Resultados

Das seis espécies migradoras que podem ocorrer na área considerada quatro foram detetadas durante os trabalhos de campo e a presença das restantes foi confirmada por entrevista a pescadores. Entre estas espécies, destaca-se a enguia-europeia Anguilla anguilla um migrador diádromo, por ter sido amostrada em maior abundância.

Todas as espécies exóticas que podem ocorrer na área de estudo foram detetadas durante o trabalho de campo. Entre elas destaca-se a perca-sol (Lepomis gibbosus) pelo seu carácter infestante, pois é uma espécie extremamente resiliente que exerce uma pressão muito significativa sobre as restantes espécies de peixes autóctones e sobre as espécies de anfíbios, por se alimentar das suas posturas e alevins. A sua voracidade associada ao facto de ser vetor de dispersão de um conjunto de iridovírus, que afetam muito negativamente as populações de anfíbios, coloca a perca-sol no topo da lista dos desastres ambientais presentes nos rios europeus. Por ser uma espécie que beneficia muito da regularização dos caudais dos rios e por ser resistente ao aumento da temperatura e eutrofização do meio aquático, a deteção de populações de perca-sol deve ser sempre tida em consideração no planeamento e gestão dos sistemas aquáticos continentais.

Todas as seis espécies autóctones estritamente dulçaquícolas dadas para a região, foram identificadas durante o trabalho de campo. Destacam-se o escalo-do-mira (Squalius torgalensis) e a boga-do-sudoeste (Iberochondrostoma almacai) por serem espécies endémicas das linhas de água amostradas e, como tal, representarem um património único das ribeiras do Sudoeste de Portugal. Destaca-se ainda a identificação de boga-lusitânica (Iberochondrostoma lusitanicum) nas ribeiras litorais presentes a norte do rio Mira. Esta é a espécie irmã da boga-do-sudoeste partilhando muitas das suas características morfológicas e património genético.

Entre as espécies que ocorrem nas linhas de água presentes na área de estudo, durante o trabalho de campo foi registada pontualmente uma grande abundância de escalo-do-mira e de boga-do-sudoeste, o que indica claramente a relevância do troço terminal do rio Mira e das ribeiras litorais do oeste do Alentejo para a preservação destes endemismos. Também foram capturadas em quantidade a boga-lusitânica e a verdemã-comum (Cobitis paludica), que são espécies com elevado valor do ponto de vista da conservação da natureza.

Apesar de ter sido notado um grau médio-elevado de perturbação do meio aquático nas linhas de água existentes na área de estudo, estas continuam a ser um refúgio de grande importância para valores naturais que não ocorrem em mais nenhum local na terra. Deste modo é imperativa a sua preservação e gestão no sentido de se garantirem condições de sobrevivência de populações saudáveis das espécies autóctones.