Museu da Farinha

História

José Mateus Vilhena nasceu em Pego Negrão de Baixo (S. Bartolomeu da Serra) e foi rendeiro no Cerro Gordo (S. Domingos) e no Burreiro (Vale de Água). Era filho de António Mateus, lavrador do Monte Feio e do Peral (Abela) e de Antónia Maria, da Fonte do Cortiço (Abela). António Mateus chegou a ser vereador da Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

José Mateus Vilhena era compadre de Caio de Loureiro, com quem tinha em sociedade criação de gado e uma primitiva debulhadora que trabalhava com uma caldeira e era puxada por várias juntas de bois.

Essa sociedade terminou quando decidiu adquirir uma cerca em S. Domingos, no local onde existia um casal de mós movido por uma caldeira a vapor, durante o inverno. No verão essa caldeira era utilizada numa debulhadora fixa, pertença dos Miguéis. Nesse local construiu uma moagem de ramas, por volta do ano de 1925, que chegou a ser a de maior movimento do distrito de Setúbal.

Mais tarde, adquiriu uma debulhadora, que era transportada e movida por um trator de rasto.

Henrique Mateus Vilhena, filho de José Mateus Vilhena, dava assistência a essa debulhadora fixa. A assistência consistia em angariar eiras, onde realizavam o trabalho, e fazer o transporte dos mantimentos para o pessoal, do petróleo e o óleo necessário à debulhadora, das maquias e os cereais, com o trator de rodas Ferguson. Anteriormente, esse transporte era assegurado por uma parelha de muares (é o cruzamento de burra e cavalo, que dá um mu ou uma mula). Para os locais mais distantes, começou a utilizar-se uma camioneta de marca Chevrolet, o primeiro automóvel a vir para S. Domingos, que era conduzida por José Mateus Vilhena Júnior ou pelo irmão Manuel Mateus Vilhena, ambos filhos de José Mateus Vilhena.

A debulhadora era colocada no meio das “medas”. O trigo era ceifado e colocado em molhes, que ficavam de um lado e de outro da máquina. Na debulha do trigo, 5 a 7% eram tirados e constituíam a maquia, que representava o ganho desse trabalho, a exemplo do que acontecia nos moinhos. Conforme a quantidade de cereais a moer, assim se tiravam as maquias a que tinham direito. Na moagem passou a ser pelo peso, através de uma balança.

A mão de obra necessária à debulhadora eram 3 molheiros, 2 alimentadores de grão, um saqueiro e apontador, um maquinista, um removedor de palha e uma coqueira (tomava conta das refeições).

Funcionamento da moagem

A Fábrica da Moagem foi instalada num edifício de rés-do-chão e 1º andar, sendo a maior parte dos seus equipamentos construídos em madeira. As maquias e os cereais dos agricultores eram depositados no celeiro, ao lado da moagem, que tem diversas divisões ou tulhas, que separam o trigo, o milho, o centeio, a aveia e a cevada. Eram pesados numa balança centesimal e registado o peso em nome dos clientes.

O cereal mais farinado era o trigo. Depois de pesado era deitado no tegão (recipiente em cimento com estrado de ferro e madeira, com cavidade funda), que tem um crivo, onde ficavam as maiores impurezas, e transportado por uma nora com alcatruzes fixos a uma correia para o 1º andar, antes de o despejar para uma tarara (aparelho para limpar os cereais, agitando-os e ventilando-os). A tarara tem crivos de diferentes medidas, para sementes mais ou menos gradas. As impurezas eram puxadas por ventoinha e armazenadas numa tulha. As impurezas mais gradas caíam diretamente numa caixa lateral.

Desse aparelho seguia para uma bandeja móvel, colocada em cima de réguas de madeira, para separar pedras e outras impurezas do cereal. A seguir era levado por outra nora para o maron(cilindro metálico com bossas para separar a ervilhada e o joio do trigo), daqui seguia, já limpo, por um tubo metálico para o escovador (aparelho de madeira com escovas de ráfia e uma ventoinha), para limpar o pó do trigo. Os resíduos seguiam para outra tulha, onde se aproveitava o gérmen e o resultado da escovação, para rações para o gado.

O último sistema de noras e alcatruzes tem integrado um doseador de água, para humedecer o trigo, antes de ser levado através de um sem-fim para um tegão. Daqui descia para as mós, que eram uma áspera e outra macia, picadas para receber o cereal. As mós são movimentadas por um sistema de carretos, um de madeira e outro de ferro fundido. Por fim, a farinha era transportada por um sem-fim e despejada em sacos de 75 kg. Dois sistemas de mós permitem moer simultaneamente cereais diferentes.

Na moagem todo o movimento é feito por correias de transmissão, ligadas a quatro eixos horizontais, com vários tambores de diferentes dimensões, que recebem o movimento de um motor a gasóleo.

A Fábrica da Moagem funcionou até 1982.

 

O porquê do museu

Esta moagem é testemunho de que o Homem necessita de perpetuar a sua história, de forma a transmiti-la às gerações vindouras.

LOCALIZAÇÃO

Museu da Farinha

Rua 1º de Maio, nº 36

7540 – 415 S. Domingos – Santiago do Cacém

CONTACTOS

Tel. 935 133 412

museudafarinha@gmail.com

HORÁRIO

Terça-feira a Domingo

10h 00 – 13h 00 | 14h 00 – 18h 00

Encerra às Segundas-feiras

 Amadeu Medley Gonçalves

 

Fig. 1 - Perspetiva exterior do Museu da Farinha. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

 Fig. 2 - 1º Piso - Início da visita ao Museu. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

 Fig. 3 - Moinho antigo, inicialmente acionado a vapor – 1º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

 Fig. 4 - Plataforma dos Moinhos – 1º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

Fig. 5 - Vista parcial da exposição – 1º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

Fig. 6 - Arca dos cereais – 1º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

Fig. 7 - Arca da farinha – enquadramento geral – 1º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

Fig. 8 - Motor Petter Fielding que acionava a Moagem – 1º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

 Fig. 9 - Pormenor da exposição - Ciclo dos Cereais – 2º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

 Fig. 10 - Vista parcial dos equipamentos da Moagem – 2º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

Fig. 11 - Vista parcial dos equipamentos da Moagem – 2º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).

 

 Fig. 12 - Zona de projeção multimédia – 2º piso. Fotografia: José Matias (C.M.S.C.).