Classes de Coberto Vegetal: fundamentação descritiva

Vegetação costeira não sujeita ao regime de marés

Vegetação arbustiva e herbácea espontânea de zonas fortemente expostas ao dinamismo costeiro e dunar, numa atmosfera rica em aerossóis salinos.

Arribas

Vegetação essencialmente herbácea em afloramentos rochosos e depósitos de rechãs, sobre solos mecanicamente instáveis, frequentemente secos a mesofíticos, localmente sobre-hidratados nas linhas de escorrência. Nos locais mais estáveis podem ocorrer trechos de formações arbustivas. Ao longo das linhas de escorrência podem surgir comunidades vegetais tolerante à sobre- hidratação.

Relvados da faixa de praia (dunas embrionárias)

Relvados constituídos por plantas cuja especialização anatómica e dispersiva é convergente com a necessária resiliência aos factores da dinâmica costeira, especialmente de acreção/erosão.

Matos dunares

Vegetação arbustiva essencialmente mono-estrato, constituída por plantas por vezes agregadas em moitas e relvados abertos intersticiais. Nas cristas dunares podem ocorrer espécies especialmente adaptadas à retirada de areia por erosão, como por exemplo a Ammophila arenaria (estorno)

Grandes canais de deflação (“blowout”)

Biótopo com longa cronologia de exposição a condições eólicas fortes. Substrato dunar aflorante, em grande extensão sujeito à formação de espessas crostas salinas nas camadas superficiais. Vegetação esparsa, desagregada, organizada sobre montículos ou em torno de moitas individuais longamente perenes, normalmente da espécie Corema album (camarinha).

Vegetação sujeita ao regime de marés oceânicas

Vegetação arbustiva e herbácea espontânea de zonas sujeitas ao regime cíclico diário das marés oceânicas

Estuário

Zona colonizada por algas e por bancos de plantas fanerogâmicas, designadamente por Zoostera e Cymodocea

Sapal

Biótopo de substratos sedimentares de granulometria e estabilidade variáveis. É colonizado por vegetação perene e também anual na zona de menor período de submersão por massas tidais de água com salinidade elevada, de concentração aproximada de 35/1000.

Sapal baixo

Zona onde o período de submersão por massas de águas de maré é mais demorado, ainda assim, potencialmente colonizável por plantas terrestres,com especial destaque para Spartina maritima. Utilizou-se o referencial altimétrico de 4.20m sobre o nível médio das águas, definido com base no MDT estabelecido em fases anteriores, para delimitar a transição entre o sapal e o sapal baixo. Inclui-se no biótopo as faixas predominantemente arenosas de flechas estuarinas.

Salinas e pisciculturas

Locais e zonas artificializadas para escavação e edificação em solos salgados, predominantemente argilosos, de tanques, valados e taludes de salinas e pisciculturas. Estes substratos não sendo revestidos por cimentos artificiais, podem ser espontaneamente colonizados por faixas de vegetação normalmente fragmentada e de pequena dimensão, caracterizada por plantas tolerantes aos factores ecológicos em presença.

Lagoa costeira

Lagoas separadas do oceano por uma barra arenosa sujeita a galgamentos marinhos, retendo águas salobras com salinidade inferior a 35/1000, com gradiente de salinidade zonado em função da proximidade ao oceano e em função da dinâmica lagunar. Podem ser colonizadas por fanerogâmicas aquáticas dos géneros Ruppia, Najas e Potamogetum.

Vegetação em áreas com domínio arbóreo sujeito a práticas de gestão florestal ou agro-florestal

Vegetação de expressão variável, consequência das práticas de gestão ao longo dos ciclos de produção florestal. Normalmente, no seu sobcoberto arbóreo, esta vegetação é constituída por matos e relvados espontâneos, cuja composição florística dominante é também condicionada pelo tipo de substrato.

Pinhais de pinheiro-bravo

No coberto arbóreo domina o pinheiro bravo, Pinus pinaster

Pinhais de pinheiro-manso

No coberto arbóreo domina o pinheiro manso, Pinus pinea

Montado

No coberto arbóreo domina o sobreiro, Quercus suber, e frequentemente a vegetação de sobcoberto é constituída por relvados e mosaicos de mato/relvado, exprimindo mobilização do solo (de forma continuada ou episódica).

Montado-aberto

No coberto arbóreo domina o sobreiro, Quercus suber repartindo-se agregado em manchas em torno das quais se exibe uma vegetação de relvados e mosaicos de mato/relvado resultante do maneio agro-florestal.

Montado-consociado

No estrato arbóreo ocorrem outras espécies arbóreas co-dominantes com o sobreiro.

Vegetação lenhosa espontânea (matos e matagais)

Matos de solos arenosos

Formações vegetais constituídas por mosaicos de mato/relvados estabelecidas sobre solos arenosos com origem em rochas sedimentares quartzosas antigas (paleo-dunas, depósitos areníticos e conglomeráticos plio-plistocénicos).

Matos de solos calcários e areníticos triásicos com calcários intercalados

Formações de mosaicos de mato/relvados, diversificados na composição florística, estabelecidos sobre solos dominantemente não arenosos com carbonatos.

Carrascal

Mato normalmente fechado, mono-estratificado e diversificado na composição florística, onde dominam espécies lenhosas como a Quercus coccifera (carrasco), Pistacia lentiscus, Phillyrea etc. Nas clareiras e orlas ocorrem relvados xéricos.

Carrascal aberto

Formação essencialmente lenhosa constituída por um mosaico de sinécias ou agregados mono-estrato de espécies lenhosas às quais se associam relvados de clareira ou solo desprovido de vegetação superior, ou ainda afloramentos rochosos.

Carrascal em mosaico com relvados xéricos

Vegetação constituída por mosaicos arbustivos e zonas de dimensão equivalente onde dominam relvados. Nas zonas de relvado, os processos de mobilização do solo são mais intensos, procurando assegurar a renovação das pastagens.

Matagal

Vegetação arbustiva fechada de porte médio a elevado (superior a 2.3m de altura), persistente, de ocorrência antiga, pluri-estratificada, composicionalmente diversificada, normalmente estabelecida em zonas de solos rochosos e/ou com acentuado pendor, de notória improdutividade agrícola e florestal.

Matos em solos derivados de xistos e rochas cristalofílicas

Formações de mosaicos de mato/relvados, diversificados na composição florística, estabelecidos sobre solos dominantemente de rochas xistosas e cristalofílicas.

Esteval

Vegetação lenhosa, composicionalmente pobre onde domina a esteva (Cistus ladanifer), frequentemente estabelecida sobre solos esqueléticos pobres de vertentes, anteriormente arroteados. Diferentes graus de diversificação separam os estevais dos matagais.

Matagal

Vegetação arbustiva fechada, pluri-estratificada, cujo topo do copado atinge porte médio a elevado (superior a 2.3m de altura), persistente, de ocorrência antiga, constituído por alguns indivíduos lenhosos também antigos, composicionalmente diversificada, normalmente estabelecida em vertentes voltadas aos quadrantes ocidental e norte. As espécies de folha larga exprimem um grau elevado de diversificação funcional (medronheiro [Arbutus unedo], aroeira [Pistacia lentiscus], carrasco [Quercus coccifera], etc. O elemento arbóreo fundamental é o sobreiro.

Sobreiral

Bosque de sobreiro, que pode associar carvalhos, Quercus faginea e Quercus canariensis. Vegetação fechada, pluri-estratificada, cujo topo do copado atinge porte elevado (superior a 5m de altura), persistente, de ocorrência muito antiga (superior a 100 anos), constituído por indivíduos lenhosos também antigos, composicionalmente diversificada, com um grau também elevado de diversificação funcional de elementos de folha larga. Normalmente estabelecidos em vertentes voltadas aos quadrantes ocidental e norte. A elevada sombra que produz contribui para o surgimento de micro-habitats no gradiente de luminosidade, controlo da humidade do solo e do teor de azoto e nutrientes minerais relacionados com o afolhamento.

Vegetação de solos higrófitos ou de zonas húmidas dulciaquícolas

Vegetação relacionada com zonas nas quais o balanço hídrico do solo não é condicionada apenas pela precipitação atmosférica, sendo determinantes as anomalias na drenagem. Estas resultam de causas naturais como a presença de impermes em relação com a pequena declividade topográfica. Podem ainda relacionar-se com o represamento artificial de águas. Em qualquer destas circunstâncias, a inundação permanente ou temporária dos solos determina um factor ecológico determinante dos aspectos biológicos das plantas que podem colonizar estes biótopos.

Juncal

Formação constituída por espécies tolerantes à inundação, normalmente macrófitos enraizados, total ou parcialmente submersíveis durante o hidro- período. Destacam-se as plantas das famílias das juncáceas e ciperáceas. Os juncais podem formar mosaicos com relvados constituídos por outras plantas cujo maior e rápido desenvolvimento vegetativo ocorre após a emersão do solo. Os juncais diversificam-se composicionalmente ao longo dos gradientes do hidro-período e dos gradientes de salinidade e de perturbação.

Urzal húmido (incluindo a vegetação das margens dos brejos)

Vegetação de zonas húmidas sem inundação (ou onde a inundação manifesta- se por um breve hidro-período), constituída por mosaicos frequentemente zonados de espécies arbustivas, herbáceas e juncoides. A escalas mais finas de análise, diferentes biótopos diferenciam-se pela presença respectivamente das urzes Erica ciliaris, E. lusitanica e E. erigena. Os brejos correspondem a um biótopo de solos arenosos húmidos, de transição entre as lagoas temporárias e as galerias ripícolas. Numerosas espécies vegetais que colonizam estes espaços são também encontradas quer num quer noutro dos biótopos.

Canaviais (e caniçais)

Formações de plantas em que o caule é um colmo (cana), produzindo canaviais da espécie Arundo donax ou caniçais da espécie Phragmites australis.

Galerias ripícolas arbóreas

Faixas de vegetação essencialmente de porte arbóreo, onde pontificam árvores das espécies Salix (salgueiros), Fraxinus (freixo), Populus (choupo), Ulmus (ulmeiro). Estas faixas marginam sobretudo as grandes ribeiras e parte do rio Mira, nos troços médio e superior onde a salinidade é baixa. As galerias desenvolvem-se para montante da zona de transição com as águas salobras estuarinas. As galerias podem ser alargadas em relação ao eixo do talvegue e incluírem no seu subcoberto tipos de vegetação umbrófila, resistente às correstes fluviais.

Lagoas temporárias

Vegetação particular de zonas de fraca drenagem, em que a superfície do solo emerge durante uma parte do ano, ficando submersa durante a época em que a evapotranspiração, a percolação e a escorrência não são suficientes para esgotarem a água doce acumulada à superfície. O hidro-período poderá ter uma duração mensurável em dias ou semanas. Esta vegetação heterogénea, pode integrar plantas com diferentes morfologias tendo em comum a capacidade de suportar um hidro-período, e de seguida na maior parte os casos, um período de manifesta carência hídrica coincidente com o Verão.

Paul (inclui as turfeiras)

Os pauis são zonas lênticas (sem águas com corrente expressiva), onde o hidro-período gerado pela água doce acumulada persiste durante todo o ano. A acidez do meio é normalmente elevada, proporcionando condições especiais para acumulação de matéria orgânica que permanece com baixo grau de decomposição. Nestas circunstâncias podem ocorrer turfeiras. Algumas das plantas que colonizam este biótopo apresentam uma distribuição bastante restrita.

Vegetação de zonas de águas represadas

Dependendo do grau de artificialização gerado para criar o represamento e para a gestão anual das águas acumuladas e exploração da superfície do solo emergente, diferentes circunstâncias ambientais podem surgir. Estas circunstâncias podem ser estáveis e previsíveis ao longo dos anos, como é o caso de alguns açudes originalmente construídos para rega de arrozais, ou podem ser instáveis e irregulares como no caso das grandes albufeiras de barragens. A vegetação é heterogénea.

Áreas agrícolas

Vegetação de solos sujeitos a mobilização. Nalguns casos pode ocorrer uma ou várias regas. Nalguns casos pode ocorrer fertilização e durante o período de gestão do cultivo podem ser aplicadas substâncias químicas de controlo biológico, com efeitos secundários diversos sobre a vegetação que espontaneamente iria ressurgir após a mobilização. A sequência de rotinas de mobilização, as espécies cultivadas e a sequência de procedimentos de gestão agrícola, acumulados ao longo da história, é um factor relevante do tipo de vegetação que pode surgir.

Relvados xéricos (frequentemente convergentes com pastagens não melhoradas)

Vegetação espontânea de plantas herbáceas que surge espontaneamente em solos siliciosos ou arenosos pobres, com demorada cronologia de arroteias, sem práticas de rega, uso de fertilizantes, ou aplicação de substâncias para controlo biológico. Normalmente estes relvados correspondem a pousios e também a terrenos mobilizados para prevenção de fogos florestais.

Relvados mésicos

Relvados que surgem nas mesmas condições da mobilização e gestão da vegetação anteriormente descrita mas associada a solos com maior capacidade de retenção ou hidricamente compensados por factores naturais, mineralogicamente e nutricionalmente mais ricos.

Sequeiro

Cultivos agrícolas com recurso às capacidades hídricas naturais do solo, gerando benefício económico decorrente da colheita dos seus produtos e/ou da pastagem. A condução dos cultivos através de técnicas adequadas pode potenciar maior rentabilidade económica, mas ao longo tempo, sendo diminuídas as práticas de gestão destes cultivos, com frequência estas formações vegetais transitam para relvados xéricos com enriquecimento em espécies espontâneas e ganho de maior naturalidade. Durante o período com mais intenso maneio, diversas plantas espontâneas podem no entanto surgir nas orlas das culturas.

Sequeiro em mosaicos com vegetação arbórea florestal (incluindo a oliveira)

Cultivos agrícolas nas condições atrás mencionadas, em associação na parcela com povoamentos arbóreos de carácter florestal incluindo a oliveira e possibilitando o multi-uso.

Sequeiro consociados com pomares

Cultivos agrícolas em associação na parcela com pomares. Os processos usados na gestão da produção frutícola determinam a possibilidade de multi- uso, designadamente, para pastagem ou para aplicações forrageiras.

Regadios

Cultivos não arbóreos com o uso regular de regas em solos que se enxugaram, ou que não tinham disponibilidade hídrica durante o Verão. O regadio diferencia-se da classe de agricultura de produção intensiva, pelo maior esforço de controlo dos processos naturais no solo e na interacção solo-planta verificados no último tipo. Diferentes formas de regadio serão mapeáveis.

Mosaicos agrícolas

Mosaicos de pequenas parcelas agrícolas de usos diversificados, normalmente em pequenas propriedades rurais, podendo incluir cultivos hortícolas, pequenas áreas de pastagem, pomares e parcelas adjacentes sujeitas a usos florestais (normalmente pequenos pinhais). Normalmente surgem associados a pequenas áreas edificadas.

Cultivos agrícolas de produção intensiva

Cultivos agrícolas produzidos através de tecnologia sofisticada que independentemente da área espacial, permite condicionar os factores característicos do biótopo natural, como as condições diárias de nutrição, hidratação e de drenagem, a biologia do solo, forçando o meio a desenvolver condições favoráveis, especificamente adequadas ao cultivo das plantas pretendidas no momento pretendido. Deste modo a interacção solo-planta é reduzida às funções exigidas para a optimização da produção. No limite, o substrato representa apenas o suporte físico enraizamento.

Cultivos agrícolas sob abrigo (estufas)

Cultivos agrícolas tal como anteriormente definido, praticados sob o abrigo de estufas durante o ciclo de produção. Os cultivos com recurso a estufins amovíveis em determinado momento do ciclo de produção, são considerados no anterior item.

Olival

Povoamentos de oliveiras normalmente de estádios etários avançados, não vocacionados para a intensificação da produção, com os quais se relaciona vegetação herbácea decorrente do maneio do olival.

Vinha

Cultivos da vinha Vitis vinifer em vinhedos com área superior a 1ha.

Pomares (citrinos essencialmente)

Cultivos de árvores fruteiras, sobretudo laranjeira.

Figueiral

Cultivos de figueira. Normalmente estes cultivos relacionam-se com práticas de maneio que contribuem para a consolidação de relvados espontâneos.

Amendoal (incluindo alfarrobeirais)

Cultivos de povoamentos de amendoeira cuja condução determinando o surgimento de relvados espontâneos de sobcoberto cuja persistência varia com as práticas de maneio do amendoal. Os povoamentos de alfarrobeira determinam um tipo similar de ecossistema embora sejam já escassos na área de estudo.

Vegetação alóctone

Vegetação perene, cuja proliferação decorreu da instalação prévia de povoamentos ou elementos isolados das diversas espécies, seguindo-se um movimento natural de contágio, expansão, alastramento ou dispersão a mais longa distância. Esta vegetação é dotada de elevada capacidade de controlo das plantas e comunidades vegetais nativas que originalmente deveriam surgir no biótopo. Acabam assim por dominar nesses locais e determinar o funcionamento do ecossistema. Tratam-se de espécies capazes de deslocar o equilíbrio dos ecossistemas, e os povoamentos mais importantes detectáveis à escala do mapa são de plantas de Acacia, Carpobrotus e Nicotiana.

Acacial

Formação constituída por povoamentos estremes de acácia(s).

Vegetação alóctone indiferenciada

Formação constituída por povoamentos estremes ou quase de outras espécies invasivas, em particular Nicotiana glauca e Carpobrotus edulis.

Áreas artificializadas

Áreas ocupadas por construções para habitação humana, e edificações de outra natureza em que os processos de organização da actividade económica e social humanas são determinantes na estrutura e funções do ecossistema.

Locais de extracção de inertes

Locais onde decorreu a escavação para retirada de materiais geológicos, tendo permanecido taludes, bacias de represamento de águas susceptíveis de serem colonizados por plantas da vegetação adjacente, ou por plantas especializadas neste de habitats.

Locais pontualmente urbanos

Locais urbanizados de pequena dimensão e o alastramento das actividades sociais confinada à adjacência. Poderão existir ajardinados maioritariamente de plantas não nativas.

Zonas de matriz urbana

Zonas evidenciando núcleos urbanizados disjuntos por corredores de vegetação.

Áreas urbanas contínuas

Áreas urbanas em que a relação matriz edificada/corredor de vegetação é diminuta. Os habitats das espécies espontâneas

Zonas portuárias

Zonas infra-estruturadas adjacentes ao oceano. Frequentemente as fissuras em paredes de alvenaria e outros materiais construtivos simulam micro-habitats de uma flórula restrita das arribas costeiras.

Outras zonas artificializadas

Áreas infra-estruturadas normalmente adjacentes a eixos rodoviários principais.