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Resultados

Foram observadas na área do Atlas 273 espécies de aves, pertencentes a 70 famílias. As espécies consideradas residentes englobam a maior proporção de entre os estatutos fenológicos considerados, abrangendo 73 espécies do total registado. O número de espécies exclusivamente invernantes foi de 56, enquanto 40 espécies foram unicamente detetadas durante a migração (espécies migradoras de passagem). Foram ainda registadas 27 espécies simultaneamente migradoras de passagem e nidificantes estivais, para além de 14 espécies exclusivamente nidificantes estivais na área. Um conjunto de 27 espécies foram consideradas migradoras de passagem e invernantes, enquanto 12 acumulam o estatuto de residente e invernante. Neste último grupo encaixam aquelas espécies cujos efetivos que permanecem todo o ano no nosso país são reforçados por importantes contingentes invernantes provenientes do norte e centro da Europa. Foram também registadas observações referentes a 15 espécies consideradas de ocorrência acidental na área do Atlas.

De assinalar ainda a presença de 6 espécies consideradas exóticas introduzidas, das quais apenas três contam com populações naturalizadas em Portugal. Desconhece-se a existência de populações estabelecidas para as restantes três espécies exóticas. Nesta contabilidade apenas não foi considerado o estatuto fenológico para o pato-casarca Tadorna ferruginea, por se desconhecer a origem do exemplar observado. Neste caso em concreto, poder-se-ia tratar de uma ave escapada de cativeiro.

Os valores mais elevados de riqueza específica foram registados na península de Sagres, secundada, a uma larga distância, pelas quadrículas que englobam as lagoas de Melides, Santo André e Sancha, e pela zona da península da Carrasqueira, no estuário do Sado. A explicação para este resultado prende-se, por um lado, com a abundância de registos suplementares obtidos na região de Sagres, decorrentes de um maior número de visitantes e de outros trabalhos em curso nesta área. Por outro lado, a península de Sagres congrega uma diversidade bastante elevada durante o período de migração outonal, servindo como local de concentração para inúmeras aves de espécies, provenientes de diferentes habitats, e que, em alguns casos, ali encontram o último ponto em terra antes de atravessar a massa de água oceânica. O elevado número de espécies que habitualmente se registam na generalidade das zonas húmidas reflete-se também nos elevados valores de riqueza específica verificados nas lagoas situadas entre Sines e Melides, e no estuário do Sado. Nos casos referidos foram registadas mais de 120 espécies por quadrícula, tendo-se atingido um valor de 184 espécies na península de Sagres.

A maioria das espécies registadas neste Atlas possui estatuto de conservação «Pouco preocupante» (106 espécies) ou não tem estatuto de conservação atribuído (89 espécies). No entanto, uma proporção bastante significativa do total de espécies observadas possui estatuto de conservação desfavorável para o território continental. De entre estas, destacam-se 12 espécies Criticamente em perigo e 13 consideradas Em perigo. As restantes correspondem aos estatutos Vulnerável (29 espécies) e Insuficientemente conhecido (6 espécies).

De entre as espécies de ocorrência regular na área do Atlas, destacam-se o papa-ratos Ardeola ralloides, o abutre-preto Aegypius monachus, a águia-imperial-ibérica Aquila adalberti, o milhafre-real Milvus milvus, o tartaranhão-azulado Circus cyaneus, a gaivina-de-faces-brancas Chlidonias hybrida e o Rolieiro Coracias garrulus, por possuírem estatuto de conservação Criticamente em perigo.

Do conjunto de espécies registadas e que possuem estatuto de conservação Em perigo, refira-se a presença regular de pato-de-bico-vermelho Netta rufina, do goraz Nycticorax nycticorax, da garça-vermelha Ardea purpurea, do britango Neophron percnopterus, do tartaranhão-caçador Circus pygargus, da águia-de-bonelli Aquila fasciata, da gaivina Sterna hirundo e da gralha-de-bico-vermelho Pyrrhocorax pyrrhocorax. De referir ainda que cinco das espécies registadas são consideradas regionalmente extintas enquanto nidificantes no nosso país: a pêrra Aythya nyroca, o flamingo Phoenicopterus roseus, o falcão-da-rainha Falco eleonorae, o galeirão-de-crista Fulica cristata e o ostraceiro Haematopus ostralegus. De realçar que ocorrem, ou ocorreram, na área estudada cinco espécies classificadas como globalmente ameaçadas, demonstrando claramente a importância de toda a região do ponto de vista da diversidade de avifauna. Estas são a águia-imperial-ibérica, o grifo-pedrês Gyps rueppellii, britango, a abetarda Otis tarda e a pardela-das-baleares Puffinus mauretanicus. Outras são classificadas como Quase ameaçadas a nível global, e incluem a pêrra, o abutre-preto, o tartaranhão-pálido Circus macrouros, a gaivota-de-audouin Larus audouinii, o maçarico-de-bico-direito Limosa limosa, o milhafre-real, o rolieiro, o maçarico-real Numenius arquata, a pardela-preta Puffinus griseus, a toutinegra-do-mato Sylvia undata e o sisão Tetrax tetrax.

As áreas onde foram observadas mais espécies com estatuto de conservação desfavoráveis são coincidentes com as áreas onde se registou maiores índices de diversidade: as lagoas entre Melides e Sines, o estuário do Sado e a península de Sagres. Também o paul de Budens, os prados entre o cabo Sardão e a Zambujeira do Mar, e os montados da Chaminé (Sines) apresentam um número de espécies ameaçadas relativamente elevado.