Manuel da Fonseca e a sua obra

Divisão de cultura da C. M. de Santiago do Cacém

Escritor português, vulto destacado do Neo-realismo, nasceu a 15 de Outubro de 1911, em Santiago do Cacém, e morreu a 11 de Março de 1993, em Lisboa.

Partiu ainda jovem para Lisboa para realizar estudos secundários, tendo desempenhado posteriormente na capital diversas actividades profissionais no comércio, na indústria e no jornalismo. Antes de colaborar em Novo Cancioneiro, com Planície, colecção onde se afirmariam algumas coordenadas da estética poética Neo-realista numa primeira fase, editou, em 1940, Rosa dos Ventos, obra pioneira do neo-realismo poético português, nascida do convívio com um grupo de jovens escritores, entre os quais Mário Dionísio, José Gomes Ferreira, Rodrigues Miguéis, Manuel Mendes e Armindo Rodrigues, unidos numa "obstinada recusa de ser feliz num mundo agressivamente infeliz, uma ânsia de dádiva total e o grande sonho de criar uma literatura nova, radicada na convicção de que, na luta imensa pela libertação do Homem, ela teria um papel estimável a desempenhar contra o egoísmo, os interesses mesquinhos, a conivência, a indiferença perante o crime, a glorificação de um mundo podre" (DIONÍSIO, Mário - prefácio a Obra Poética de Manuel da Fonseca, 1984, p. 21). Não existindo descontinuidade entre a poesia e a prosa de Manuel da Fonseca, nem entre ambas e o escritor, que as impregna de um cariz autobiográfico, alimentado por recordações da convivência com o homem alentejano, ficção e obra poética interpenetram-se na evocação de personagens, narrativas, romances, paisagens alentejanas. Mário Dionísio (id. pp. 32-33) vê na oposição cidade/vila, recorrente na obra de Manuel da Fonseca, a oposição entre o que é "apaixonado e violento, desgraçado e heróico, profundamente humano, grave, limpo" e o que é ridículo, repugnante, mesquinho, "de ambição medíocre, de preconceitos míseros, que desvirtuam e lentamente asfixiam uma imagem ideal de vida que, na poesia de Manuel da Fonseca, quase sempre se identifica com tudo o que a infância e a adolescência têm de ingénuo e generoso e transparente e que a vida embacia, adultera e destrói." Autor de uma obra ancorada na realidade e eivada de um apontado regionalismo, a escrita de Manuel da Fonseca ultrapassa a contingência histórica de que nasceu, por um enaltecimento da vida, compreendida como intrinsecamente livre das imposições, frustrações, mentiras e condicionamentos impostos pela sociedade, ânsia de libertação, simbolizada, por exemplo, na repressão sexual imposta a algumas figuras femininas ou na admiração de figuras marginais como o "maltês" ou o vagabundo. Cerromaior (1943), O Fogo e as Cinzas (1951) e Seara de Vento (1958) são algumas das suas obras mais emblemáticas.

Bibliografia do escritor:Rosa dos Ventos, Lisboa, 1940; Planície, Coimbra, 1941; Aldeia Nova, Lisboa, 1942; Cerromaior, Lisboa, 1943; O Fogo e as Cinzas, Lisboa, 1951; Seara de Vento, Lisboa, 1958; Poemas Completos, Lisboa, 1958 (inclui obras anteriores e poemas inéditos, Lisboa, 1969); Um Anjo no Trapézio, Lisboa, 1968; Tempo de Solidão, Lisboa, 1969; Obra Poética, Lisboa, 1984; Crónicas Algarvias, Lisboa, 1986; Bairro de Lata, Lisboa, 1986”

Manuel da Fonseca utiliza como matéria-prima dos seus textos o povo e a geografia do Alentejo. Em Cerromaior, mais do que em qualquer outro escrito, Manuel da Fonseca usa a cidade que o viu nascer como cenário da sua obra: “Até o título que me foi sugerido pelo cerro do castelo novo, novo de mil anos, entenda-se que é o chão de Santiago, vila onde a minha experiência encontrara, e recriava agora, as personagens. Cercado de cerros, que vão de roda em anfiteatro com o lugar do palco largamente aberto sobre a planície e o mar, o cerro de Santiago é de todos o mais alto. Daí o título: Cerromaior.” , prefácio de Cerromaior, p.9.

Usando de toda a liberdade da ficção, recria Santiago do Cacém a partir quer da realidade do tempo em que decorre a acção (anos 30 do séc. XX, mais precisamente, o período da Guerra Civil de Espanha), quer das suas memórias de infância. Estas paisagens descobrem-se a cada passo da obra, cheias de vida e cor, podendo ser identificadas e explicadas em vários recantos da cidade de Santiago do Cacém: o Jardim Municipal, com a Cadeia (actual Museu Municipal), o Largo, a Sociedade Harmonia, o Castelo.

Bibliografia e documentação de referência:

CARVALHO, O.; SOUSA, J.; VALE, F. & MATIAS, J. (2015) – Relatório do Património Cultural e Natural (policopiado). Câmara Municipal de Santiago do Cacém.

Fonte: Manuel da Fonseca. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-04-12]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$manuel-da-fonseca>.

Figs. 1 a 4 – Manuel da Fonseca. Arquivo C.M.S.C..

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