Corgo das Conchinhas 1

Freguesia/Concelho:S. Luís (Odemira)

Localização: 37°43'31,71"N; 8°45'02,16"W (C.M.P. 1:25.000, Folha 544)

Cronologia: Período Romano

O Corgo das Conchinhas 1 é um sítio romano do período imperial, ocupado entre os séculos I e III d.C. Situa-se perto de Vila Nova de Milfontes, na margem direita do estuário do rio Mira, junto da confluência do Esteiro da Gama.

O local situa-se ao lado da Herdade da Argamassa, cujo nome se deve referir de alguma maneira à presença no local de antigos muros romanos, construídos por blocos pétreos ligados por argamassa de cal e areia. Foi nesta área da Argamassa que Leite de Vasconcellos realizou, no início do século XX, pesquisas arqueológicas em busca da cidade romana de Miróbriga que se mostraram infrutíferas, ou cujos resultados nunca foram publicados. Por seu turno, o topónimo Conchinhas parece fazer alusão à presença de restos de conchas de moluscos marinhos que foram consumidos quando o sítio foi habitado quiçá na Antiguidade.

Ao que se sabe, o sítio romano do Corgo das Conchinhas nunca foi escavado. As construções do período romano estão, na sua esmagadora maioria, soterradas por baixo do pequeno patamar na base da vertente sobre o rio, sobre o qual foi edificado a casa de um velho monte, há pouco tempo recuperado como alojamento turístico. Desta maneira, as casas romanas encontrar-se-ão sob as construções dos séculos XIX/XX e deram origem aos taludes sobre os quais estas foram construidas.

Uma parede de época romana é visível, entre arbustos e zambujeiros, no lado esquerdo da rampa de terra batida que permite acesso à margem do rio. Trata-se de um muro de lajes de xisto, com pouco mais de um metro de altura acima do chão.

Encontram-se no local outros restos de edifícios romanos, como cerâmica de construção – tégulas (telhas planas) e imbríces (telhas de meia cana). Entre os recipiêntes cerâmicos que permitem precisar a cronologia da ocupação do sítio, destacam-se fragmentos de ânforas de tipo Dressel 14, modelo fabricado entre meados do século I e finais do seguinte nas costas meridionais da Lusitânia (Tejo, Sado, Algarve), razão porque este modelo de ânfora é também designada Lusitana 2. Destinavam-se ao armazenamento e transporte a longa distância de peixe conservado em sal.

Na margem do rio, frente à estrutura de época romana, e duas dezenas de metros a montante do cais moderno, ergue-se acima da água um afloramento proeminente de conglomerado ferruginoso castanho-avermelhado, cujas faces verticais foram talhadas quase a prumo. Trata-se, muito provavelmente, de um ancoradouro muito antigo, que se pode relacionar com as estruturas romanas. Na superfície de bancada de xisto que permite acesso, na maré baixa, a esse rochedo mais elevado, existem alinhamentos de buracos de poste de suporte de um possível passadiço de madeira para permitir acesso ao antigo cais.

O Corgo das Conchinhas 1 é um dos vários sítios ribeirinhos romanos dispersos ao longo das margens da parte vestibular do estuário do Mira, como o Corgo das Conchinhas 2 (restos de muros romanos na Argamassa, mais concretamente no rebordo da planície sobre a confluência do Esteiro da Gama no Mira, a norte de Conchinhas 1). Estes sítios seriam dependentes da grande povoação romana existente na margem direita do rio, entre a ponte e o colégio de Milfontes, que se crê ter sido um vicus importante nos séculos I a IV d.C.

Bibliografia:

QUARESMA, A. M.(2003) – Vila Nova de Milfontes. História. Vila Nova de Milfontes: Junta de Freguesia.

VILHENA, J. (2012) – Milfontes, uma história feita em cacos (“maravilhas de Portugal”). FO Magazine, 7. Odemira, p. 26-29.

VILHENA, J. (2014) – Acupunctura em Odemira: dois séculos de Arqueologia. In P. PRISTA (coord.), Ignorância e Esquecimento em Odemira. Odemira: Município de Odemira.

VILHENA, J. & GRANGE, M. (2008) – Premières données archéologiques sur le Baixo Mira durant le haut Moyen Âge (VIIe-XIe siècle): Études de cas et problématiques générales. Actas do III Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular (Vipasca – Arqueologia e História, 2), p. 542-558.

Jorge Vilhena

 

Fig. 1 – Localização do sítio romano do Corgo das Conchinhas e Argamassa, vista de oeste, 1999.

Fig. 2 – Sítio romano do Corgo das Conchinhas 1. Vista de leste, 1999.

Fig. 3 – Muros de época romana de Corgo das Conchinhas 1. Vista de norte.

Fig. 4 – Cais antigo no Corgo das Conchinhas 1, vista de leste, desde muro de época romana.

Fig. 5 - Cais antigo no Corgo das Conchinhas 1, vista de norte. À esquerda, o talude do patamar ocupado por construção moderna sob o qual se encontram as construções de época romana.

Fig. 6 – Buracos de poste na rocha para postes de sustentação de passadiço de cais antigo de Corgo das Conchinhas 1.

Fig. 7 – Corgo das Conchinhas. Vista de oeste.