Território Mesolítico do Vale do Sado. Caçadores-recolectores semissedentários

Joaquina Soares

Entre a segunda metade do VII e meados do V milénio cal BC1 (Quadro I, Fig. 3), uma população mesolítica, muito provavelmente organizada em pequenos grupos, com forte controle das taxas de natalidade e fertilidade2, estabeleceu-se na zona inferior do actual médio Sado, a montante da Barrosinha e a jusante da foz da Ribeira do Xarrama (Figs. 1 e 2), em um troço fluvial que então correspondia ao fundo do paleo-estuário do Sado. Aí manteve grande estabilidade e desenvolveu forte territorialidade. Neste espaço de abundância, em situação de ecótono, existiam numerosos e variados recursos alimentares que garantiram a subsistência dos grupos humanos ao longo de todo o ano e no decurso de mais de um milénio. Neste cenário biofísico, desenvolveu-se uma economia de caça-pesca-recolecção, muito provavelmente complementada por armazenamento. Estes grupos humanos mantiveram-se em equilíbrio demográfico-ecológico, explorando sabiamente esse vasto espectro de recursos marinhos, fluviais e terrestres, claramente polarizados por ambiente estuarino, justamente um dos tipos de ecossistema mais produtivo, cuja produtividade primária média anual (gr/m2) é de 2000 em geografia europeia (Rowley-Conwy, 1986), valor duplo do observado para a mata mediterrânea. Esta população mesolítica teve condições para resistir à adopção da economia de produção de alimentos, instalada na generalidade da Costa Sudoeste Portuguesa a partir de meados do VI milénio cal BC (Soares, 1995, 1996, 1997). Do conjunto de inovações neolíticas disponíveis selecionou e aderiu, no último quartel do VI milénio-primeira metade do V, à olaria, muito útil à prática do armazenamento em sociedades semissedentárias (Amoreiras, Cabeço do Pez, Poças de S. Bento). Este evento encontra-se comprovado por datações obtidas no concheiro de Amoreiras (Est. B, C.2) (Quadro I, Fig. 3), em contexto económico mesolítico, mas já com cerâmica impressa e pelas datações dos níveis médios e superiores do concheiro do Cabeço do Pez, tal como pelos padrões decorativos das cerâmicas impressas e incisas aí recolhidas (Figs. 24-26), característicos do Neolítico antigo evolucionado da generalidade do território hoje português. No topo dos níveis conquíferos do Cabeço do Pez (Fig. 10) foi exumado um par de mós manuais, e na camada mais superficial (C. A) da sequência estratigráfica de Poças de S. Bento (Fig. 11), cerâmica com decoração impressa e machado de pedra polida (Araújo, 1995-97, p. 105). Não é impossível que a adopção da cerâmica e da pedra polida em finais do VI e primeira metade do V milénio cal BC, como antes afirmámos, tenha sido acompanhada das primeiras formas de experimentação das técnicas agrícolas, em meio económico basicamente mesolítico (fauna exclusivamente selvagem). Atendendo aos limites mais recentes do intervalo cronológico da datação obtida para os níveis superiores de Cabeço do Pez (Quadro I, Fig. 3), podemos admitir o colapso do sistema de povoamento mesolítico do paleo-estuário do Sado em meados do V milénio cal BC.

Se a crise ambiental (Cortés Sánchez et al., 2012), associada a alterações na circulação atmosférica de amplitude supra-regional (NW de África/ Canárias /Península Ibérica), terá sido, segundo alguns autores (Cortés Sánchez et al., 2012), responsável, entre 6000 e 5000 cal BC, por aumento da aridez, redução do coberto florestal, redução da biodiversidade e da produtividade marinha no Mediterrâneo Ocidental3, criando um quadro genericamente favorável à intensificação económica, ou seja, à adopção da economia de produção de alimentos, podemos afirmar que, à escala do paleo-estuário do Sado, o tempo correu devagar.

Recusando abordagem perspectivada por determinismo geográfico, o colapso do modo de vida mesolítico no Sado não pode, no entanto, deixar de buscar explicações no ambiente físico, ou seja, na deslocalização do estuário para jusante (Freitas e Andrade, 2008), devido ao progressivo assoreamento do rio, em mudanças climáticas à escala regional que terão propiciado acréscimos de aridez e progressiva redução das manchas florestais (Fig. 4) a partir de 5500 cal BC (Mateus e Queiroz, 1997, Fig. 10). No entanto, as dinâmicas económicas e socioculturais próprias da população mesolítica do Sado, bem como a teia de relações estabelecidas com grupos vizinhos já neolitizados (Soares e Tavares da Silva, 2003 e 2004; Tavares da Silva e Soares, 2007), tiveram um papel central no processo de mudança.

O estudo das dietas das populações mesolíticas do Tejo e Sado (Arapouco, Amoreiras, Cabeço do Pez, Poças de S. Bento e Vale de Romeiras), a partir da análise de oligoelementos e isótopos estáveis de carbono e azoto dos ossos (Umbelino et al., 2007), revelou a prática de uma dieta mista, com integração de alimentos de origem marinha e terrestre, de natureza animal e especialmente vegetal (Fig. 5), mais diversificada no Sado, de acordo com a maior variabilidade dos resultados das análises de oligoelementos, e em consonância com um território mais amplo e diverso. Os recursos vegetais (tubérculos, fungos, herbáceas silvestres, frutos como a bolota) terão constituído uma componente alimentar mais importante para a população mesolítica do Sado do que para os grupos do Tejo. O consumo de carne de origem terrestre, com valores médios, equilibra-se para os dois estuários considerados, sendo no Tejo o auroque (Bos primigenius) o principal fornecedor de carne, e no Sado, o veado (Cervus elaphus) seguido pelo javali (Figs. 6, 7, 9, Quadro II) (Detry, 2002/2003a).Os recursos marinhos contribuíram em cerca de 30% para a alimentação no Sado e em 50% para a alimentação dos grupos de Muge (Umbelino et al., 2007). Na dieta mesolítica do Sado diferenciaram-se duas variantes, com distintas incidências geográficas: os habitats da margem esquerda do paleo-estuário (Arapouco, Amoreiras e Poças de S. Bento) mostraram um maior consumo de recursos marinhos, enquanto os da margem direita (Cabeço do Pez e Vale de Romeiras) revelaram um menor peso dos alimentos marinhos na dieta. Importa ter em consideração que a informação fornecida pela análise química dos ossos se reporta aos últimos 7 a 10 anos de vida dos indivíduos e tal não é consistente com o modelo proposto nos anos 80 do século XX (Arnaud, 1989) de “uma mesma comunidade, que ocupa sazonalmente os diferentes concheiros” pois se assim fosse, não deveriam ser registadas diferenças estatisticamente significativas na concentração dos elementos presentes nos ossos (Umbelino et al., 2007, p. 70).

A informação relativa às paleodietas aponta, pois, para a existência de dois sub-grupos na comunidade mesolítica do Sado, cuja estrutura de povoamento, claramente alinhada pelo estuário, possui para cada sub-grupo um acampamento de maiores dimensões, Poças de S. Bento, na margem esquerda, e Cabeço do Pez, na margem direita, a par de acampamentos de menores dimensões, dispersos pelo território, e ocupados, por hipótese, ao longo de todo o ano, onde poderiam residir pequenos grupos, gerados por fissão dos primeiros, em regime de semi-sedentarização, conforme à existência da função funerária na generalidade dos arqueossítios, e à longa duração dos mesmos. A estrutura de povoamento de cada um dos núcleos, completar-se-ia com acampamentos economicamente especializados na recolecção e/ou na caça, de curta duração, e por isso dificilmente recuperáveis pelo registo arqueológico. O sítio de Barrada do Grilo (Santos et al., 1972), sem necrópole, com fauna exclusivamente malacológica, e baixa densidade de artefactos, enquadra-se no perfil funcional descrito.

A indústria lítica até agora estudada (Cabeço do Pez, Poças de S. Bento, Cabeço do Rebolador, Várzea da Mó) aponta no mesmo sentido, ou seja, revela uma fraca especialização territorial da economia mesolítica (Marchand, 2001), estando de acordo com o modelo de povoamento que propomos: semi-sedentarizado e disperso pelo território (estabelecimentos de pequena-média dimensão ocupados ao longo do ano, complementados por acampamentos esporádicos, economicamente especializados na recolecção e/ou na caça), gerado por fissão dos dois grupos “fundadores”. Por outro lado, a indústria lítica (Figs. 21 e 22) coloca em evidência a autonomia do território no que respeita às matérias-primas minerais necessárias à sua manufactura, acentuando a identidade socioterritorial da comunidade mesolítica do Sado.

O estudo bioantropológico da população, ainda que parcial (Cunha e Umbelino, 1995-97), permite afirmar que nas áreas sepulcrais, integradas em espaço residencial, e de planta aproximadamente subcircular (Amoreiras, Vale de Romeiras e Poças de S. Bento), eram inumados adultos e não-adultos de ambos os sexos (Fig. 20), mas com claro destaque para os adultos (Cunha e Umbelino, 1995-97, Fig. 2), o que revela restrições socioculturais, nomeadamente etárias, no acesso à necrópole, pois a mortalidade infantil seria certamente elevada. Uma percentagem significativa dos inumados na necrópole de Arapouco (23%) terá falecido com mais de 40 anos. A distribuição das inumações por classes etárias observada para a população mesolítica do Tejo e para a neolítica, da Casa da Moura (Jackes e Meiklejohn, 2004) mostra evidentes similitudes, e deixa perceber em ambas as amostras a importância social dos adultos mais velhos (idade superior a 25 anos). Este comportamento característico do modo de produção doméstico e não do modo de produção de caça-recolecção simples, é um bom indicador de uma população semi-sedentarizada, cujo modo de produção temos vindo a designar como de caça-recolecção-armazenamento (Soares, 1997), ou modo de produção de caça-recolecção complexo, onde ocorre, pois, acumulação de sobreproduto económico.

Verificou-se que os enterramentos eram individuais (Figs. 13 e 19); em geral, em posição fetal, com a cabeça deposta lateralmente; excepcionalmente, observou-se no Sado, inumação conjunta de mulher e criança da 1ª infância (prováveis mortes por parto?). Os enterramentos, realizados em depressões no substrato geológico, em geral arenoso (informação de Jaime Roldão, concordante com os perfis estratigráficos disponíveis), parecem ter sido orientados radialmente face a um centro geométrico (imaginário ou materializado e hoje sem expressão no registo arqueológico), organizador da necrópole.

O mobiliário funerário não tem sido devidamente individualizado, mas temos a informação (Arnaud, 2000, p. 33) de que alguns mortos foram acompanhados por projécteis (micrólitos geométricos) e por contas de colar realizadas sobre conchas de gastrópodes (Dean, 2010, Quadro I, p. 66):All but 6 of the 55 specimens of Theodoxus were perforated for use as beads. Three of the six shells belonging to the genus Hinia were used as beads. Additionally, all four of the Trivia monacha were beads”.

A estatura média dos adultos masculinos no Sado foi estimada em 1,61m, enquanto no Tejo, se obteve o valor de 1,60m. Nas comunidades de ambos os estuários observou-se um severo desgaste dentário; em alguns casos (Arapouco) detectaram--se desgastes na dentição anterior não correlacionáveis com a mastigação o que pode indicar utilização para outra actividade, como, por hipótese, preparação de peles. Na população mesolítica do Sado detectaram-se lesões de “etiologia traumática, em indivíduos de ambos os sexos” (Cunha e Umbelino, 1995-97). Essas lesões de artrose autorizam a supor grande actividade física, nomeadamente sob a forma de frequentes deslocações com pesadas cargas.

Em síntese, a ocupação deste território iniciou-se, por hipótese, com dois pequenos grupos, estabelecidos em cada uma das margens do paleoestuário, que deixaram a sua assinatura nas necrópoles de Arapouco e Amoreiras (margem esquerda) e Vale de Romeiras (na margem direita, Fig. 17), no último quartel do VII e inícios de VI milénios cal BC. O povoamento consolidou-se em meio particularmente rico em recursos alimentares (Fig. 5), com destaque para os moluscos marino-estuarinos4 (Fig. 8), que pela sua abundância e disponibilidade ao longo do ano constituíram importante “capital de risco”(Tavares da Silva e Soares, 1997). Esta população terá atingido a fase de apogeu no decurso do VI milénio cal BC. Nesta fase, de crescimento demográfico, ter-se-á registado um fenómeno de agregação, com a constituição de dois habitats extensos Cabeço do Pez e Poças de S. Bento (Figs. 12 e 15) , os quais, por fissão subsequente, terão originado vários estabelecimentos dispersos pelo território, de pequena e média dimensão, tendencialmente autónomos e ocupados ao longo de todo o ano. Nos finais do VI e primeira metade do V milénios cal BC as populações mesolíticas do Sado reforçam os contactos com as populações do litoral Sudoeste em processo de neolitização (Fig. 27) e absorvem algumas das inovações neolíticas, comprovadamente a cerâmica (Figs. 24 a 26), bom indicador do processo de sedentarização em curso e do correlativo aumento dos índices de sociabilidade, também expressos na localização da função funerária no interior da maior parte dos habitats. Entretanto, o rio foi-se assoreando e o estuário deslocalizou-se para a foz. Durante a segunda metade do V milénio cal BC, o território ancestral é abandonado (Fig. 28). Uma nova região irá ser povoada, a jusante da primeira, entre Alcácer e a Comporta (concheiros neolíticos da Comporta), acompanhando, sublinhamos, a migração das condições estuarinas para oeste. Inicia-se o Neolítico médio, bem como um característico modo de vida anfíbio, bem adaptado a zonas estuarinas, de economia agro-marítima, onde o peso da pesca e da recolecção de marisco, herdado do Mesolítico tardio, continuará a ser dominante (Tavares da Silva, et al., 1986; Soares & Tavares da Silva, 2013).

 

1 Anotação em anos de calendário, antes de Cristo.

2Atenda-se ao diferente comportamento demográfico (diferenças quantitativas) das populações mesolíticas do Tejo (contemporâneas e culturalmente próximas das do Sado), quando comparado com as neolíticas que tumularam os seus mortos na gruta da Casa da Moura (Estremadura), no que respeita à taxa de fertilidade. Cf. Jackes e Meiklejohn (2004, Fig. 23).

3The main cause for the climatic changes that took place between 7.8 and 7.3 cal ka BP is likely related to the low Northern Hemisphere summer solar insolation, and the corresponding weakening of the monsoonal system that triggered a displacement of the Intertropical Convergence Zone (ITCZ)”(Cortés Sánchez et al., 2012, p. 9-10).

4O significativo consumo de moluscos estuarinos encontra-se bem expresso nas camadas conquíferas ou concheiros, característicos dos sítios mesolíticos do Sado e Tejo (acumulações de conchas, conservadas por efeito de dissolução de parte significativa das mesmas). No Sado, as espécies dominantes, berbigão (Cerastoderma edule) e lambujinha (Scrobicularia plana) surgem, em geral, seg. Arnaud (2000, p. 37), na proporção de 2/1. Esta proporção não foi registada no estudo da malacofauna de Amoreiras (Dean, 2010 Quadro 1), onde o berbigão detém 98,2% da totalidade do NMI, e a lambujinha é residual (mesmo tendo em consideração que a sua representação é afectada negativamente pela fragilidade da concha face às condições tafonómicas).

 

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Fig. 1 - Território mesolítico do paleoestuário do Sado com a delimitação do leito de cheia do rio. Sítios arqueológicos: 1 - Arapouco; 2 - Cabeço do Rebolador; 3 - Barrada das Vieiras; 4 - Amoreiras; 5 - Vale de Romeiras; 6 - Cabeço do Pez; 7 - Várzea da Mó; 8 - Barrada do Grilo; 9 - Fonte da Mina; 10 - Poças de São Bento; 11 - Barranco da Moura. Seg. Soares, 2013.

 

Fig. 2 - Extracto da Carta Geológica de Portugal. Folha 39-D Torrão. Levantada por Gonçalves e Antunes, 1992, na esc. 1:50.000. Apud Soares, 2013.

 

Fig. 3 - Datações radiocarbónicas do Mesolítico do paleoestuário do Sado referidas no Quadro 1. A imagem ilustra uma ocupação contínua desde a segunda metade do VII à segunda metade do V milénios BC.

Fig. 4 - Fragmento de diagrama polínico da Lagoa Travessa I (Costa Sudoeste) onde se pode observar o declínio do pinhal bravo após, aproximadamente, 5500 BC. Seg. Mateus & Queiroz, 1997, apud Soares, 2013.

 

Fig. 5 - Ciclo anual das principais actividades de subsistência de acordo com os “óptimos” sazonais dos mais importantes recursos disponíveis. Seg. Soares, 2013.

Fig. 6 - Veados reintroduzidos na região. Foto de José Costa.

Fig. 7 - Javali. Foto de José Costa.

 

Fig. 8 - Mariscador actual, recolectando bivalves no estuário do Sado. Foto de Rosa Nunes.

 

Fig. 9 - Comparação da quantidade de biomassa fornecida pelas espécies de lagomorfos e ungulados do Cabeço do Pez com a dos concheiros de Muge. Enquanto no Sado o principal fornecedor de carne foi o veado, no Tejo, foi o auroque. Seg. Detry, 2002-2003, apud Soares, 2013.

Fig. 10 - Cabeço do Pez. Cortes estratigráficos obtidos em 1983 por J. M. Arnaud. Apud Soares, 2013.

Fig. 11 - Poças de São Bento. Perfil estratigráfico. Seg. Soares, 2013.

Fig. 12 - Cabeço do Pez. Planta e alguns cortes da escavação de 1959. Há a notar: a presença de estruturas domésticas, quer em fossa, quer prováveis empedrados e ainda indícios de cabanas revestidas por argila; área de necrópole onde foram recolhidos 2 esqueletos, inumados em posição contraída. Apud Soares, 2013. Desenho de Dario de Sousa, com ligeiras adaptações, a partir de M. F. Santos, J. Soares e C. Tavares da Silva, 1974.

Fig. 13 - Desenho de esqueleto (assinalado em I na Fig. 12) que se encontrava em posição contraída com a cabeça a SSE. Seg. M. F. Santos, J. Soares e C. Tavares da Silva, 1974.

 

Fig. 14 - Várzea da Mó. Perfil estratigráfico e plano de sepultura. Seg. Marchand, 2001.

Fig. 15 - Plano da base da sequência estratigráfica de Poças de S. Bento. Adaptado de Larsson, 2010. Apud Soares, 2013. 1- Limite da área residencial (A - Área residencial; B - Necrópole). 2 - Orifícios de poste. 3 - Estruturas domésticas negativas. 4 - Grandes blocos pétreos.

Fig. 16 - Necrópole de Poças de S. Bento. Perfis (A-B) e (C-D) do talhão ‘T’. Escavações de Manuel Heleno. Desenho de Dario de Sousa. Arquivo documental do Museu Nacional de Arqueologia. 1 - Sedimento castanho, superficial, com raízes e outra matéria orgânica; 2 - sedimento castanho amarelado; 3 - sedimento negro rico em matéria orgânica; 4 - nível de concheiro (sedimento cinzento com conchas de moluscos marino-estuarinos); 5 - areia clara do substrato, onde foram abertas as fossas sepulcrais. Seg. Soares, 2013.

Fig. 17 - Necrópole de Vale de Romeiras. Planta das escavações de 1950. Desenho de Dario de Sousa. Arquivo do Museu Nacional de Arqueologia. Seg. Soares, 2013.

Fig. 18 - Amoreiras. Área escavada em 1958. Desenho de Dario de Sousa. Arquivo do Museu Nacional de Arqueologia. Seg. Soares, 2013.

Fig. 19 - Inumações de Amoreiras em posição contraída e com orientações opostas. Escavação de 1958. Desenhos de Dario de Sousa (Arquivo do Museu Nacional de Arqueologia).

Fig. 20 - Concheiros do Vale do Sado. Perfil demográfico obtido a partir dos esqueletos conservados no Museu Nacional de Arqueologia. Atenda-se à esmagadora predominância de adultos. Seg. Cunha e Umbelino, 1995-1997.

Fig. 21 - Cabeço do Pez. Indústria lítica em sílex e quartzito. Núcleos de lamelas (em cima) e de lascas (em baixo). Foto Arquivo MAEDS.

 

Fig. 22 - Cabeço do Pez. Indústria lítica em sílex. Elementos de projéctil de formas geométricas. Foto Arquivo MAEDS.

Fig. 23 - Cabeço do Pez. Espátula em osso com furo de suspensão (?). Foto Arquivo MAEDS.

 

Fig. 24 - Cabeço do Pez. Cerâmica impressa. Atenda-se à variedade de matrizes decorativas. Destaque para a técnica de boquique - nos 3 e 15, e para a temática das espigas (nos 14, 15, 16, 17, 19). Seg. Santos et al., 1974, apud Soares, 2013.

Fig. 25 - Cabeço do Pez. Cerâmicas impressas, plásticas e incisas. Seg. Soares, 2013. Fotos do arquivo MAEDS.

Fig. 26 - Cabeço do Pez. Pormenor de fragmento de recipiente cerâmico decorado pelo motivo “espigas”. Seg. Soares, 2013. Foto do arquivo MAEDS.

 

Fig. 27 – Ritmos de neolitização na Costa Sudoeste portuguesa. Interação das populações mesolíticas do Sado com os agricultores da Costa Sudoeste.

 

Fig. 28 - Construção de um território e de uma identidade mesolítica no paleoestuário do Sado. Modelo evolutivo. Seg. Soares, 2013.  Legenda: Indicadores de identidade sociocultural: 1 - territorialidade; 2 - habitats de longa diacronia; 3 - necrópoles no interior dos lugares habitados; 4 - homogeneidade dos rituais funerários; 5 - estratégias de subsistência comuns (largo espectro); 6 - homogeneidade das matérias-primas; 7 - tradição tecno-tipológica na produção artefactual.

Quadro 1 - Datações radiocarbónicas do Mesolítico do paleoestuário do Sado. Fases IA e IB - afirmação identitária da comunidade de caçadores-pescadores-recolectores mesolíticos do paleoestuário do Sado; Fase II - neolitização. Adopção de tecnologia neolítica através de processo de osmose cultural com o litoral sudoeste (exogamia?); Fase III - colapso do sistema de povoamento mesolítico. Seg. Soares, 201

* Datas de calendário calculadas a partir das datas convencionais de radiocarbono, utilizando a curva de calibração IntCal09 radiocarbon Cal (Reimer et al., 2009) através do programa CALIB REV.6.1.0 (Stuiver & Reimer, 1993) e, no caso das amostras de conchas marino-estuarinas, a curva marine 09.14c (Reimer et al., 2009), com ΔR = 0. Datas BP obtidas em Arnaud (1989), Larsson (1996), Larsson (2010) e em Umbelino, et al. 2007.

 

Quadro 2 - Fauna mamalógica do Cabeço do Pez. Escavações de Manuel Heleno. Seg. Detry, 2002-2003.