Museologia Regional – MAEDS

Joaquina Soares

Embora o MAEDS tenha a sua sede fora da geografia abrangida pelo presente Atlas, a Costa Sudoeste Portuguesa tem constituído o seu principal território de intervenção arqueológica; nos últimos 40 anos reuniu um acervo, informação e know-how da maior importância para o edifício cultural do Alentejo litoral e Costa Vicentina (Fig. 2).

O Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal foi fundado, pela Junta Distrital de Setúbal, no quadro da democratização do país, iniciada com a Revolução de 25 de Abril, do mesmo ano. Foi integrado na Associação de Municípios da Região de Setúbal em Novembro de 2014; decisão superiormente ratificada pelo Despacho nº1953/2015 publicado no Diário da República II Série, nº 39 de 25 de Fevereiro.

O desenvolvimento da investigação arqueológica levou à criação do Centro de Estudos Arqueológicos, estrutura científica descentralizada, com uma equipa permanente, cuja actividade se reparte pelo domínio da aplicação - actuando em situações de emergência e salvamento segundo a óptica da compatibilização do desenvolvimento urbano-industrial com a defesa do património - e pela área da pesquisa fundamental, orientada pelos projectos de longo termo desenvolvidos, regra geral, de parceria com instituições congéneres: A transição das comunidades mesolíticas para as primeiras sociedades agrícolas/processo de neolitização na costa sudoeste portuguesa; Calcolítico do Sul de Portugal; a feitoria fenícia de Abul e as rotas comerciais fenícias no Atlântico; produção de preparados piscícolas na Época Romana, ao longo da costa sudoeste portuguesa; pré-existências da cidade de Setúbal. O MAEDS organizou e/ou co-participou em mais de uma centena de escavações arqueológicas.

A perspectiva teórica que enforma a actividade do MAEDS defende para a instituição museológica um protagonismo não só no plano cultural, mas também no desenvolvimento económico-social regional. Vários programas de mobilização dos bens culturais de carácter material e imaterial, enquanto recursos económicos, têm sido considerados com sucesso, importando implementar esta linha de acção.

O Museu possui um valioso acervo representativo do Distrito de Setúbal nos domínios arqueológico e etnográfico e ainda algumas peças de arte contemporânea.

Arqueologia (Figs. 3-9): colecções pré-históricas (Paleolítico inferior e médio, Epipaleolítico, Mesolítico, Neolítico, Calcolítico, Idades do Bronze e do Ferro), romanas e pós-romanas. Etnografia (Figs. 11-12): artefactos relativos às actividades tradicionais de pesca, recolecção, salicultura, criação de gado, agricultura, fiação e tecelagem, arte popular e artesanato rural e urbano.

ORGANIZAÇÃO SECTORIAL:

1.1 - EXPOSIÇÃO PERMANENTE COMPLEMENTADA POR EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS – em horário fixo de abertura ao público. Neste espaço decorrem visitas livres e guiadas, workshops, aulas e cursos especializados, conferências, acções performativas diversas, ateliês pedagógicos.

A exposição permanente é constituída por um sector de Arqueologia e outro de Etnografia. O número de peças museológicas apresentadas ao público é de 2203 (1768 no sector arqueológico, 405 no etnográfico e 30 peças de arte comtemporânea).

As exposições temporárias têm em geral a duração de 2-3 meses e a sua diversidade temática contribui para a renovação de públicos.

1.2 - ARQUEOSSÍTIOS VISITÁVEIS – O MAEDS realiza escavações arqueológicas, intervenções de valorização e de apresentação pública, produção de materiais informativos e publicações de carácter monográfico, e assegura a contínua conservação das seguintes jazidas arqueológicas:

1.2.1- COMPLEXO DE SALGAS ROMANAS DO CREIRO (ARRÁBIDA)

Construído durante o séc. I d.C. manteve-se em laboração até aos sécs. IV/V d.C.. Localizou-se junto de um porto natural (Portinho da Arrábida). Com fraca acessibilidade por via terrestre, o Creiro é, claramente, um estabelecimento de vocação marítima: pesca e produção de preparados piscícolas. Foi concebido como uma instalação dotada de relativa autonomia na óptica da fileira produtiva das salgas de peixe apresentando unidades fabris, armazéns (conjunto de compartimentos, de planta rectangular, com funções de armazenamento de sal, pescado, redes e outros), balneário, sistema de captação e armazenamento de água (cisterna, poço) e rede de canalizações.

Visitada por milhares de veraneantes e pela população escolar da região, esta é a única jazida arqueológica da Serra da Arrábida que actualmente oferece condições de visitabilidade e de fruição cultural para um público alargado.

1.2.2 - CASTRO DE CHIBANES (PALMELA)

Apresenta a seguinte sequência de ocupações: – 3º milénio A.C. – Idade do Cobre; – séculos III-II a.C. – II Idade do Ferro e período romano republicano. Trata-se da mais importante jazida arqueológica pré e proto-histórica da Península de Setúbal, onde se sobrepõem três fortificações: a primeira da Idade do Cobre com cerca de 4700 anos; a segunda pertence à Idade do Ferro, do século III antes de Cristo e finalmente a última intervenção arquitectónica militar a coroar o troço da crista da Serra do Louro abrangido pelo arqueossítio foi realizada durante a conquista romana, no século II antes de Cristo, no âmbito do avanço para norte dos exércitos romanos conduzidos por Décimo Júnio Bruto

1.2.3 - CALÇADA ROMANA DO VISO (SETÚBAL)

A calçada do Viso, atendendo à sua técnica de construção, remonta à época romana. Fazia parte da via que segundo o Itinerário de Antonino (séc. III) partia de Equabona (Coina), porto fluvial que assegurava a ligação a Olisipo (Lisboa), passava por Caetobriga (Setúbal) em direção a Salacia (Alcácer do Sal), Ébora (Évora), atingindo por fim Emerita Augusta (Mérida), a capital da província da Lusitânia.

A rede viária romana comportou-se como um sistema fundamental de comunicação em tão vasto império, desempenhando papel relevante não só do ponto de vista de controlo político-militar e administrativo (Instrumento do fisco), mas também no que concerne às funções económicas e de organização territorial.

1.3 - BIBLIOTECA – Especializada em Arqueologia, possui 8721 registos informatizados. Encontra-se aberta ao público no horário do museu.

Este acervo é constituído em mais de 95% pelo resultado das permutas bibliográficas mantidas pelas publicações periódicas do museu, nomeadamente, Setúbal Arqueológica e MUSA - Arqueologia, Museus e Outros Patrimónios (Fig. 16).

1.4 - SERVIÇO DE DIFUSÃO CULTURAL – Desenvolve o seu trabalhono interior (Figs. 11-13) e no exterior do edifício do museu (Fig. 15), especialmente em sítios arqueológicos conservados pelo MAEDS, como os já referidos complexo de produção de salgas romano do Creiro (Arrábida), calçada romana do Viso (Aldeia Grande), Castro de Chibanes (Palmela), e também no Centro Histórico de Setúbal.

Este Serviço Educativo presta apoio às escolas da região (ensino pré-escolar a secundário, ensino profissional e universitário), não só através da orientação de visitas ao museu e ao património cultural exterior, como por via de acções desenvolvidas na escola (programa“O Museu vai à Escola”) e do acompanhamento de estágios curriculares e de mestrados.

1.5 - CENTRO DE ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS (CEA) – Este é o centro de investigação do museu, o seu serviço mais qualificado, onde se produz conhecimento e inovação que alimenta a sua intervenção social. Privilegia multidisciplinaridade e trabalho em parceria, tem desenvolvido projectos de investigação com diversas universidades estrangeiras (p. ex. Alberta e Bordéus) e portuguesas (FCSH da Universidade Nova de Lisboa, FL da Universidade de Lisboa, Universidade de Évora (Laboratório Hércules), Universidade de Coimbra).

1.5.1 - O CEA CONTA COM ALGUNS SERVIÇOS TÉCNICOS DE APOIO COMO:

1.5.1.1 - Laboratório de Conservação e Restauro – Especializado em cerâmica e metais.

1.5.1.2 - Serviços de Desenho Arqueológico, Design Gráfico e Fotografia – Onde se procede ao desenho arqueológico e fotografia de materiais, à manutenção do site do MAEDS e à composição gráfica das edições.

1.5.1.3 - Reservas – Onde searquivam peças em circulação para efeito de exposições temporárias e o acervo do museu que não se encontra exposto ao público. Estão arquivados e inventariados 50.100 artefactos arqueológicos (ficheiro informático) e ainda aquivados, por inventariar grande parte dos materiais, os seguintes arqueossítios: Foz do Burrinho, Barragem do Morgavel, Feiteira de Cima, Montes de Baixo, Castro da Nossa Senhora da Cola, Herdade das Antas, Praia da Carraca, Praia das Galés, Pedra do Patacho, Quitéria, Vale Pincel, Cemitério dos Mouros, Aivados, Vale Vistoso, Águas da Moita, Praia dos Nascedios, Necrópole da Provença, Necrópole da Quitéria, Ilha do Pessegueiro, Salema, Espigão, Monte Novo, Praia da Oliveirinha, Santa Marinha, Vale Marim.

1.5.2 - O CEA COORDENA PROJECTOS MUSEOLÓGICOS E PATRIMONIAIS À ESCALA REGIONAL:

1.5.2.1 -Forum Intermunicipal do Distrito de Setúbal (FIDS). Rede museológica constituída por técnicos de património representantes dos municípios do distrito de Setúbal.

1.5.2.2 - Atlas do património cultural do Alentejo Litoral e Costa Vicentina. Projecto intermunicipal da iniciativa da CIMAL.

1.5.3 - O CEA DESENVOLVE PROJECTOS DE INVESTIGAÇÃO PLURIANUAIS COMO:

1.5.3.1 - CIB – Chibanes no contexto da Arqueologia na Península da Arrábida.

1.5.3.2 - Preexistências de Setúbal. Projecto de arqueologia urbana de larga diacronia e duração. Nele se integram várias intervenções de salvamento realizadas anualmente no subsolo da cidade de Setúbal. No corrente ano está em curso a escavação dos nºs 170-178 da Av. Luisa Todi.

1.6 - PÚBLICOS – Os públicos do museu que participam directamente nas suas actividades atingem o nº de 16.307 visitantes/ano (média anual dos últimos três anos).

Os públicos que frequentam e utilizam conteúdos web do museu foram de 37.317 utentes/ano (média anual dos últimos três anos).

2 - INSTALAÇÕES

2.1 - MAEDS – Encontra-se em imóvel com uma área útil de 1.015m2, que em breve será expandida para os 1.300 m2. Em processo de aquisição pela AMRS (Fig. 1).

2.2 – LOTE DA RUA ANTÓNIO JOAQUIM GRANJO/TRAVESSA DAS FARINHAS – Lote contíguo ao edifício do museu, com uma área de implantação de cerca de 78m2 e viabilidade de construção de 78m2X 4 =312m2, destinado à instalação da nova recepção, e à construção de coluna de acessos (escada e elevadores) para o público e para cargas, de forma a servir e ampliar também as áreas disponíveis quer no sector expositivo, quer no Centro de Estudos Arqueológicos. Foi oferecido, livre de quaisquer encargos e ónus, por Augusto Loureiro Inácio e Maria Adelaide Rosa Pescaria à Assembleia Distrital de Setúbal com destino ao MAEDS conforme explicitado em escritura pública.

2.3 - CASA DOS MOSAICOS ROMANOS – No âmbito do projecto de arqueologia urbana sobre as preexistências de Setúbal que o MAEDS tem vindo a desenvolver, desde a sua fundação, foram realizados trabalhos arqueológicos que puseram a descoberto os primeiros mosaicos da época romana encontrados em Setúbal, no nº 19 da Rua António Joaquim Granjo. Pela sua importância para a história da cidade, este espaço está em curso de musealização (Fig 10).

2.4 - RESERVAS – O MAEDS dispõe de uma área de reservas com cerca de 500m², em regime de arrendamento assegurado pela Câmara Municipal de Setúbal em troca das antigas reservas propriedade da ADS, demolidas por aquela autarquia, por imperativo de renovação do Largo José Afonso.

Fig. 1 - Em cima: Sala Regional de Arqueologia. Em baixo: fachada parcial do edifício do MAEDS. Fotos de Arquivo MAEDS.

 Fig. 2 – Principais intervenções arqueológicas organizadas e/ou co-participadas pelo MAEDS.

 Fig. 3 – MAEDS. Colecção de arqueologia. Vaso do Neolitico antigo de Vale Pincel I. Foto de Rosa Nunes.

 Fig. 4 – MAEDS. Colecção de arqueologia. Pendente com dois coelhinhos geminados (símbolo da fertilidade), esculpidos em osso. Necrópole do Neolítico final-Calcolítico da Lapa do Bugio (Sesimbra). Finais do IV/inícios do III milénios A.C.. Escavações arqueológicas dirigidas por Octávio da Veiga Ferreira; estudo de João Luís Cardoso. Foto de Rosa Nunes.

 Fig. 5 - MAEDS. Colecção de arqueologia. Corniformes do povoado do Neolítico final e Calcolítico da Ponta da Passadeira (Barreiro). Último quartel do IV e 1ª metade do III milénio A.C.. Escavações arqueológicas do MAEDS/CEA, dirigidas por Joaquina Soares. Foto de Rosa Nunes.

 Fig. 6 - MAEDS. Colecção de arqueologia. Projecto de Investigação Arqueológica – CIB, desenvolvido no Castro de Chibanes pelo MAEDS/CEA, sob a direcção de Joaquina Soares. Em cima: cadinho de fundição de contorno circular, provido de pés e goteira, com cobre aderente. Grupo Estilístico de Palmela do Horizonte Campaniforme. Ca. 2250 A.C.. Em baixo: vista parcial da muralha calcolítica. Fotos de Rosa Nunes.

 Fig. 7 - MAEDS. Colecção de arqueologia. Vasos funerários de necrópoles de cistas da Idade do bronze médio do Sudoeste Ibérico. Meados do II milénio A.C.. Escavações arqueológicas dirigidas por C. Tavares da Silva e J. Soares. Foto de Rosa Nunes.

 Fig. 8 - MAEDS. Colecção de arqueologia. “Queimador de perfumes” em cerâmica, do depósito votivo da 2ª Idade do Ferro de Garvão (Ourique). Século III A.C.. Escavações arqueológicas dirigidas por C. de Mello Beirão, C. Tavares da Silva, J. Soares, M. Varela Gomes e R. Varela Gomes. Foto de Rosa Nunes.

 Fig. 9 - MAEDS. Colecção de arqueologia. Inscrição fenícia em taça de cerâmica cinzenta da feitoria fenícia de Abul (Baixo Sado). Século VII A.C.. Escavações arqueológicas dirigidas por C. Tavares da Silva e Françoise Mayet. Foto de Rosa Nunes.

 Fig. 10 - Mosaico romano dos finais do século II/III d.C., da área urbana de Setúbal. Escavações do MAEDS/CEA, dirigidas por Carlos Tavares da Silva. Foto de Rosa Nunes.

Fig. 11 - Sector de Etnografia do MAEDS. Em cima: jangada de S. Torpes e nassas, bem como pintura e informação contextualizante. Em baixo: aula do curso Traço a Traço/2015. Fotos de Arquivo MAEDS.

 Fig. 12 - Sector de Etnografia do MAEDS. Em cima: espaço dedicado à agricultura e criação de gado. Em baixo: aula do curso Traço a Traço/2013. Fotos de Arquivo MAEDS.

 Fig. 13 - Os programas de divulgação cultural do MAEDS levam impressas problemáticas relacionadas com o desenvolvimento regional e com a salvaguarda da memória colectiva. Em cima, à esq.: aula do Summer School “Arrábida Arqueológica”, à dir. Seminário sobre a vocação portuária de Setúbal, em perspectiva de tempo longo. Ao centro, inauguração de exposição de Emília Nadal. Em baixo, conferencia “Arrábida Pré-histórica” por Joaquina Soares. Fotos de Arquivo MAEDS.

 Fig. 14 - Acompanhamento arqueológico e projecto artístico desenvolvidos pelo MAEDS/CEA no Baluarte de Nª Sª do Livramento quando da sua adaptação a Escola de Hotelaria. Fotos de Rosa Nunes e Ana Férias.

 Fig. 15 - O MAEDS fora de portas. Muito do trabalho educativo do MAEDS realiza-se no exterior, em parceria com instituições congéneres e com estabelecimentos de ensino. Fotos de Arquivo MAEDS.

Fig. 16 - Publicações. O MAEDS edita a revista “Setúbal Arqueológica”, co-edita a revista “Musa. Museus, Arqueologia & Outros Patrimónios”, em parceria com o Fórum InterMuseus no Distrito de Setúbal, bem como publicações monográficas e ocasionais e catálogos de exposições.