Troço entre Tróia e Sines

Ambiente geomorfológico

O troço de Troia e Sines é fortemente influenciado pela presença do rio Sado. Esta massa fluvial tem uma grande capacidade de carga e introduz uma grande quantidade de sedimento em meio marinho que posteriormente integra a deriva costeira. O substrato predominante no intertidal e circatidal nesta faixa costeira é areia, surgindo muito pontualmente afloramentos rochosos que permanecem submersos.

Biótopos intertidais

O elevado hidrodinamismo a que esta linha de costa está exposta tem uma elevada influência sobre o intertidal por não permitir a sedimentação de matéria orgânica. Assim, nesta linha de costa os povoamentos intertidais, não incluem macroalgas nem bancos de plantas marinhas e formam comunidades pouco densas e representadas por poucas espécies de isópodes e anelídeos.

A zona infralitoral é composta por extensos areais pontualmente interrompidos por pequenos afloramentos rochosos. Nestes afloramentos rochosos surgem povoamentos de macroalgas verdes (principalmente Codium spp. e Ulva sp.), vermelhas e pontualmente algas castanhas como a laminária Saccorhiza polyschides, surgem povoamentos densos de mexilhão (Mytilus galloprovincialis), indivíduos dispersos de anelídeos sésseis como os espirógrafos (Sabella pavonina), estrelas-do-mar (por exemplo Asterias rubens), ouriços-do-mar (por exemplo Paracentrotus lividus) e gorgónias (por exemplo Eunicella verrucosa, cenouras-do-mar (Veretillum cynomorium), e esponjas (por exemplo Axinella polypoides, Axinella verrucosa e Geodia cydonium).

Biótopos infratidais

Na zona de Tróia, em profundidades mais elevadas, abaixo dos 10-15m, nas áreas em que a influência da ondulação é reduzida, surgem pequenos povoamentos de leques-do-mar (Atrina pectinata) e penas-do-mar (Pennatula phosphorea).

No que diz respeito à ictiofauna, as espécies mais abundantes nas áreas de areal não são gregárias ou, quando o são, formam pequenos grupos, e surgem bem adaptadas à vida em substrato arenoso. Estas espécies, face à ausência de abrigos, desenvolveram características crípticas típicas como corpos achatados e com padrões pigmentares que as ocultam em meio arenoso. Entre estas espécies destacam-se os pleuronectiformes como os linguados (Solea spp.), rodovalhos (Lepidorhombus whiffiagonis), raias (Torpedo spp.) e solhas (Pleuronectes platessa) que expressam um elevado grau de especialização morfológica a ambientes arenosos. Surgem também charrocos (Halobatrachus dydactilus), peixes-pau (Callionymus spp.), peixes-lagarto (Synodus saurus), peixes-aranha (Trachinus spp.), góbios (Gobius gasteveni), tainhas (Chelon labrosus, Mugil cephalus, Liza spp.), robalos-pintados (Dicentrarchus punctatus) e, nas áreas mais próximas dos estuários dos rios Mira e Sado, surgem também corvinas (Argyrosomus regius) que podem formar grandes cardumes.

As comunidades marinhas presentes no circatidal das áreas de areal que surgem no troço entre Tróia e Sines são pouco densas e de um modo geral pouco diversas, exceto nas áreas mais diretamente afetadas pela presença dos estuários dos rios Sado e Mira. Nestas áreas, a riqueza em nutrientes tem um efeito agregador de fauna detritívora e seus predadores. Fora da influência direta destes estuários, os biótopos surgem muito empobrecidos pela quase ausência de produtores primários macroscópicos e de fontes de nutrientes com a mesma dimensão.