Proto-história em Odemira

Jorge Vilhena

O rio Mira constitui o principal eixo da região de Odemira. Na verdade, o mesmo rio tem duas partes bem diferenciadas. Até Odemira é a ribeira de Mira, assim chamam os locais ao curso de água doce nado na Serra de Mú ou Caldeirão, em Almodôvar, e é apenas já muito perto de Odemira que principia o rio Mira, aqui também chamado rio mestre de água salgada, ria inundada pelas águas do mar ao longo de vinte e sete quilómetros, até à foz no Oceano, junto de Vila Nova de Milfontes (Fig. 1).

Rio Mira ou rio Odemira (ambas as designações foram usadas até Época Moderna de forma indistinta para designar o rio e a vila) é repetição tautológica de expressões para curso de água ditas em três línguas diferentes que, ao longo das épocas, foram faladas na região (e os nomes de rios e montanhas são o que mais duradouro existe na toponímia de um território): o português rio(do latim rivu), o árabe magrebino wadi/oued, e a locução mira. Esta última tem génese na palavra de língua céltica, ou pré-celta, que transmitia o conceito de extensão de água: muir, que, por sua vez,terá tido origem na expressão utilizada para dizer mar no idioma proto-indo-europeu, que seria um vocábulo como *móri (Pedreros, 1996: 363). Assim, o próprio nome do rio e da região a que deu nome remonta a tempos pré-romanos.

Sumariamente apresentado o rio, principal actor na região (à geografia voltaremos pontualmente), com a explicação do seu nome entramos directamente no período cronológico que aqui nos interessa, a Idade do Ferro que, no Sul de Portugal, decorreu entre os séculos VIII e II antes da nossa Era.

A Idade do Ferro na Península Ibérica corresponde à Proto-história, fase civilizacional em que as comunidades pré-históricas (portanto, desconhecedoras da escrita) de uma região estão em contacto com grupos que produzem documentos escritos que a elas se referem, ou, segundo outra definição, complementar e igualmente aplicável ao Sudoeste Peninsular, o período quando uma sociedade começa a utilizar a escrita para criar textos acerca de si própria e das suas acções (Fig. 2). Considera-se também que a Proto-história abrange ainda a última fase da Idade do Bronze Final, entre aprox. 900 a 700 antes de Cristo. E que a Idade do Ferro se divide em duas, a Primeira (séculos VII a V a.C.) e Segunda (séc. IV e III a.C.).

Idade do Ferro e Idade do Bronze Final abarcam juntas outras compartimentações cronológicas de definição mais recente, como o Período Orientalizante, decorrido entre aprox. 900/800 e 600 a.C.. Nessa época, assistiu-se a um forte e determinante contacto com civilizações marítimas do Mediterrâneo, Fenícios e Gregos, que trouxeram inovações como a escrita, a roda, a metalurgia do ferro e o vinho. Esse contacto entre culturas, estabelecido a partir de feitorias estabelecidas nas costas meridionais e nos principais estuários do Sul da Península Ibérica, impulsionou em muito o desenvolvimento social e económico, sobretudo ao longo dos grandes rios navegáveis, como o Guadiana, o Sado ou o Tejo.

Ao período orientalizante, seguiu-se o chamado de Pós-orientalizante, nos séculos VI e V a.C., quando se pressente um certo declínio nessas relações, mas que seriam de novo muito fortes ao longo da II Idade do Ferro, até ao período proto-romano. Nessa época, verificou-se uma forte influência púnica em todo o Sul peninsular, exercida a partir das cidades-estado púnicas autónomas de Gadir, a mais antiga urbe da Ibéria, e de Cartago, na actual Tunísia. Foi um processo de aculturação que gradualmente conduziu à integração do Sul da Península no padrão civilizacional mediterrâneo e por fim à romanização.

Foi na primeira metade do milénio pré-cristão que se implantaram nas margens do rio Mira os dois principais núcleos urbanos que centralizaram o povoamento proto-histórico da bacia hidrográfica e dariam origem a dois concelhos históricos: a oeste o Cerro do Castelo de Odemira (Fig. 3), e a nascente a povoação proto-histórica do Castro de Nossa Senhora da Cola (Fig. 4), senhora de um território que englobava grande parte da metade oriental do actual concelho de Odemira.

O Castro da Cola, situado apenas a 1 km para além do presente limite leste do concelho de Odemira, foi um vasto povoado de altura instalado numa ampla península contornada por meandros do Mira, englobando a elevação proeminente do «castro». Investigada em finais do século XVIII por frei Manuel do Cenáculo e por Abel Viana entre 1958 e 1964 (Viana, 1961), a povoação foi fortificada por mais que uma linha de muralhas e taludes artificiais durante o Bronze Final e a 1.ª Idade do Ferro. Depois, o local foi despovoado a partir do século V a.C., e apenas viria a ser habitado no período medieval (Correia & Parreira, 2002; Vilhena, 2006). Apesar de tudo, conhece-se relativamente mal a ocupação proto-histórica da Cola, apenas revelada pelos achados, infelizmente descontextualizados, de fragmentos cerâmicos de tigelas e urnas, machados de pedra polida, fíbulas de modelos mediterrâneos e outros pequenos objectos de bronze, incluindo elementos de atrelagem de cavalo (Fig. 5), moldes de fundição, uma espada de ferro de tipo de antenas, etc. E, peça excepcional, uma espectacular espada de bronze (Fig. 6) de modelo mediterrânico de tipo Monte-Sa-Idda, fabricada no auge da metalurgia do Bronze Final. Encontrada à beira-rio, dentro da área amuralhada do povoado, foi deposta, qual Excalibur alentejana, como provável oferta cerimonial às águas do Mira.

Desçamos o Mira, já por terras do concelho de Odemira. O curso do rio, que neste sector foi submerso pela barragem de Santa Clara, é forçado a contornar por sul a serra de S. Martinho (cume Vigia - 391 m) e toma a direcção sudoeste. Relevos muito enrugados, que se irão prolongar até perto de Odemira, formam vales profundos, apertados por uma infinitude de cerros boleados muito altos, que assim propiciaram locais estratégicos para antigas ocupações em altura.

Na margem direita da albufeira, dois outros povoados de altura coevos da Cola foram instalados sobre esporões sobranceiros ao Mira: Cerro das Alminhas (Fig. 7), no Bronze Final pré-colonial, onde a estreita zona de acesso ao cerro foi vedada por um grande terraço artificial, e Cidade da Rocha (Fig. 8), com toda a plausibilidade também do Bronze Final ou Idade do Ferro, cintada por uma muralha bem conservada.

No terraço do Cerro das Alminhas e num sector da muralha de Cidade da Rocha, bem como na área do interior da Cola onde foi descoberta a espada de bronze, existem grandes quantidades de blocos de grauvaque que foram aquecidos a elevadas temperaturas (800 a 1200º C) em ambiente redutor, tendo-se deformado e liquescido parcialmente, sofrendo completa mutação para estrutura vesicular de tipo pómice e textura superficial escorificada, que se designam, ainda que incorrectamente, por pedras vitrificadas. No Cerro das Alminhas, são chamadas de pedras leves, pela estranha particularidade que estas pedras têm de flutuar na água, sendo, por isso tradicionalmente usadas como pedra-pomes. O mesmo fenómeno de vitrificação de estruturas foi documentado em escavações arqueológicas de níveis subjacentes a estratos datados dos séc. VIII a VI a.C. no povoado fortificado de Garvão (Ourique).

São, portanto, em Odemira e Ourique quatro os povoados do Bronze Final e da Idade do Ferro com muralhas e terraços artificiais onde se encontraram estruturas pétreas vitrificadas; outros oito em Portugal (no Baixo e Alto Alentejo e na Beira Interior), quatro em Espanha (no Tejo, Guadiana e Guadalquivir). No total, trata-se de uma centena e meia de sítios distribuídos por toda a Europa Ocidental, entre a Andaluzia e a Escandinávia e da Escócia à Boémia, cujas cronologias invariavelmente são também proto-históricas. Essa sincronia aponta para uma manifestação cultural comum a esse vasto espaço geográfico (Vilhena & Gonçalves, 2011; Vilhena & Grangé, 2011; Soares, 2007).

Em todos eles, a génese deste processo de vitrificação de muralhas tem sido alvo de uma das mais prolongadas discussões científicas. Ao princípio, nos séculos XVIII e XIX, foi pensado como resultado de acções naturais (vulcanismo, impactes de meteoritos), depois, foi sendo percebida como realização do homem antigo, eventualmente relacionada com a metalurgia das idades dos metais. Mas tem sido encontrado em tantos sítios, quase sempre em muralhas e taludes artificiais, que actualmente se interpreta como o resultado de um processo construtivo destinado a conseguir a fusão parcial das pedras e a sua agregação, ou então, mais provavelmente, resultado da sua destruição, uma vez que os blocos vitrificados são frequentemente leves e quebradiços, pouco adequados para a solidez estrutural dos muros. São dadas duas explicações possíveis para as causas dessa destruição: acidental, como consequência de incêndios ocasionais de estruturas de pedra e madeira, ou propositado, fosse pela queima das mesmas no ardor de conflitos bélicos, fosse devido à acção das próprias comunidades sobre os seus próprios povoados fortificados, assinalando o seu abandono por meio de encerramento cerimonial com recurso a fogo forçado, aplicado nas muralhas em condições programadas (Ralston, 2006).

De qualquer forma, o efeito final deve ter sido irreversível e impressionante, se imaginarmos muralhas a arder nos cumes ao longo de dias e, principalmente, noites; o resultado, foi a transfiguração plástica e cromática perene, mais localizada ou mais extensa, do aspecto dessas arquitecturas de pedra, revestindo-as com um brilho metálico cuja gama de colorações varia entre o cinzento metálico e tons de óxidos vermelhos a acobreados, com nuances de azul e violeta, numa paleta de cores de grande efeito visual, não comum em formações geológicas. Sintomaticamente, um bloco de grauvaque vitrificado fez parte das oferendas funerárias depositadas numa das necrópoles da 1.ª Idade do Ferro, Monte Poço, próxima da Cola.

O Bronze Final é, em particular, um mundo de perplexidade para nós, modernos, cujas manifestações parecem ter sido, em muito aspectos, nos antípodas da nossa actual forma de pensar, economicista, e de agir, predatória. Todas as actividades do homem antigo eram imbuídas de algum tipo de religiosidade. Entrosando os âmbitos paleo-económicos, domésticos, funerários recriam paisagens próprias, das quais os sítios vitrificados são um bom exemplo. A notabilidade enigmática dos sítios com vitrificações, e dos processos pirogénicos que os originaram, são ainda hoje desconcertantes e quase ininteligíveis. Ao longo dos últimos séculos, tiveram repercussões na investigação científica, na cultura popular (tanto no âmbito do lendário tradicional, como nas modernas mitologias de mistérios ocultos e extraterrestres, como se pode comprovar numa pesquisa sobre vitrified walls na internet) e na cultura erudita.

Para a investigação científica, não se pôde ainda determinar como e porque se fez vitrificação em tão grandes volumes e em tantos sítios; é um enigma arqueológico que se mantém quase tão irresolúvel quanto há 250 anos, quando foram reconhecidos os primeiros casos em celtic forts da Escócia. As explicações dadas atravessaram diversos paradigmas das ciências: eventos naturais sem intervenção humana, segundo hipóteses, entretanto abandonadas, exploradas pela Geologia, Vulcanologia e Astronomia; na Arqueologia, hipóteses interpretativas procuraram-se nas explicações belicistas da escola histórico-cultural influenciada pelas espírito do período das guerras mundiais, na New Archaeology escorada nas ciências físico-químicas e ambientais, na Arqueologia Pós-processual focada na apreensão dos aspectos idiossincráticos e simbólicos dos comportamentos.

Na cultura popular europeia, a intangibilidade de tantos castelos velhos vitrificados tem-lhes assegurado ingresso nas narrativas mitológicas estremenhas, bretãs, irlandesas, nórdicas, incluindo as cidades de vidro da gesta arturiana, como obras sobrenaturais de gigantes, duendes, anões ou ferreiros prodigiosos. Essas lendas etiológicas acabaram por chegar à cultura erudita. Wagner dramatizou-as em As Valquírias, no episódio do grande anel de fogo em volta do cume onde Brunilde dorme (Fig. 9); Shakespeare ter-se-á inspirado na lenda escocesa da guerra do fogo entre os reis dos dois fortes vitrificados de Dunsinane e Fettercairn para o enredo de Macbeth, quando as aparições profetizam que a Grande Floresta de Birnam será arrojada contra o Monte Dunsinane, metáfora para assédio com incêndio (Kresten, 2004; Vilhena, 2004).

No alto Mira, ainda em redor do Castro da Cola, e no alto Sado, existem cerca de dez grandes necrópoles monumentais da I Idade do Ferro (Fig. 10) (séculos VIII a V .a.C.). São, na continuidade da tradição funerária da Idade do Bronze da região, conjuntos de grandes túmulos de pedra, de planta circular e rectangular, construídos sobre sepulturas de incineração e inumação. Nelas foram sepultadas personagens, certamente importantes, com oferendas de armas de ferro, adornos pessoais e recipientes cerâmicos (Vilhena, 2008). Estas necrópoles do período sidérico caracterizam a arquitectura funerária da região, incluindo a da zona leste de Odemira. A partir delas foi delimitado um grupo cultural genericamente designado de «Ferro de Ourique», investigado e definido por Caetano de Mello Beirão nas décadas de 1970 a 1990 (Beirão, 1986; Beirão, 1990).

Em algumas destas necrópoles, foram encontradas grandes lajes epigrafadas com letras pré-latinas da escrita da Iª Idade do Ferro do Sudoeste Peninsular. Frei Manuel do Cenáculo, bispo de Beja, foi há mais de duzentos anos o primeiro a recolher e estudar estas inscrições com caracteres fenícios, encontradas precisamente na Cola, junto do que chamou de «sepulturas de generais», e em muitos outros locais do vale do Mira, colecção com a qual fundou em Beja o primeiro museu aberto do país (Fig. 11).

Desde o tempo de Cenáculo, aprendeu-se que esta antiga escrita foi uma evolução da escrita alfabética fenícia, adaptada a uma língua local desaparecida, mas têm-se discutido muito qual a sua cronologia dentro da Idade do Ferro: logo do período orientalizante, ou apenas já pré-romana? Em 1990, Caetano de Melo Beirão conduziu escavações arqueológicas na necrópole do Pardieiro, em S. Martinho das Amoreiras (Odemira), que pertence ao grupo de necrópoles do «Ferro de Ourique»: trata-se de uma necrópole de onze túmulos de maior ou menor monumentalidade, construída e utilizada ao longo dos séculos VII e V antes de Cristo. Foi nesta escavação, onde surgiram três lápides com escrita do sudoeste, que se confirmou ser esta a mais antiga forma de escrita do Ocidente europeu (Beirão & Gomes, 1998; Correia, 1988).

No concelho de Odemira, são conhecidas outras duas inscrições similares: a de Alcanforado (S. Teotónio), achada na várzea da ribeira de Odeceixe e que presentemente se exibe na biblioteca municipal de Odemira (Correia, 1988) (Fig. 12), e a de Sabóia (Gomes, 2009). No total, o corpus de estelas epigrafadas com «escrita do sudoeste» soma perto de cem exemplares. A maioria são fragmentos menores, número insuficiente para uma decifração segura desta escrita, não havendo concordância sobre o valor fonético dos caracteres. Parece certo que a maioria das inscrições sobre lajes contêm fórmulas protocolares funerárias ou memorativas.

A tradução das epígrafes é ainda muito limitada e aproximativa. O linguista John Koch (Koch, 2009, 2009a) interpreta a língua das inscrições como pertencente ao grupo do céltico continental antigo (outros autores defendem origem fenícia ou grega arcaica). No texto da estela 1 do Pardieiro (Fig. 2), Koch propõe a leitura: «(…) aitura, para a mulher, Meleśa» ou «para a mulher de Meleśos»; na estela de Alcanforado (Fig. 12), o mesmo investigador distingue algo como: «(A) terra do cabo sagrado (para) Turekvos …. [esta sepultura] recebe. Ficam unidos».

Nas proximidades de Sabóia, perto de onde foi encontrada a última estela epigrafada com escrita do Sudoeste, encontra-se um povoado fortificado ribeirinho, o Cerro do Castelo do Viradouro, provavelmente da II Idade do Ferro. O Mira retoma aqui o curso para noroeste e, apesar de continuar em região serrana, escavou um vale mais largo e ameno, já de pouca pendente, onde as águas correm mansamente até encontrarem as águas salgadas impulsionadas pelas marés marítimas pelo estuário acima, até alguns quilómetros ainda a montante de Odemira. Nesta zona, a recente escavação de uma necrópole da Idade do Ferro, Torrinhas 2, indicia que o complexo das necrópoles monumentais do «Ferro de Ourique» se prolonga pelo sector de Santa Clara. Na necrópole de Torrinhas escavou-se um enterramento em urna dentro de sepultura delimitada por lajes de xisto, de tipo «cista», semelhante às que se conhecem no litoral algarvio e alentejano, como no Gaio, Sines (Tavares da Silva & Soares, 1981; Costa, 1967).

Alguns achados comprovam a existência no concelho de Odemira de uma fase orientalizante. As arrecadas de Odemira, datadas dos séc. viii-vii a.C., são de fina joalharia de modelo e técnica oriental com paralelos greco-itálicos. Foram adquiridas na década de 1980 pelo Museu Nacional de Arqueologia (Correia; Parreira & Silva, 2013).

Comprados pelo mesmo museu, em 1910, foram os cinco braceletes inacabados de ouro fundido em molde de cera perdida e martelados, achados em Colos do Alentejo. São datados do Bronze Final pré-orientalizante (Fig. 13).

Como as arrecadas de Odemira, também do século VII a.C., do pleno período orientalizante, é o fragmento de cerâmica mais antigo encontrado no Cerro do Castelo de Odemira. Pertenceu a uma ânfora de tipo Vuillemont R1 (as primeiras ânforas fabricadas nas colónias fenícias estabelecidas no sul da Península Ibérica), achado, em contexto revolvido, na escavação arqueológica de 2003 do fosso defensivo no flanco leste do povoado (Vilhena & Rodrigues, 2009). Esta escavação veio confirmar amplamente o que era expectável desde a década de 1980 (Coelho-Soares, 1986), a partir de achados recolhidos sem contexto estratigráfico: o Cerro do Castelo de Odemira foi um sítio particularmente importante no final da Idade do Ferro (séc. IIII a.C.), com continuidade sob domínio romano. A extensão e tipo de implantação do sítio, a estrutura defensiva e o conjunto de artefactos recolhidos permitem afirmar que este foi um oppidum de média dimensão, no paleoestuário do Mira, muito ligado ao comércio marítimo, tirando partido da navegabilidade para o interior permitida pelo rio.

Ao conjugar uma situação em cerro facilmente defensável, situado no limite do alcance directo pela navegação marítima, em local onde também controlava o primeiro vau do rio, e com minas dos muito apetecidos minérios de ferro, chumbo e prata em redor, Odemira enquadra-se num padrão de fundação de novos povoados ao longo da Idade do Ferro meridional. Estes foram estabelecidos em locais estratégicos, defensáveis e situados em fundos de estuário navegáveis ou com boas condições portuárias, tais como: Alcácer do Sal, Tavira ou Mértola, no período orientalizante (séc. VIII/VII a.C.), e, depois, no século IV a.C., Faro, Alvor, Monte Molião (Lagos), no litoral algarvio (Arruda, 2005).

Durante a Proto-história, a navegação marítima entre Mediterrâneo e Atlântico, relativamente mais segura, rápida e económica que a circulação terrestre, fomentou o comércio e a disseminação à distância de mercadorias, gentes e ideias. As naus mediterrâneas da Idade do Ferro foram construídas com grande arqueação, sendo capazes de transportar dezenas de tripulantes e passageiros e de transportar, entre outras mercadorias, dezenas ou centenas de ânforas. Não seria difícil a alguns destes navios movidos a remos e velas subir o rio com as marés, até Odemira, onde os produtos desse comércio (vinho, azeite, preparados de peixe) transportados em ânforas podiam ser descarregados e distribuídos pelos lugares do interior, como Garvão. Provas de que navios dessas proveniências sulcavam estas águas encontraram-se ao largo do cabo Sardão, onde as redes de arrasto trouxeram do leito oceânico uma ânfora piscícola de modelo púnico Mañá A4 e um dente de elefante. Esta presa estava provavelmente a ser transportada pelo comércio púnico ou turdetano para a costa atlântica peninsular para escambo como marfim em bruto (Cardoso, 2001). Também o porto da Ilha do Pessegueiro, relativamente próximo da foz do Mira, revelou evidências de uma fase de ocupação pré-romana atribuível à II Idade do Ferro (Tavares da Silva & Soares, 1993).

Todavia, apesar destas facilidades permitidas pelo estuário do rio, não se conhecem muitas mais ocupações da Idade do Ferro na parte ocidental do concelho de Odemira. O Mira desagua num litoral escarpado, com poucas e perigosas entradas, que esconde a charneca da planície litoral elevada, que, ao que se sabe, foi escassamente povoada durante a Proto-história. A zona mais favorável à ocupação humana seria a parte vestibular do estuário do rio. A jusante de Odemira, o estuário é ainda muito encaixado, mas no Moinho da Asneira o Mira inflecte para ocidente, abrindo-se até à foz num amplo mar interior com três quilómetros de extensão de águas calmas.

A configuração da barra do Mira seria muito diferente daquela conhecida em tempos históricos. Desde logo, porque a foz era bifurcada, com o canal actualmente existente (que plausivelmente era mais largo do que na actualidade) no lado sul, e outro menor, já desaparecido, que foi completamente assoreado e que corria entre as praias da Franquia e do Carreiro da Fazenda, no lado norte da elevação do Semáforo de Milfontes – que, assim, foi uma ilha (Fig. 1). Até à mudança de Era, este canal desaparecido seria um tômbolo intertidal que se poderia passar a pé na baixa-mar para aceder à paleo-ilha de maré do Semáforo, cuja área seria sensivelmente a mesma ou um pouco maior da actual da ilha do Pessegueiro (300 x 180 m) (Pereira, 1990: 370). Ilhas de maré estuarinas com similar regime de acesso tiveram grande importância na Europa e no Mediterrâneo durante a Idade do Ferro, dado constituírem lugares liminares, frequentemente associadas a cultos e restrições, e propícios ao comércio franco. Foi possivelmente nesta antiga ilha, um promontório dominante sobre a foz do Mira, que em 1870 o médico Abel da Silva Ribeiro, pioneiro da arqueologia de Odemira, encontrou artefactos e estruturas que considerou cartagineses (Vilhena, 2014).

Todavia, poucos sítios proto-históricos são efectivamente conhecidos actualmente na parte vestibular do estuário do Mira, não obstante os esforços da investigação. Saqueada nos finais dos anos trinta, existe, ou existiu, uma necrópole dos séc. VI ou V a.C. no Galeado (V. N. Milfontes), num terraço sobre o rio, alguns quilómetros a montante da foz. Encontraram-se nesse sítio duas urnas de cerâmica grosseira (Fig. 14) e, entre outros artefactos (pontas de lança de ferro, arame de bronze), contas de vidro e um brinco de ouro, de tipo púnico (Beirão & Gomes, 1983).

Muito próximo do Galeado, em 1876 Abel Ribeiro (Veiga, 1891: 142) havia identificado no Esteiro da Galé uma piroga (logo destruída, sem que ficasse dela qualquer ilustração) com mais de 3 m de comprimento feita de tronco, nas palavras do próprio, de «carvalho escavado a fogo e instrumentos de pedra, cujos golpes na parte carbonizada ficaram impressos», exposta por uma enxurrada a 5 m de profundidade no lodo de um esteiro da parte terminal do estuário. Pequenas embarcações desse tipo, datadas da II Idade do Ferro, foram encontradas recentemente no estuário do rio Lima, e Estrabão ainda refere no séc. I a.C. o seu uso nas costas da Lusitânia (Geog. 3.3.7: «mas hoje até barcos feitos de um só tronco são já raros»).

No litoral, pouco a sul da foz do Mira, Abel Ribeiro recolheu um colar de contas oculadas de vidro da Idade do Ferro, que se acharam no «chão, ao correr de um veio de água surgido quando se fez uma escavação no lugar de Almogrebe» (Veiga, 1891: 261-262).

Quanto a sítios de habitat, poucos foram até agora reconhecidos fora do estuário do Mira. A sul, na margem direita da ribeira de Odeceixe, pequeno rio que corre directamente para o mar ao logo de um pequeno estuário que se supõe também ter sido navegável, existe um sítio do período pré-romano em patamar na margem direita, Montes da Barca, que, como o nome indica, se situa sobre a zona de passagem tradicional do vale.

Logo a leste do estuário do Mira, a zona da serra e da planície de S. Luís apresenta uma geologia metavulcânica (tufos, felsitos, pórfiros, doleritos) de rochas de cor clara, emergentes em xistos do Carbónico inferior (Oliveira, 1984). A paisagem é marcada pela estreita cordilheira da serra paralela ao mar, e, na planície que se abre a nascente dela, por diversas elevações não erodidas destas rochas mais resilientes. Formam inselbergs, montes-ilha de fisionomias muito distintas, quer pelo isolamento, quer pela alvura dos afloramentos das rochas.

Conhece-se outra ocupação de altura do período orientalizante no serro de S. Domingos (324 m), um dos cumes da serra litoral de S. Luís. Sendo facilmente reconhecível do mar e em todo o litoral entre Sines e o Sardão devido ao seu característico formato cónico, S. Domingos serve ainda de referência à navegação como marcador do rumo para a foz do Mira (Fig. 15). No píncaro de S. Domingos, entre grandes batólitos verticais de rocha vulcânica (felsito) branca tingidas de vermelho de óxidos de ferro, encontram-se escórias de redução de ferro, possivelmente pré-romana, e fragmentos de finas cerâmicas (taças, tigelas) dos séculos IX-VIII a VI-V a.C. com bons acabamentos polidos, cujas tipologias indiciam a presença de um contexto funerário ou de santuário (Vilhena & Grangé, 2011). O cume de S. Domingos foi um santuário rural na Época Moderna, de que ainda se conservam alguns restos arquitectónicos.

Nas faldas orientais da serra, situam-se dois povoados de altura pré-romanos, possivelmente fortificados, de perfil cónico muito destacado, próximos e visíveis uma do outro: Cerro do Castelo do Vale de Gaios (Castelão, S. Luís), sobre a ribeira do Torgal (Fig. 16); Cerro do Telhado, assim chamado porque nos seus cumes geminados se encontravam muito fragmentos de barro (Fig. 17).

À sombra protectora do Cerro Telhado e junto de uma velha fonte, foi há pouco identificado um dos mais tocantes sítios da Idade do Ferro de Odemira. Trata-se do santuário rupestre de Arcaçoila, que, ainda que faltem elementos que permitam uma atribuição cronológica segura, deverá ter sido criado em período pré-romano. Num afloramento ondulado de rocha branca, foram insculpidas várias cavidades conectadas por sulcos e um grande tanque. A rocha insculpida da Maceirinha (Vilhena & Rodrigues, 2010) ilustra a presença no Sudoeste de pequenos santuário rupestres rurais «célticos» de tipo Panoias. A pouca distância dele (1500 m), existe outro afloramento de felsito branco em Arcaçoila, onde é patente novo conjunto de cavidades artificiais, de formas rectangulares e redondas, e também um tanque, esculpidos na rocha e interligados por canais (Fig. 18). Cada uma destas rochas parece conectada com um povoado de altura pré-romano, sendo o Cerro do Castelo de Vale Gaios referência maior na paisagem circundante a Arcaçoila, e o Cerro Telhado de Maceirinha, como se afirmou.

Resta abordar a questão da paleoetnologia da Idade do Ferro na região de Odemira, ou, mais correctamente, como foi reconhecida pelos antigos navegadores que do mar Mediterrâneo vieram ao Atlântico, e pelos primeiros geógrafos e historiadores greco-romanos. No mais antigo registo escrito que, sem margem de dúvida, se refere a estas costas, a Ora Maritima de Rúfio Festo Avieno, poema do séc. IV com fundamento numa descrição massaliota do litoral ocidental da Europa meridional do século VI a.C., diz-se: No litoral dos Sefes encontra-se a ilhaPetânion e um amplo porto. Depois, contíguas aos Cempsos, ficam as povoações do povo Cinético (Ferreira, 1992).

Esta Petânion deverá ser a ilha do Pessegueiro ou a paleo-ilha do Semáforo de Milfontes, o que fará do «amplo porto» a baía de Sines ou a parte vestibular do estuário do Mira. Os Saefes, ou o povo que gregos ou fenícios assim chamavam, pensa-se que foram, como os Cempsos, de etnia céltica, tanto mais que, séculos mais tarde, Estrabão e Ptolomeu descreveram todo o sul da Lusitânia ocupado pelos Celtas. A sul dos Saefes, os habitantes da região do Promontório Cinético, identificado com o cabo de S. Vicente, foram chamados de Cinéticos na Ora Maritima (Ferreira, 1992; Alarcão, 2001). Estes seriam, provavelmente, os mesmos referidos por Heródoto no séc. v a.C.: «os Celtas habitam para lá das colunas de Hércules, nas vizinhanças dos Cinésios, os últimos povos da costa do Poente» (Histórias, II, 33.3; povo repetido em IV, 49.3 com o etnónimo Cinetes). Segundo Estrabão (Geog. 3,1,6), grande parte do Algarve e também áreas do Alentejo meridional estavam habitadas pelos Turdetanos, o mais ocidental dos povos então considerados civilizados, possuidores de leis antiquíssimas e conhecedores da escrita. Possivelmente, tal referência respeita à velha escrita pré-latina do sudoeste da Península Ibérica.

Bibliografia:

ALARCÃO, Jorge de (2001) – Novas perspectivas sobre os Lusitanos (e outros mundos). Revista Portuguesa de Arqueologia, 4 (2), p. 293-349.

ALARCÃO, Jorge de (2010) – A costa portuguesa em Artemidoro. Revista Portuguesa de Arqueologia, 13. Lisboa, p. 107-123.

ARMBRUSTER, B. & PARREIRA, R. (1993) – Inventário do Museu Nacional de Arqueologia. Colecção de Ourivesaria. Do Calcolítico à Idade do Bronze, v. 1. Lisboa: Instituto Português de Museus.

ARRUDA, A. M. (2005) – O 1.º milénio a.n.e. no Centro e no Sul de Portugal: leituras possíveis no início de um novo século. O Arqueólogo Português, 4 (23). Lisboa, p. 9-156.

BEIRÃO, C. M. (1986) – Une civilisation Protohistorique du Sud de Portugal (1er Âge du Fer). Paris: De Broccard.

BEIRÃO, C. M. (1990) – Epigrafia da I Idade do Ferro do Sudoeste da Península Ibérica:novos dados arqueológicos. In A. TAVARES (ed.), Presenças Orientalizantes em Portugal – da Pré-história ao período romano (Estudos Orientais, 1). Lisboa: Universidade Nova, p. 107-118.

BEIRÃO, C. M. & GOMES, M. V. (1983) – A necrópole da Idade do Ferro de Galeado (Vila Nova de Milfontes). O Arqueólogo Português, 4 (1). Lisboa, p. 207-266.

BEIRÃO, C. M. & GOMES, M. V. (1988) – A estela epigrafada do Pardieiro, S. Martinho das Amoreiras (Odemira, Beja). Veleia, 5. Vitoria, p. 115-123.

CARDOSO, J. L. (2001) – Achados subaquáticos de defesas de elefante, prováveis indicadores do comércio púnico no litoral português. In Os Púnicos no Extremo Ocidente. Actas do Colóquio Internacional (Lisboa, 27 e 28 de Outubro de 2000). Lisboa: Universidade Aberta, p. 261-282.

COELHO-SOARES, A. (1986) – Achados arqueológicos na vila de Odemira. Trabalhos de Arqueologia do Sul, 1. Évora, p. 87-92.

CORREA, J. (1988) – Estela en escritura tartesia (o del SO.) hallada en Alcoforado (Odemira). Archivo Español de Arqueología, 61. Madrid, p. 197-200.

CORREIA, V. H. (1990) – A expansão orientalizante na fachada atlântica peninsular. Dados conhecidos e perspectivas. Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnografia, 30. Porto, p. 177-192.

CORREIA, V. H. (1996) – A epigrafia da Idade do Ferro do Sudoeste da Península Ibérica. Patrimonium/Arqueologia, 1. Porto: Edições Etnos.

CORREIA, V. H. (2001) – Viagens na minha terra.Al-Madan, 2 (10). Almada, p. 144-152.

CORREIA, V. H. (2005) – A presença orientalizante a norte do Tejo e a ourivesaria arcaica do território português. In S. CELESTINO PÉREZ & J. JIMÉNEZ ÁVILA (eds.) – El periodo orientalizante. Actas del III Simposio Internacional de Arqueología de Mérida: Protohistoria del Mediterráneo Occidental, 2(Anejos de Archivo Español de Arqueología, 35). Mérida: Instituto de Arqueología, p. 1215-1224.

CORREIA, V. H. & PARREIRA, R. (2002) – Cola. Circuito Arqueológico. Roteiros da Arqueologia Portuguesa, 8. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico.

CORREIA, V. H.; PARREIRA, R. & SILVA, A. (2013) Ourivesaria arcaica em Portugal. O brilho do poder / Archaic Jewellery in Portugal. The glitter of Power. S/l: Clube do Coleccionador dos Correios / CTT Correios de Portugal.

COSTA, J. Miguel da (1974) – O tesouro púnico-tartéssico do Gaio (Sines): novos achados. Actas das II Jornadas Arqueológicas da Ass. dos Arq. Port., 2, p. 97-120.

CUNLIFFE, B. & KOCH, J. T. (eds.) (2010) – Celtic from the West. Alternative Perspectives from Archaeology, Genetics, Language and Literature. Oxford: Oxbow Books.

DIOGO, A. M. D. (1999) – Ânforas provenientes de achados marítimos na costa portuguesa. Revista Portuguesa de Arqueologia, 2 (1). Lisboa, p. 235-248.

FABIÃO, C. (2011) – Uma história da Arqueologia portuguesa. S/l: CTT Correios de Portugal.

FERREIRA, J. R. (1992) – Orla Marítima. Avieno. Introdução, versão do latim e notas. Coimbra: INIC/Universidade de Coimbra.

GOMES, M. V. (2009) - Fragmento de estela epigrafada, da I Idade do Ferro do Sudoeste Peninsular, procedente de Sabóia (Odemira, Beja, Portugal). Arqueologia & História, 60-61, p. 143 - 148.

KOCH, J. T. (2009) – A case for Tartessian as a celtic language. InF. BELTRÁN LLORIS, J. D’ENCARNAÇÃO, A. GUERRA & C. JORDÁN CÓLERA (eds.), Acta Palaeohispanica X: Actas do X Colóquio sobre línguas e culturas paleo-hispânicas (Lisboa, 26-28 de Fevereiro de 2009) (Paleohispânica: revista sobre lenguas y culturas de la Hispania Antigua, 9). Saragoça: Institución «Fernando el Católico» / Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto, p. 339-351.

KOCH, J. T. (2009a) – Tartessian. Celtic in the South-west at the Dawn of History Aberystwyth: Universidade de Gales.

KRESTEN, P. (2004) – The Vitrified Forts of Europe: Saga, Archaeology, and Geology. In M. PECCIO et al. (ed.), Applied Mineralogy. Developments in Science and Technology. Proceedings ICAM2004, Brazil, 1. Sao Paulo, p. 355-357.

LEAL, A. B. de Pinho (1886) – Portugal Antigo e Moderno. Diccionario Geographico, Estatistico, Chorográfico, Heraldico, Archeologico, Histórico, Biographico e Etymologico, 11. Lisboa: Mattos Moreira & C.ª.

OLIVEIRA, J. T. (cood.) (1984) – Carta geológica de Portugal. Escala 1:200.000. Folha 7. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal.

PEDRERO, R. (1996) – El hidrónimo prerromano Mira. Emerita: Revista de lingüística y filología clásica, 64 (2), p. 361-374.

PEREIRA, A. R. (1990) – A plataforma litoral do Alentejo e Algarve Ocidental. Estudo de Geomorfologia. Dissertação de doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Policopiado.

QUARESMA, A. M.(2003) – Vila Nova de Milfontes – História. Vila Nova de Milfontes: Junta de Freguesia de Vila Nova de Milfontes.

RALSTON, I. (2006) – Celtic fortifications. Stroud.

SOARES, A. M. (2007) – Cavalos-de-frisa e muralhas vitrificadas no Bronze Final do Sudoeste. Paralelos europeus. In A Arqueologia Portuguesae o Espaço Europeu: balanços e perspectivas (Estudos Arqueológicos de Oeiras, 15). Oeiras, p. 155-182.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1981) - Pré-história da Área de Sines. Lisboa: Gabinete da Área de Sines, 231 pp.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1993) - Ilha do Pessegueiro. Porto Romano da Costa Alentejana. Lisboa: Instituto de Conservação da Natureza, 245 pp.

VEIGA, S. P. Estácio da (1891) – Antiguidades Monumentaes do Algarve. Tempos prehistoricos, 4. Lisboa: Imprensa Nacional.

VIANA, A. (1961) – Nossa Senhora da Cola. Notas históricas, arqueológicas e etnográficas do Baixo Alentejo. Separata de Arquivo de Beja, 16. Beja: Minerva.

VILHENA, J. (2006) – O sentido da permanência: as envolventes do Castro da Cola nos 2.º e 1.º milénios a. C.. Tese de Mestrado orientada pelo Prof. Dr. Carlos Fabião, 2 vol. Lisboa: Universidade de Lisboa, 153+52 pp.

VILHENA, J. (2008) – As armas e os barões assinalados? Reflexões em torno das necrópoles monumentais do “Ferro de Ourique” (Sul de Portugal). In F. J. JIMÉNEZ ÁVILA (ed.), Sidereum Ana I: El río Guadiana en época post-orientalizante (Anejos de Archivo Español de Arqueología, 46). Mérida: Instituto de Arqueologia de Mérida, p. 373-398.

VILHENA, J. (2008a) – As pedras lisas. Mós e moagem de cereais da Pré-história à Idade Média. In J. VILHENA, A. M. QUARESMA & A. T. GONÇALVES, A moagem de cereais em Odemira. Da Pré-história à actualidade (3 vol.). Odemira: Município de Odemira.

VILHENA, J. (2012) – Odemiraunderground. FO Magazine, 6. Odemira, p. 44-52.

VILHENA, J. (2014) – Acupunctura em Odemira: dois séculos de Arqueologia. InP. PRISTA (coord.), Ignorância e Esquecimento em Odemira. Odemira: Município de Odemira.

VILHENA, J. & GONÇALVES, M. (2011) – ‘Muralhas revestidas de cobre’. Rochas vitrificadas em povoados do Bronze Final do Sudoeste. InJ. JIMÉNEZ ÁVILA (ed.),  Sidereum Ana II: El río Guadiana en el Bronce Final (Anejos de Archivo Español de Arqueología, 62). Mérida/Madrid: Instituto de Arqueología de Mérida, p. 517-554.

VILHENA, J. & GRANGÉ, M. (2011) – Of Slags and Men. Iron mining and metallurgy in the Mira valley (Southwest Portugal) from Iron Age to the Middle Ages. InC. B. MARTINS, A. BETTENCOURT, J. I. MARTINS & J. CARVALHO (coords.), Povoamento e exploração dos recursos mineiros na Europa Atlântica Ocidental. Braga: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória / APEQ – Associação Portuguesa para o Estudo do Quaternário, p. 83-111.

VILHENA, J. & RODRIGUES, J. (2009) – O ‘grande fosso’: a escavação arqueológica no Cineteatro Camacho Costa e o Cerro do Castelo de Odemira na Idade do Ferro Tardia. In Actas do 1.º Encontro de História do Alentejo Litoral (Sines, 18-19 de Outubro de 2008). Sines: Centro Cultural Emmerico Nunes, p. 204-214.

VILHENA, J. & RODRIGUES, J. (2010) – A rocha insculpida de Maceirinha (Odemira). In Actas do 2.º Encontro de História do Alentejo Litoral. Sines: Centro Cultural Emmerico Nunes, p. 52-64.

Webgrafia:

ALVES, F.; BLOT, M. L.; RODRIGUES, P.; HENRIQUES, R.; ALVES, J.; DIOGO, A. M. D. & CARDOSO, J. (2005) – Vestígios de naufrágios da antiguidade e da época medieval em águas portuguesas. Comunicação apresentada ao Congresso do Mar (Nazaré, 1 e 2 de Abril de 2005). Texto disponível em http://www.ipsiis.net/index.php?idType=7&idMenu=14&idGroup=3 [consulta a Março 13, 2013].

Fig. 1 – Estuário do Mira, entre Odemira e a foz, com a reconstituição possível da paleo-ilha do Semáforo de Milfontes durante a Proto-história. Imagem GoogleEarth, modificado.

 

Fig. 2 – Estela 1 da Necrópole de Pardieiro (S. Martinho das Amoreiras), exemplo de epígrafe com escrita pré-latina «do Sudoeste», séc. VII-V a.C.. Exposição no Museu da Escrita do Sudoeste (Almodôvar). Foto Luís Guerreiro (C.M. Odemira, 2009).

 

Fig. 3 – Cerro do Castelo de Odemira. Vista de noroeste, na aproximação a Odemira na subida do rio Mira.

 

Fig. 4 – Castro de Nossa Senhora da Cola (Ourique), vista de sueste.

 

Fig. 5 – Elemento de adorno ou atrelagem (passa-rédeas?) de bronze de feição orientalizante, I Idade do Ferro. Escavações de Abel Viana no Castro da Cola. Foto de Abel Viana, inédito.

 

Fig. 6 – Espada de bronze, de tipo Monte-sa-Idda, do Castro da Cola. Bronze Final. Museu Regional de Beja (foto: Manuel Ribeiro – IPPAR).

 

Fig. 7 – Domínio visual do povoado de Cerro das Alminhas 1 sobre o Mira (albufeira de Santa Clara) a jusante.

 

Fig. 8 – Cidade da Rocha, vista de nascente.

 

Fig. 9 – Representação do anel de fogo em volta do cume onde Brunilde dorme, Wagner, As Valquírias (Acto III, Cena 3), Ópera de San Francisco (2014).

 

Fig. 10 – Necrópole do Pardieiro (Odemira), exemplo de arquitectura funerária do «ferro de Ourique», séc. VII-V a.C.

 

Fig. 11 – Retrato a óleo de D. Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814), bispo de Beja, e desenho de epígrafe com «escrita do Sudoeste» pertencente à colecção do Museu Sisenando Cenáculo Pacence patente no álbum de sua autoria (1800).


Fig. 12 – Estela da Alcanforado (Odemira). Biblioteca Municipal de Odemira (foto Município de Odemira).


Fig. 13 – Braceletes em ouro fundido em molde de cera perdida do Bronze Final do tesouro de Colos (Odemira). Museu Nacional de Arqueologia. Seg. Armbruster & Parreira, 1993

 

Fig. 14 – Urna cerâmica da necrópole de Galeado (V. N. Milfontes). I Idade do Ferro. Museu Nacional de Arqueologia.

 

Fig. 15 – Cerro de S. Domingos, um dos pontos mais elevados (324 m) da serra litoral de S. Luís. Santuário nas Épocas Medieval e Moderna, teve ocupação na I Idade do Ferro. O cume cónico é marcador de rumo para a navegação próxima da costa, de que dista 10 km. Vista de poente.

 

Fig. 16 – Cerro do Castelo de Vale de Gaios. Povoado de altura proto-histórico e castelo de período islâmico. Vista de norte.

 

Fig. 17 – Cerro Telhado (S. Luís), povoado de altura da Idade do Ferro em cumes geminados. Vista de norte.

 

Fig. 18 – Santuário rupestre da Maceirinha (S. Luís, Odemira). Montagem de fotos verticais.