Castelo Velho da Caneja

Cerro do Castelo, Vale de Gaios, Castelão/Zambujeira

Freguesia/Concelho: Boavista dos Pinheiros (Odemira)

Localização: 37°34'21"N; 8°37'18"W (C.M.P. 1:25.000, Folha 561)

Cronologia: Período islâmico

O Castelo Velho da Caneja situa-se na propriedade de Caneja de Baixo, junto da partilha com a herdade das Torrinhas, topónimo que é alusivo à proximidade deste antigo castelo rural de período islâmico.

No caminho, passa-se pelo Monte da Caneja, cuja antiga casa de sobrado, já em processo de ruína, é exemplo de arquitectura rural vernácula oitocentista de alguma imponência e merece por si mesmo uma visita, especialmente por a lenda indicar que foi a residência de um importante capitão do tempo da Guerra Civil.

O local situa-se sobre a várzea da margem direita da ribeira da Caneja, perto da confluência desta com o Mira. Do castelo, onde se domina visualmente um troço do Mira, vê-se, na direcção noroeste, o casario de Odemira e o Cerro da Guia, um provável antigo posto de atalaia do castelo desta vila. Na Caneja, está-se também já muito perto do limite actual de entrada de marés no estuário com o Mira, que ainda sobem um pouco mais até ao porto da Torrinha.

Num raio de dois quilómetros em redor do castelo, de ambos os lados do rio, existem vários sítios (Caneja de Cima, Alcaria, Saquenibaque, Arrenegada, Monte do Azinhal) ocupados na Alta Idade Média, testemunhos de uma rede relativamente densa de povoamento disperso nesta derradeira secção do estuário do Mira.

Nunca se fizeram escavações arqueológicas no Cerro do Castelo da Caneja. A antiga fortificação abrangeu o cume de uma colina de perfil cónico em esporão elevado que se projecta na direcção noroeste, onde existem zambujeiros (do berbere zabbúj) e oliveiras centenárias. Dada a topografia do terreno, o acesso faz-se apenas pela ligação à crista onde está a ruína do moinho de vento da Caneja, em caminho de terra batida que ascende ao local desde a várzea do monte da Caneja de Baixo.

No castelo, a única estrutura perceptível é um largo fosso defensivo em todo o redor do cume, escavado com 3 metros de largo até à rocha. Embora meio oculto por sedimentos e vegetação, é facilmente perceptível a sua presença, com paredes de rocha viva, em alguns pontos com altura de mais de 2 metros.

O fosso define uma área de contorno ovalado, onde se pressente, pelos amontoados de pedras aparelhadas e acumulação de terras, a presença de diversas construções.

Os únicos materiais arqueológicos até agora encontrados no local são inúmeros fragmentos de telhas de meia cana espessas, de coloração laranja clara. A presença de telhas, material arquitectónico completamente ausente noutros castelos rurais medievais da região de Odemira, bem como a própria tipologia destas, aponta para uma cronologia de ocupação do Cerro do Castelo da Caneja no período islâmico tardio, provavelmente posterior ao século XI – cronologia que o aproxima da ocupação islâmica do vizinho Cerro do Castelo de Odemira (séc. XII – XIII).

A sua funcionalidade é desconhecida. Outros castelos rurais, de período islâmico tardio, já estudados no Sul de Portugal e que apresentam área similar e fossos defensivos como este são interpretados, em função das estruturas habitacionais encontradas, como residências senhoriais acasteladas, ou celeiros comunitários fortificados. A permanência do topónimo Torrinha no lugar parece apontar para que efectivamente tenha sido, como se crê, um pequeno burdj (em português, torre).

Na base da vertente do lado sul do Cerro do Castelo da Caneja, corre um canal de rega. A tradição conta que, durante a sua escavação, no final da década de 1960, foi ali descoberta uma sepultura, contendo um pote com um tesouro de moedas que terá feito a fortuna do trabalhador que a encontrou. A história, certamente empolada, da descoberta da sepultura naquele sítio é, ainda assim, verosímil e pode indicar a localização da necrópole dos habitantes do Cerro do Castelo.

Bibliografia:

VILHENA, J. (2014) - Acupunctura em Odemira: dois séculos de Arqueologia. In P. PRISTA (coord.), Ignorância e Esquecimento em Odemira. Odemira: Município de Odemira.

Jorge Vilhena

Fig. 1 – Castelo Velho da Caneja, vista geral de poente (Inverno de 2012).

Fig. 2 - Castelo Velho da Caneja, vista geral de poente (Verão de 1995).

Fig. 3 – Castelo Velho da Caneja, vista de sul, do sítio arqueológico de período islâmico de Caneja de Cima 1.

Fig. 4 – Castelo Velho da Caneja, vista de sueste do cume, com vale do rio Mira e Odemira em pano de fundo, a noroeste.

 Fig. 5 – Castelo Velho da Caneja, lado poente do fosso circundante.

Fig. 6 - Castelo Velho da Caneja, lado norte do fosso defensivo.