Resultados

De acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal existem 73 espécies de mamíferos terrestres em Portugal, tendo 45 ocorrência potencial na área de estudo. Durante os trabalhos de campo confirmou-se a presença de 23 espécies de mamíferos (excetuando morcegos), sendo quatro insetívoros (todos os que eram potencialmente dados para a área), dois lagomorfos (coelho Oryctolagus cuniculus e lebre Lepus granatensis) (total de espécies potenciais), nove roedores (dos 10 potenciais), sete carnívoros (dos 10 potenciais) e um artiodáctilo (javali Sus scrofa). As espécies com distribuição potencial para a área de estudo, mas que não foram detetadas, são, de um modo geral, registos antigos e para os quais não há confirmação recente, como é o caso do rato-cego-lusitanico Microtus lusitanicus, ou espécies mais raras e de muito difícil deteção como é o caso do gato-bravo Felis sylvestris e do lince-ibérico Lynx pardinus.

Além das espécies acima referidas, não foi obtido igualmente nenhum registo de toirão Mustela putorius ou de veado Cervus elaphus. Embora a área de distribuição atual desta última espécie abranja a região sul do país, certamente não incluirá a área de estudo, mas apenas as serras mais para o interior, associada a introduções efetuadas em algumas zonas de caça. Devido à complexidade na análise dos sonogramas, nem sempre é possível identificar os morcegos até à espécie, pelo que no presente Atlas se considerou a identificação de um mínimo de 12 espécies.

Assim, somando este valor às 23 espécies registadas nos restantes grupos, obteve-se um total de 35 espécies de mamíferos na área de estudo. Para além das espécies de morcegos identificadas no campo, existem outras que já foram detetadas na área de estudo, mas que não foi possível registar no decorrer dos trabalhos para o presente Atlas. É o caso dos morcegos-de-ferradura-grande e mourisco, Rhinolophus ferrumequinum e R. mehely, respetivamente. Os morcegos pertencentes a este género apenas se conseguem registar com o detetor de ultrassons quando estão muito perto (como sucede também com o morcego-de-ferradura-pequeno Rhinolophus hipposideros), o que terá impedido o registo destas espécies neste Atlas. Também a ocorrência de morcego-de-peluche Miniopterus schreibersii não foi confirmada nos trabalhos de campo deste Atlas, apesar de se conhecerem abrigos desta espécie na zona do cabo Sardão.

Dentro do género Myotis também não foi possível distinguir algumas espécies, devido à semelhança das suas vocalizações, podendo encontrar-se na área de estudo espécies que são dadas para esta região, de acordo com a bibliografia. Nesta lista podemos incluir o morcego-de-franja-do-sul Myotis escalerai e o morcego-de-água Myotis daubentonii. A diversidade de espécies de mamíferos na área de estudo variou entre 1 e 27 espécies por quadrícula, tendo o valor máximo de espécies sido registado na quadrícula do cabo Sardão. Por outro lado, a zona a este de Sines e a zona entre o Burgau, Sagres e Aljezur, parecem albergar a menor diversidade de mamíferos.

Algumas quadrículas que intersetam a península de Troia têm valores de diversidade muito baixos, certamente influenciados pela elevada percentagem de mar na quadrícula. Dos 35 taxa detetados para este Atlas, apenas uma espécie ameaçada (o rato-de-cabrera Microtus cabrerae) não pertence à ordem dos quirópteros. A região que abarca a área de estudo é de alguma importância para este roedor pois é aqui que se situa uma das três grandes áreas de maior potencialidade para a espécie a nível nacional.

Três taxa correspondem a morcegos ameaçados, nomeadamente o morcego-de-ferradura-pequeno Rhinollophus hipposideros, considerado vulnerável, o grupo formado por Myotis myotis e Myotis blythii, vulnerável e criticamente em perigo, respetivamente, e o grupo dos “morcegos do género Myotis pequenos” que têm estatutos de conservação que atingem o estatuto de em perigo, no caso do morcego-de-bechstein Myotis bechsteini. De facto, o número de espécies de mamíferos ameaçados por quadrícula é de um modo geral baixo, sendo mesmo nulo em grande parte delas. As quadrículas com maior número de espécies ameaçadas (quatro) situam-se no cabo Sardão, e nas zonas de Aljezur e Rogil. Estes valores são claramente influenciados pelo número de morcegos ameaçados presentes nestas quadrículas.