Monte da Tumba

Freguesia/Concelho: Torrão/Alcácer do Sal

Localização:38°17'30.94"N; 8°13'43.97"W (C.M.P. 1:25.000, Folha 487)

Cronologia:Calcolítico

Povoado fortificado localizado a 1,2km da Vila do Torrão, sobre elevação em esporão, na confluência de dois cursos de água e na proximidade de solos muito férteis; ocupa uma área de 2500 a 3000 m2.

Foi objecto de cinco campanhas de escavações arqueológicas, entre 1982 e 1986, promovidas pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal e sob a direcção científica de Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares (Tavares da Silva e Soares, 1985)

O estudo de potentes sequências estratigráficas, em alguns casos com 6 metros de espessura, e a escavação em extensão (cerca de 750m2) que abarcou a maior parte da fortificação central, permitiram identificar três grandes fases de ocupação. Durante a Fase I, que deverá ter tido início no final do IV milénio ou princípio do III milénio BC e ter terminado ainda na primeira metade do III milénio (Soares e Cabral, 1987), foi construída uma muralha com 1,2 a 1,5 metros de espessura, com blocos de rocha ígnea ligados por argila, possuindo a parte superior provavelmente formada por adobes; provida de bastiões semicirculares (7 metros de diâmetro externo), defendia recinto central com cerca de 30x25m. De acordo com E. Badal (1987), a paisagem vegetal calcolítica do Monte da Tumba, mormente a da Fase I, “estaria dominada por bosque de Quercus de folha perene e pinheiros, com estrato arbustivo de Phillyrea, medronheiros e rosáceas. Nos espaços abertos do bosque desenvolver-se-ia mato de roselhas, zambujeiros, leguminosas, etc., certamente favorecido pela acção antrópica”. Os restos faunísticos do início desta fase caracterizam-se por elevada percentagem (cerca de 90%) de fauna selvagem composta sobretudo por auroque (Bos primigenius), javali (Sus scofa) e cervo (Cervus elaphus). No decurso da mesma fase, este panorama muda radicalmente: passam a predominar os animais domésticos – porcos, ovelhas/cabras, bois (Antunes, 1987).

A utensilagem lítica e cerâmica da Fase I é caracterizada pela presença de pontas de flecha de base côncava ou rectilínea, abundância de pratos de bordo “almendrado” e de crescentes em cerâmica. A cerâmica decorada é muito rara (decoração simbólica – motivos solares –, por exemplo). Verifica-se a sobrevivência de formas cerâmicas típicas do Neolítico final. Ausência de metal.

O final da fase I é marcado pela destruição de grande parte da referida muralha.

A Fase II corresponde à construção de novo pano de muralhas que circundam recinto central oval, sensivelmente com a área do da Fase I, e igualmente provido de bastiões semi-circulares, mas de menores dimensões (3,5 a 4,5 m de diâmetro), a que se acrescentam torres circulares. Os materiais utilizados são diferentes dos da primeira fase: recorre-se agora a conglomerados provenientes do substrato geológico do Monte da Tumba. O conjunto artefactual revela indiscutível continuidade cultural com o da fase anterior, embora surjam pela primeira vez peças em cobre.

Durante a Fase III é construída, sobre os derrubes da Fase II, e no centro da elevação, uma grande torre subcircular (cerca de 12 metros de diâmetro). O espólio integra-se no mesmo mundo da cultura material das fases precedentes, mas assiste-se ao aparecimento de cerâmica campaniforme pontilhada.

Bibliografia

ANTUNES, M. T. (1987) - O povoado fortificado do Calcolítico do Monte da Tumba. IV - Mamíferos (Nota preliminar). Setúbal Arqueológica, 8, p. 103-144.

BADAL GARCIA, E. (1987) - O povoado fortificado calcolítico do Monte da Tumba. III - Estudo antracológico. Setúbal Arqueológica, 8, p. 87-102.

SOARES, A.M.M. & CABRAL, J.M.P. (1987) - O povoado fortificado Calcolítico do Monte da Tumba. IV - Cronologia absoluta. Setúbal Arqueológica, 8, p. 155-165.

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1987) - O povoado fortificado calcolítico do Monte da Tumba. I - Escavações arqueológicas de 1982-86 (Resultados preliminares). Setúbal Arqueológica, 8, p. 29-79.

 

Carlos Tavares da Silva

Joaquina Soares

 

Fig. 1 A - Localização do povoado calcolítico do Monte da Tumba na CMP, esc. 1: 25000.

Fig. 1B - Localização do povoado calcolítico do Monte da Tumba, vendo-se ao fundo a Barragem de Vale de Gaio. Foto de Rosa Nunes.

 

Fig. 2 - Aspecto da fortificação central do povoado calcolítico do Monte da Tumba, Torrão. Foto C. Tavares da Silva.

Fig. 3 - Planta do Monte da Tumba (Torrão do Alentejo), um dos primeiros povoados calcolíticos da área do Sudoeste a ser escavado em extensão. Seg. C. Tavares da Silva e J. Soares, 1987. As fases de construção 1-3 são da 1ª metade do III milénio, a fase 4 corresponde ao Horizonte Campaniforme (G. Internacional) e a fase 5 é de cronologia indeterminada.

Fig. 4 - Espólio cerâmico (nºs 1-5), lítico (nº 6) e de cobre (nº 7) do nível de ocupação da cabana 51/71 do Monte da Tumba (Fase II) (C. Tavares da Silva e J. Soares, 1987).

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