Quintas Históricas - Santiago do Cacém

Compilação de Gentil Cesário

Introdução

No concelho de Santiago do Cacém, principalmente na freguesia de Santiago, situam-se várias quintas históricas. Esta denominação designa os conjuntos edificados e paisagísticos de qualidade arquitectónica e patrimonial onde, à produção agrícola e pecuária, se aliam componentes de recreio e lazer.

Embora documentalmente os elementos que nos ajudem a compreender melhor a evolução destas quintas sejam reduzidos e cartograficamente sejam inexistentes, conseguimos traçar parte da sua história e da observação da sua situação actual, retirar algumas conclusões sobre a sua organização.

No entanto, antes de caracterizarmos um pouco mais detalhadamente cada uma delas importa reter algumas considerações gerais. […]

Importa ter em conta que, apesar da sua componente de recreio e lazer, eram, acima de tudo, propriedades agrícolas, com uma forte componente produtiva, rentáveis enquanto a agricultura, neste caso a fruticultura, assim o foi. Apesar da sua importância, estavam integradas numa paisagem e num território mais vasto, em conjunto com outras explorações agrícolas, com uma grande ligação e interdependência, que, em alguns casos ainda, hoje subsiste, nas relações familiares, de entreajuda, da gestão de águas, caminhos, unidade paisagística, etc.”

(Vasconcelos, 2009).

Descrição das Quintas Históricas de Santiago do Cacém

Quinta da Mandorelha (Cercal do Alentejo)

Quinta já referida na Idade Média, à qual se associa lenda com o mesmo nome, destacam-se aqui a água, as fontes e o verde intenso da paisagem arbórea e arbustiva, pelo que foi local de festas e passeios populares até meados do século XX. Possui uma azenha, actualmente em ruinas.

Quinta das Relvas (S. Bartolomeu)

Quinta senhorial mandada construir entre os finais do século XVIII e a 1.ª metade do XIX, pelo capitão-mor de Santiago do Cacém José Joaquim Salema Guerreiro de Aboim. A casa da quinta tem fachada barroca e o moinho (em cantaria) está datado de 1833.

Quinta dos Olhos Bolidos (Santa Cruz)

Classificado como MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 740-EU/2012, DR, 2.ª série, n.º 252 (suplemento), de 31-12-2012.

A Quinta dos Olhos Bolidos (ou Belidos, palavra derivada do latim bellus, "belos"), imediatamente à saída da vila de Santiago do Cacém, é uma antiga quinta senhorial com cerca de 40 ha e compõe-se de casa com capela. A primeira notícia conhecida sobre a quinta data de 1706. Apesar da área residencial da quinta não ter a grandiosidade de muitas das grandes quintas setecentistas, a propriedade destaca-se sobretudo pela beleza da zona ajardinada.

D. António Paes Godinho, um dos seus proprietários, teria introduzido nos jardins diversos espécimes exóticos trazidos do Oriente, ajudando a criar o ambiente paradisíaco característico das quintas de recreio com os jardins de vegetação exuberante e árvores seculares, fontes, casas de fresco e casas apalaçadas.

Grande destaque têm também os pomares, bem como a água, que tem origem num sistema de minas, com condutas subterrâneas, que conduzem a um tanque que suporta o sistema de rega.

O edifício principal da quinta é muito singelo; foi erguido, como a maior parte dos jardins, por D. António Paes Godinho, entre 1738 e 1742, e limita-se a uma casa térrea, com uma torrinha de dois pisos e planta quadrangular na fachada anexa à capela. Apesar do contraste com a riqueza dos jardins, a rusticidade da zona habitacional adequa-se bem a uma propriedade que, além de local de veraneio, permaneceu sempre como quinta de produção agrícola, como era habitual no nosso país.

Quinta da Ortiga (Santiago do Cacém)

Situada nas Relvas Verdes, a cerca de 3 km de Santiago do Cacém, é referenciada em vários documentos desde 1680. Com dimensão considerável, apresentava uma forte componente agrícola, com extensos pomares, olivais, e vinhas, para além da parte florestal. A sua área de lazer desenvolve-se ao longo de um eixo que atravessa o ribeiro e atinge o tanque, passando pela casa e pela capela. Nesta zona situavam-se os jardins formais e as hortas de apoio à casa e partiam dois caminhos pergolados, ladeados por caleiras de água, com vários tanques, que se prolongavam até um moinho, entretanto desaparecido. Foi expropriada pelo Gabinete da Área de Sines na década de 70 do séc. passado, tendo sido utilizada pelo Estado para usos diversos.

Actualmente encontra-se em processo de devolução aos seus antigos proprietários.

Quinta de S. João (Santiago do Cacém)

Situa-se e cerca de 2 km de Santiago do Cacém, tem actualmente cerca de 26 ha e compõe-se de casa senhorial com capela, da primeira metade do séc. XVIII, talvez o conjunto edificado mais imponente e melhor conservado das quintas históricas do Município. A quinta possui grande abundância de água, com origem principal num poço de feição mourisca, que alimenta por gravidade o sistema de caleiras e tanques de rega. Os seus jardins e pomares constituem outro dos seus atrativos. Foi sede do morgadio de S. João.

Quinta do Meio ou de São José (Santiago do Cacém)

Pertenceu, até 1975, à Quinta de S. João, com a qual partilha a mesma cronologia. Os seus elementos notáveis são o portão (com arco de volta perfeita em pedra rusticada), o tanque com a pequena casa de fresco e fonte barroca, datados e decorados.

Quinta do Pomar Grande (Santiago do Cacém)

Nos arredores de Santiago do Cacém, o “Pomar Grande” constituiu uma das mais emblemáticas casas agrícolas da região. Para além da casa senhorial, construída em 1824, possui vários conjuntos de instalações agrícolas, de que se destacam a fábrica de moagem para uso exclusivo da casa, o lagar de azeite “tipo Veraci”, garagens, armazéns, celeiros e adegas. Um pouco mais distantes, dispõem-se as cavalariças, um parque de manutenção e criação de vacas e um “cortelhado” para criação de suínos em larga escala. Em frente à casa de habitação dispunha-se um jardim, embelezado por pátio e por tanque. Mais acima existem canis, capoeiras com várias secções e coelheiras “de luxo”. Da sua produção agrícola destacava-se a laranja dos extensos pomares que deram o nome à quinta e que se exportava para o estrangeiro e Lisboa. A extensa vinha, de grande qualidade, produzia vinhos brancos, tintos e moscatéis. O seu apogeu produtivo teve lugar no século XIX e primeira metade do século XX. Entrou depois em progressivo declínio, associado às mudanças nas políticas agrícolas e consequente perda de rentabilidade. Apresenta, na actualidade, profundos sinais de degradação.

Quinta da Azenha (ou Assenha) de Baixo (Santiago do Cacém)

Quinta que pertenceu à família Passanha; nos inícios do século XX fornecia frutas e leite à vila de Santiago do Cacém. A casa senhorial, de dois pisos, tem uma arquitectura muito interessante.

Monte da Vinha (Santiago do Cacém)

Antiga quinta senhorial nos arredores de Santiago do Cacém, cuja casa de habitação se destaca pelo seu interesse arquitectónico.

Quinta da Fonte Santa (Santiago do Cacém)

Localizada na zona do Fidalgo, defronte da Quinta do Rio da Figueira, supõe-se ter pertencido à Comenda da Ordem de Santiago. Aparece referida desde 1799 e até à década de 70 do séc. XX pertenceu aos mesmos proprietários da Quinta do Rio da Figueira, com a qual comunga a organização em socalcos encaixados no vale, onde se localizam tanques, condutas de água e uma fonte que dá o nome à quinta. Possui um interessante conjunto de edifícios dos séculos XIX e inícios do XX.

Quinta do Rio da Figueira (Santiago do Cacém)

Antiga quinta de recreio, que pertenceu aos Condes de Avillez, passou a fazer parte do património do Município na década de 80 do séc. XX – após ter sido expropriada pelo Gabinete da Área de Sines – e foi recuperada como parque verde urbano. Já nada resta do palacete outrora existente, cujos registos fotográficos evidenciam elementos pombalinos. Permanecem alguns testemunhos dos antigos jardins formais – ao longo do ribeiro que deu nome à quinta – a fonte e os tanques, bem como uma azenha, ainda não recuperada. O conjunto edificado e os jardins estendiam-se ao longo de socalcos, proporcionando um forte efeito cénico.

Herdade do Canal (Santiago do Cacém)

Situada na zona do Fidalgo, junto a Santiago do Cacém, pertenceu à família Teixeira de Aragão (do arqueólogo e numismata Augusto Teixeira de Aragão). A casa senhorial, de um único piso, possui todos os vãos rematados em arcos de volta perfeita.

Bibliografia:

ALMEIDA, J. A. Ferreira de (1976) - Santiago do Cacém. Tesouros artísticos de Portugal. Lisboa.

CARVALHO, O.; SOUSA, J.; VALE, F. & MATIAS, J. (2015) – Relatório do Património Cultural e Natural (policopiado). Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

VASCONCELOS, F. Lobo de (2009) - As Quintas em redor de Santiago do Cacém – elementos para um inventário, Actas do 2º Encontro de História do Alentejo Litoral. Sines: Centro Cultural Emmérico Nunes, p. 216-222.

Webgrafia:

http://www.cm-santiagocacem.pt/concelho/patrimonio/patrimonioarquitecton...

Fig. 1 - Portal de entrada da Quinta de S. João (Santiago do Cacém). 1.º quartel do séc. XX. Foto de H. Vilhena.