BACIA DO ALGARVE

A bacia mesocenozóica do Algarve é uma entidade geológica com cerca de 150 km de extensão e 30 km de largura na sua porção emersa, tem uma orientação E-W e localiza-se no extremo S da área coberta pelo Atlas. Ao longo da bacia do Algarve afloram rochas sedimentares e algumas rochas vulcânicas, abrangendo um intervalo de idade de mais de 200 milhões de anos (Ma) desde o período Triásico na base era Mesozóica até aos sedimentos recentes do período Quaternário, no topo da era Cenozóica. O seu preenchimento sedimentar corresponde ao enchimento de duas bacias, com estruturações e evoluções diferentes, uma de idade cenozoica que inclui a sedimentação ligada à segmentação da Pangeia e à subsequente evolução do Oceano Atlântico, formada num período em que a região se encontrou sob o efeito de esforços distensivos e uma bacia cenozoica desenvolvida já após a inversão tectónica da bacia mesozóica. Na zona abrangida por este atlas é possível encontrar afloramentos de rochas do Triásico ao Cretácico inferior, relativas ao preenchimento da bacia mesozoica e rochas do Miocénico até ao Quaternário do preenchimento da bacia cenozoica, no sector de Sagres-Vila do Bispo.

No final do Paleozóico, todas as massas continentais se aglomeraram dando origem a um super-continente, designado Pangea, rodeado por um grande mar de nome Pantalassa. A partir do Triásico, a tendência para a aglomeração dos continentes numa única entidade inverte-se e o supercontinente começa a fragmentar-se; processo que culminará com a configuração atual das massas continentais e dos oceanos. Na zona correspondente ao extremo SW de Portugal a fragmentação desse supercontinente esteve associada à deposição de séries sedimentares inicialmente continentais (Triásico), que evoluíram gradualmente para séries depositadas em ambientes de transição até ambientes marinhos (Jurássico). Este ciclo tectono-sedimentar prossegue até ao final do Cretácico, com algumas interrupções responsáveis pelo desenvolvimento de estruturas inversas nesse período essencialmente extensivo.

O registo sedimentar inicia-se com a deposição de uma unidade constituída por arenitos e conglomerados de cor avermelhada, com argilitos vermelhos na base (Arenitos de Silves), sobre a qual assenta uma série argilosa espessa, com margas bicolores (verdes e vermelhas) e dolomitos lenticulares intercalados, especialmente para o topo. A sul da linha Sagres-Algoz-Tavira encontra-se uma espessura apreciável de rochas evaporíticas (também testemunho do carácter árido do clima na época). A este complexo margo-carbonatado encontra-se associada uma série Vulcano-sedimentar caracterizada pela presença de rochas vulcânicas básicas (escoadas, piroclastos, brechas explosivas).

A sedimentação prossegue no Jurássico inferior (Lias) com a deposição de rochas carbonatadas, de natureza variada, testemunho de condições cade vez mais marinhas na bacia de sedimentação. Até ao Toarciano as formações são constituídas por calcários, mais ou menos margosos, com diferentes graus de dolomitização, alguns com nódulos de cherte intercalados. Os depósitos mais recentes do Jurássico inferior correspondem a calcários margosos e margas, com abundantes fósseis marinhos, testemunhando um claro aprofundamento da bacia.

Durante a passagem do Jurássico Inferior (Lias) ao Jurássico Médio (Dogger) os sedimentos da bacia encontram-se sujeitos a um evento erosivo forte, marcado por uma superfície de ravinamento que afeta as formações mais recentes do Lias, sobre a qual se inicia a deposição dos sedimentos do Jurássico Médio após um hiato que ocorre em toda a bacia.

Os sedimentos do Dogger caracterizam-se no sector de Sagre-Vila do Bispo por corresponderem a sedimentos marinhos francos, de natureza carbonatada. Os mais antigos terão sido depositados em ambiente confinado onde terão sido erodidas construções calcárias (recifes de coral) pré-existentes. Este ambiente de pequena profundidade terá evoluído para condições ambientais que permitiram a instalação de organismos construtores de recifes, tendo para o final do Jurássico médio passado a condições de maior profundidade com a sedimentação de margas e depósitos turbidíticos de natureza carbonatada.

À semelhança de toda a Península Ibérica, o Jurássico médio termina, neste sector da Bacia Algarvia por um evento regressivo, visível nas arribas de Sagres- Vila do Bispo através de uma superfície de erosão intensa sobre a qual se depositam os sedimentos do Jurássico Superior (Malm). A sedimentação durante o Malm é fundamentalmente carbonatada, associada a um ambiente marinho franco, encontrando-se rochas como calcários compactos, calcários margosos, calcários dolomíticos, com variáveis conteúdos fossilíferos, por vezes com nódulos de natureza variada (v.g. cherte; fosfatos).

O Jurássico termina com outro evento erosivo acentuado após o qual se deposita o Cretácico que, neste sector da bacia, se encontra representado apenas pelos sedimentos do Cretácico Inferior. O registo sedimentar inicia-se pela deposição de margas e calcários formados em ambiente lagunar, margino-litoral, ao qual se seguem uma conjunto de formações calcárias de ambientes com energia variável, e com maior ou menor importância da componente detrítica.

Sobre a sequência sedimentar do Mesozóico, atrás descrita, assentam em discordância angular os depósitos do Neogénico, que no sector de Sagres-Vila do Bispo correspondem a sedimentos de idade Miocénica. Estes depósitos são, na sua maioria, calcários muito compactos com abundante conteúdo macrofossilífero. A ocorrência destes sedimentos do Miocénico está frequentemente limitada por falhas e encontram-se, por vezes, carsificados. A discordância angular que separa os depósitos do Mesozóico dos sedimentos do Neogénico está associada ao evento de inversão tectónico da bacia mesozóica, que terá ocorrido a partir do final do Cretácico, durante o qual a Bacia Algarvia deixou de estar sujeita a esforços distensivos e passou a estar sujeita a compressão, devido às mudanças ocorridas ao longo da fronteira de placas da Eurásia e da África.

Ao longo deste atlas encontrar-se-ão descritos os pontos da Bacia Algarvia, no sector Sagres-Vila do Bispo, com maior interesse geológico/geomorfológico.