12- Praia da Lagoa de Santo André

12- Praia da Lagoa de Santo André (N 380 06’ 49.8’’- W 80 47’ 51.6’’)

A Praia da Lagoa de Santo André situa-se a norte da lagoa com o mesmo nome (Figura 45). A Lagoa de Santo André está inserida na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha e recebe a água de cinco ribeiras principais (ribeiras de Cascalheira, Ponte, Forneco, Azinhal e Badoca), não existindo actualmente actividade agrícola das suas margens. Tal como acontece com as lagoas localizadas mais a norte (e.g. lagoas Formosa, Travessa e de Melides) e a sul (lagoas da Sancha e de Ribeira de Moinhos) a sua formação deve-se à evolução da linha de costa durante o Holocénico. A estabilização do nível médio do mar a cotas idênticas às actuais, conduziu ao isolamento das lagoas relativamente ao oceano através do desenvolvimento de cordões litorais paralelos à linha de costa.

Figura 45- Vista aérea da Lagoa de Melides, a norte e de menor dimensão, e a Lagoa de Santo André, mais a sul (Imagem do Google Earth).

Junto ao apoio de praia (N 380 06’ 49.8’’- W 80 47’ 51.6’’) e virados para sul temos uma vista panorâmica da Lagoa de Santo André. Devido à sua grande extensão (≈2 Km2), é apenas possível observar junto ao apoio de praia as características da embocadura da lagoa (Figura 46). Esta lagoa encontra-se separada do oceano por um cordão arenoso (barreira detrítica) que junto à embocadura se traduz pela praia emersa. Mais a sul, a lagoa está isolada do oceano por um cordão dunar descontínuo que limita a parte interna da praia emersa (Poço do Ortigão e Poço dos Caniços) (Figura 45). Tal como acontece com a Lagoa de Melides, a Lagoa de Santo André encontra-se fechada ao oceano durante a maior parte do ano. Em anos excepcionais, com maior frequência de temporais no oceano e com forte precipitação, pode ocorrer a abertura natural da lagoa ao oceano. Isto deve-se ao facto do cordão arenoso que a separa do oceano diminuir de largura, como resultado da erosão da praia emersa por acção das ondas associadas ao temporal. O cordão arenoso mais estreito fica assim mais vulnerável aos episódios de galgamento pelas ondas mais altas e pode não conseguir manter a sua função de barreira face à pressão exercida pela quantidade de água doce retida no interior da lagoa. Quando tal acontece, a barreira detrítica desaparece e a lagoa fica ligada ao oceano. Contudo esta abertura é, regra geral, feita de forma artificial para renovação da qualidade da água no interior da lagoa ou para evitar o total alagamentos dos campos contíguos à lagoa. A abertura artificial é realizada nas marés equinociais da Primavera e constitui um espectáculo para as comunidades locais e para os visitantes. No início da abertura ocorre o fluxo de uma grande massa de água doce em direcção ao oceano, ocorre também o transporte de sedimentos do fundo da lagoa (areias e argilas) na mesma direcção. Constitui por isso uma oportunidade única para a observação de diferentes regimes de fluxo de transporte sedimentar (http://www.youtube.com/watch v=PA-ag4srq84). Após a abertura, é notória a existência de um canal largo (≈ 150 m) que caracteriza a embocadura da lagoa e que permite, durante os períodos de “preia-mar”, a entrada de água do oceano e de areias marinhas para o interior da lagoa. Dada a largura deste canal, apenas na “baixa-mar” é possível caminhar ao longo da praia, em direcção a sul. Nestes períodos de “baixa-mar” é ainda possível ver um leque de sedimentos provenientes do interior da lagoa e que se dispõem sob a forma de uma barra ou leque na base da face da praia, estendendo-se sobre o início da praia submarina. A recuperação da barreira detrítica e o fecho da ligação da lagoa ao oceano é lenta e dependente das condições da agitação marítima e da quantidade de precipitação atmosférica. Sendo que em invernos mais chuvosos a lagoa pode manter-se com comunicação com o oceano durante 1 a 2 meses. Em anos mais secos o episódio de abertura pode dura apenas uma semana. Ao longo do período de recuperação do cordão arenoso que separa a lagoa do oceano, a praia emersa, em frente à embocadura da lagoa, vai recuperando sedimento aumentando de cota até se formar uma berma larga. À medida que se faz a acumulação de sedimento neste local, as ondas mais altas deixam de conseguir galgar a berma e a água do mar deixa de entrar para o interior da lagoa. A lagoa inicia assim um novo ciclo, caracterizado pelo predomínio da água doce e dos sedimentos provenientes do continente.

Figura 46- Vista panorâmica para S da embocadura da Lagoa de Santo André. Note-se que a lagoa está aberta ao oceano por rompimento do cordão arenoso (praia emersa).

O perfil da praia emersa, visível em frente ao apoio de praia, apresenta uma largura média de 103 metros, apresentando habitualmente duas bermas bem desenvolvidas (Figura 47). Estas bermas sofrem erosão após a ocorrência de temporais. No período de recuperação é bem visível a inclinação das bermas em direcção a terra. Este declive, por vezes acentuado, favorece a acumulação de grandes quantidades de conchas (arribadas), associados a cascalho fino. Durante o período de recuperação o perfil da praia pode variar de convexo a côncavo, contudo o declive da face da praia mantém-se elevado, variando entre 6º e 10º.

Figura 47-Vista panorâmica para N da Praia da Lagoa de Santo André.

Na Praia da Lagoa de Santo André são habitualmente bem visíveis crescentes de praia que dão um aspecto ondulado particular à praia e que marcam a existência de fortes correntes de retorno (ou agueiros) quando a onda, depois de se espraiar na face da praia, recua rapidamente em direcção ao oceano. Estas correntes de retorno são particularmente perigosas para os banhistas, em particular em situações de “preia-mar”.

A praia emersa é maioritariamente constituídos por areias grosseiras a muito grosseiras. No topo da berma frontal é particularmente visível a presença de cascalho fino.