Misericórdia. O terramoto de 1755 terá arruinado bastante o edifício, embora seja de supor que ele já se encontrasse abandonado por essa altura, pois o levantamento da população de 1721, bastante completo, não refere o arruamento, talvez porque, na sequência do abandono do Paço da Alcáçova e das casas do Castelo, também os arruamentos mais altos tenham sido abandonados.

Em 1797, Bonifácio Gomes de Carvalho (? -1825), prior de Santiago do Cacém, empenhado na reconstrução da Igreja Matriz arruinada pelo terramoto de 1755, aforou umas ruínas localizadas no local do edifício aos seus proprietários à época: o desembargador Francisco José Faria da Costa de Abreu Guião e sua mulher D. Joana Perpétua Feio Sanches de Gusmão. Terá começado logo a construção da sua nova casa de habitação nesse local, pois, dois anos depois, em 1799, já esta se encontrava concluída (como constava do aforamento). Nesse ano, adquiriu a posse plena do terreno e do novo edifício e, no ano seguinte, alojou nele D. Frei Manuel do Cenáculo, então bispo de Beja e mais tarde arcebispo de Évora, quando este se deslocou a Santiago do Cacém para sagrar a Igreja do Castelo ainda em reconstrução.

Em 1803, Bonifácio adquiriu as ruínas contíguas a esta casa, começando uma nova obra para construção de outra habitação (hoje conhecida como “Casa das Heras”). Neste ano, vendeu a primeira habitação a D. Francisca Teresa Nobre Pacheco de S. José (1757-1833), viúva do 1.º morgado da Quinta de S. João, João Falcão Murzelo de Mendonça (1730-1801). A casa e o morgadio acabaram mais tarde por ir parar às mãos de um neto desta senhora, Jacinto Pais de Matos Moreira Falcão (1803-1890), 1.º conde de Bracial. A casa transitou depois por herança para a filha deste último, D. Catarina Pais Champalimaud de Matos Moreira Falcão (1843-1919), casada com o juiz de direito e deputado, Dr. José Monteiro Soares de Albergaria. Como o casal não deixou descendência, por morte de D. Catarina, o edifício passou por herança para a sua prima D. Maria das Dores Cabral Parreira de Aboim Luzeiro Infante de Lacerda (1887-1965), que casou, em 1921, com o capitão de cavalaria António Lobo de Portugal e Vasconcellos (1885-1954); mantendo-se ainda hoje na posse de descendentes deste casal.

Descrição da Fachada Principal:

A frontaria do edifício alonga-se, dominando o antigo miradouro frente à casa, sendo rematada nos cantos por altas pilastras. Junto à vizinha Casa das Heras, o edifício apresenta um pano de parede separado por uma pilastra do restante corpo da fachada. No canto oposto, a frontaria do edifício pega com o início do muro do logradouro da própria casa. Neste muro, logo junto à fachada, rasga-se um portal em cantaria voltado à via pública, dando acesso a um pequeno oratório familiar. Ao nível do piso térreo, a fachada apresenta cinco janelas protegidas por gradeamentos de caixa em ferro forjado. No pano de parede a norte, apresenta-se uma porta de serviço com moldura de cantaria, antecedida por um degrau de pedra. Ao centro da grande fachada, rasga-se a porta principal do edifício, igualmente antecedida por um degrau. Nesta, sobressaem os elementos de remate inferior das ombreiras, o belo entablamento sobre a verga do portal e as duas cantarias avermelhadas que ladeiam a porta principal e se assemelham a bases de colunas ou colunelos góticos ou manuelinos, colocadas em posição invertida. Sobre a porta principal, está um registo de azulejos datado de 1940 alusivo à Imaculada Conceição e à Restauração de 1640. Ainda junto a esta porta fica mais uma pequena janela quadrada e gradeada, que foge ao alinhamento e dimensões das outras janelas do rés do chão. Ao nível do piso nobre, alinham-se seis varandas com bacia saliente e guardas em ferro forjado, a que se junta uma sétima, no pano separado do restante corpo da frontaria. Alinhada com a porta principal, ergue-se sobre a fachada uma mansarda com janela de guilhotina, rematada lateralmente por enrolamentos de aletas.

Heráldica:

No alçado lateral do edifício, voltado ao jardim, sobre uma porta ao nível do piso térreo, apresenta-se uma pedra de armas com a seguinte leitura: Escudo português, partido, o primeiro cortado com as armas dos Lobo (de prata, com cinco lobos de negro, armados e lampassados de vermelho, postos em aspa) e dos Magalhães [nota 1] (de prata, com três faixas de três tiras xadrezadas de vermelho e prata); o segundo mostra as armas dos Lacerda (partido, o primeiro cortado de vermelho com um castelo de ouro, e de prata com um leão de púrpura, e o segundo de azul semeado de flores-de-lis de ouro). Timbre dos Magalhães: um abutre de sua cor, estendido e armado de ouro [nota 2].

Notas:

1 – Segundo o arquiteto Francisco Lobo de Vasconcellos, estes elementos heráldicos e o timbre vêm das armas de um antepassado chamado Manuel Lobo do Casal e Magalhães, que teve carta de armas atribuída por Filipe I em 1606, tendo-se mantido em uso na heráldica familiar, mesmo depois de ter caído o apelido Magalhães.

2 – Ver nota anterior. O timbre deveria ser dos Lobos, que é a varonia.

Agradecimento:O autor agradece a disponibilidade e colaboração do arquiteto Francisco Lobo de Vasconcellos.

Bibliografia:

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Gentil José Cesário

Fig. 1 – Casa do Prior/Família Lobo de Vasconcellos – Alçado. José Matias/CMSC, 2002.

Fig. 2 – Casa do Prior/Família Lobo de Vasconcellos – Porta principal. José Matias/CMSC, 2002.

Fig. 3 – Casa do Prior/Família Lobo de Vasconcellos – Mansarda. José Matias/CMSC, 2002.

Fig. 4 – Casa do Prior/Família Lobo de Vasconcellos – Portal rusticado. José Matias/CMSC, 2002.

Fig. 5 – Casa do Prior/Família Lobo de Vasconcellos – Brasão no alçado lateral. José Matias/CMSC, 2006.

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